PREÂMBULOS GEOGRÁFICOS, HISTÓRICOS, ANTROPOLÓGICOS E ARQUEOLÓGICOS DO VALE DO PARAÍBA
O Patrimônio Cultural foi
negligenciado historicamente no Brasil e em particular na cidade de Jacareí. A
política cultural gerenciada por classe dirigente dominante com cultura
política fundamentada na exploração do bem natural e público, na violência
física para manutenção de exploração humana com o sistema escravista, no coronelismo
implementado desde o século XIX; representada no século XX por imigrantes e migrantes
oriundos de várias regiões brasileiras, em função da industrialização do Vale
do Paraíba; neste século XXI submete o Poder Público Constituído e o mercado
local às suas necessidades estruturais de manutenção de empregos e negócios. Visto
ser essa política cultural, resultado de anseios políticos de classe dirigente descrita
e caracterizada historicamente; configura-se desprovida de mecanismos de
reconhecimento acerca da importância da historicidade Jacareiense; e sempre intermediou
o contexto social, o desenvolvimento econômico da cidade e o reconhecimento do
pleno exercício da cidadania no âmbito da proteção e preservação do Patrimônio
Cultural.
A determinação do capital
internacional promoveu a extinção dos povos originários, deu origem às cidades
e ao processo de desenvolvimento destas, traçou a trajetória e garantiu a
manutenção no poder de grupos oligárquicos, institucionais e chefes locais, no
Vale do Paraíba. Na concepção de Caio
Prado Júnior,
“...vista
no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de
uma empresa comercial, destinada a explorar os recursos naturais de um
território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido
da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará
os elementos fundamentais, tanto no social como no econômico, da formação e
evolução histórica dos trópicos americanos. Se vamos à essência da nossa
formação, veremos que na realidade nos
constituímos para fornecer açúcar,
tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro e diamante; depois algodão, e
em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado
para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse
daquele comércio, que se organizarão a sociedade
e a economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem
como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um
negócio; inverterá seus cabedais e
recrutará a mão-de-obra de que precisa:
indígenas ou negros importados. Com tais elementos, articulados numa organização
puramente produtora, mercantil, constituir-se-á a colônia brasileira.
Este
início, cujo caráter manter-se-á dominante através dos séculos da formação
brasileira, gravar-se-á profunda e totalmente nas feições e na vida do país.”(PRADO
JR., 1986)
Através da iconografia e
narrativas religiosas, de viajantes pesquisadores e cronistas que pelo Vale do
Paraíba passaram á partir da invasão territorial praticada pelo colonizador
português, encontramos literatura que nos informa sobre os povos nativos
componentes das sociedades humanas que habitavam o Vale do Paraíba no início da
colonização portuguesa. Além da literatura da época, as pesquisas arqueológicas
que raramente são executadas e disponibilizadas para a grande maioria da
sociedade, revelam sempre novidades acerca dos povos que na região habitaram, e
significam nesse século XXI a fonte mais importante para a busca de
reconhecimento e compreensão da história de culturas antepassadas que, com suas
tradições, usos e costumes, colaboraram na formação diversificada, pluralista e
homogênea da composição do Patrimônio Cultural do homem do Vale do Paraíba.
Os povos que ocupavam a costa litorânea do continente americano e zonas
adjacentes internas no século XVI foram descritos por Alfred Métraux como:
“...aborígines,
cuja língua e civilização material apresentam uma profunda unidade, estavam
divididos em numerosas nações que se combatiam escarniçadamente. Muito embora cada uma dessas nações ou tribos
usasse seu próprio nome, eram todas, geralmente, de Tupinambás. Na realidade, porém, tal
designação, que semelhantes indígenas se davam a si mesmos, historicamente
cabia apenas aos tupis estabelecidos no recôncavo do Rio de Janeiro, na região
da Bahia e na província do Maranhão.
Apesar
de sua total extinção, os tupinambás se podem considerar os aborígines
sul-americanos mais bem conhecidos.”
Da religião dos Tupinambás, Metraux descreve as crenças no além-túmulo,
assim como foram descritas por Thevet
“Quando
morre o marido, ou a esposa, ou outro qualquer parente - pais, mães, tios ou irmãos
- os selvagens curvam-no dentro da própria rede onde falece, dando-lhe a forma
de um bloco ou saco, à semelhança da criança no ventre materno; depois, assim
envolvido ligado e cingido com cordas de algodão, metem-no em um grande vaso de
barro, cobrindo-o com a gamela onde o defunto costumava lavar-se, receando,
segundo dizem, que o morto ressuscite, se não está bem amarrado, temor, aliás,
muito grande, pois crêem que isso já aconteceu a seus avós, motivo pelo qual
convieram em tomar tal precaução.”
Sobre
essa maior proximidade e percepção sobre os Tupinambás, Berta Ribeiro explica
que foi o primeiro povo do continente que inicialmente estreitou contatos com o
colonizador, pois;
“...pertencia à grande família Tupinambá,
tronco tupi-guarani, que ocupava quase todo o litoral.
Eram
recém-chegados à costa, de onde expulsaram as tribos inimigas, com exceção de
alguns grupos, encaminhando-os para o sertão. Os tupi transmitiram aos
primeiros cronistas e aos jesuítas a noção de que o mundo indígena se dividia
em dois grandes blocos: o dos que falavam a sua língua e praticavam seus costumes e o de seus
contrários, chamados tapuia ( os grupos filiados à família lingüística jê e
alguns outros de língua isolada ), o que quer dizer escravo. Essa divisão dos
índios no Brasil prevaleceu muito tempo e servia para distinguir os grupos do
litoral daqueles do sertão Com o devassamento do interior nos séculos seguintes
ao da descoberta, passou-se a ter uma visão mais exata do mosaico indígena que
habitava o país.
... Os
índios do tronco tupi-guarani eram povos agricultores, com grande mobilidade
espacial. Os primeiros colonizadores surpreenderam e até provocaram suas
migrações. A localização precisa desses
grupos foi, por isso mesmo, muito difícil. ... Os tupi viviam numa faixa de São
Paulo até o Pará. Os tupi da costa eram
conhecidos pelo nome genérico de Tupinambá e se dividiam em vários grupos
locais.... Do Rio Paraíba do Sul até Angra dos Reis era domínio dos Tamoio que
viviam em constante hostilidade com os Temiminó, ocupantes do baixo Paraíba.”
Paulo Reis Pereira relacionou indígenas que habitaram o Vale do Paraíba: Temiminós,
Tupinambás, Puris, Tamoios, Goitacás, Guaianás, Maramomis.
Acerca de pesquisas recentes realizadas nos sítios arqueológicos de
Jacareí, Vale do Paraíba e Estado de São Paulo os arqueólogos Érika M. Robrahn-González
e Paulo Zanettini enunciaram que
“... o
conhecimento atual sobre a ocupação de grupos ceramistas pré-coloniais no
Estado de São Paulo é ainda bastante incompleto... são conhecidos cerca de 200
sítios, que estão longe de corresponder à sua totalidade. Isto se deve, pelo
menos em parte, ao fato de contarmos com grandes extensões territoriais
praticamente desconhecidas, como é o caso do próprio Vale do Paraíba.... os 200
sítios cerâmicos de São Paulo apresentam
consideráveis variações... variações na
indústria cerâmica levaram à definição
de três grandes unidades classificatórias: a tradição Tupiguarani, a tradição Itararé e a
tradição Aratu/Sapucaí...informações
indicam que os sítios com cerâmica Tupiguarani de São Paulo estão longe de
constituir uma unidade. Ao contrário,
fornecem indícios de especificidades locais e regionais...
O
sítio Santa Marina de Jacareí apresentou material cerâmico relacionável à
tradição Tupiguarani...”
Os Sítios Arqueológicos de Jacareí, a nossa herança indígena.
Os arqueólogos relacionaram outros sítios cerâmicos de Jacareí, que
denunciam e confirmam a presença de comunidades indígenas no território do Vale
do Paraíba, antes da chegada do colonizador e subsequentemente a extinção
destas.
Sítio Arqueológico Mirante do Vale pesquisa realizada por Plácido Cali.
Relação parcial
de Sítios Arqueológicos de Jacareí
Acerca das pesquisas realizadas
nos últimos 30 anos nos sítios arqueológicos de Jacareí -SP, os arqueólogos
Érika M. Robrahn-Gonçalez e Paulo Zanettini enunciaram que "... o
conhecimento atual sobre a ocupação dos grupos ceramistas pré-coloniais no
Estado de São Paulo é ainda bastante incompleto ... são conhecidos cerca de 200
sítios, que estão longe de corresponder à sua totalidade. isto se deve, pelo
menos em parte, ao fato de contarmos com grandes extensões territoriais
praticamente desconhecidas, como é o caso do próprio Vale do Paraíba ... os 200
sítios cerâmicos de São Paulo apresentam consideráveis variações ... variações
na indústria cerâmica levaram à definição de três grandes unidades
classificatórias: a tradição Tupi-guarani, a tradição Itararé e a tradição
Aratu/Sapucaí ... informações indicam que os sítios com cerâmica Tupi-guarani
de São Paulo estão longe de constituir uma unidade. Ao contrário, fornecem
indícios de especificidades locais e regionais..."
1
- O Sítio Arqueológico
"Santa Marina" de Jacareí apresentou material cerâmico relacionável à
tradição Tupiguarani, pesquisa realizada pelos arqueólogos Oldemar Blasi e
Miguel Gaissler em 1991 e posteriormente em 1997, pelos arqueólogos Érika M. Robrahn-Gonçalez e Paulo Eduardo
Zanettini. Localizado próximo ao Córrego do Guatinga, em terreno loteado para
construção de uma fábrica de vidros na década de 80, Estrada Velha Rio-São
Paulo, Rodovia geraldo Scavone, no trecho entre Jacareí e São José dos Campos.
Apresenta coleção de 14.548 peças, analisadas e atualmente se encontram armazenadas
no Núcleo de Arqueologia da Fundação Cultural de Jacareí "José Maria de
Abreu", no antigo Galpão do Armazém Geral da Ferrovia. Av. José Cristovão
Arouca, 40, CEP 12327-707 Jacareí - SP- Brasil.
Dados sobre o Sítio:
Localização: Av. José Ribeiro, s/n°
- Jd. Santa Marina - Jacareí - SP - Brasil.
Tipologia: Aldeia Indígena
Tupiguarani
Publicações: Jacareí - Às
Vésperas do Descobrimento. A pesquisa arqueológica no Sítio Santa Marina.
Autores: Érika M. Robrahn-Gonçalez e Paulo Eduardo Zanettini. 1999.
2 - O Sítio Arqueológico
"Pedregulho" apresentou material cerâmico relacionável à tradição Tupiguarani,
pesquisa realizada por Maria Cristina Scatamacchia em 1998. Localizado em terreno destinada ao loteamento
imobiliário, na Estrada Velha Rio-São Paulo, Rodovia Geraldo Scavone, no trecho
entre Jacareí e São José dos Campos. Apresenta coleção de 7.672 peças, analisadas
e atualmente se encontram armazenadas no Núcleo de Arqueologia da Fundação
Cultural de Jacareí "José Maria de Abreu", no antigo Galpão do Armazém
geral da Ferrovia. Av. Av. José Cristovão Arouca, 40, CEP 12327-707 Jacareí -
SP- Brasil.
Dados sobre o Sítio:
Localização: Estrada Municipal do
Pedregulho, s/n° - Condomínio Villa d'Italia
Tipologia: Aldeia Indígena
Tupiguarani
3 - O Sítio Arqueológico
"Rio Comprido" apresentou material cerâmico relacionável à tradição
Tupiguarani, pesquisa realizada pelo arqueólogo Plácido Cali, em 1998 e 1999.
Localizado próximo ao Córregos Guatinga e Rio Comprido, em terreno destinado ao
loteamento imobiliário, na Estrada Velha Rio-São Paulo, Rodovia Geraldo
Scavone, no trecho entre Jacareí e São José dos Campos. Apresenta coleção de
168 peças, analisadas e atualmente se encontram armazenadas no Núcleo de
Arqueologia da Fundação Cultural de Jacareí "José Maria de Abreu", no
antigo Galpão do Armazém Geral da Ferrovia. Av. Av. José Cristovão Arouca, 40,
CEP 12327-707 Jacareí - SP- Brasil.
Dados sobre o Sítio:
Localização: Estrada do Rio
Comprido - Condomínio Mirante do Vale
Tipologia: Aldeia Indígena
Tupiguarani
4 -O Sítio Arqueológico"
Villa Branca" apresentou material cerâmico relacionável à tradição Tupiguarani,
pesquisa realizada por Érika M. Robrahn-Gonçalez e Paulo Eduardo Zanettini.
Localizado próximo ao Córrego Guatinga, em terreno da antiga Fazenda Villa Branca,
de plantação de café e outros produtos agrícolas, em 1998, na Estrada Velha
Rio-São Paulo, no trecho entre Jacareí e São José dos Campos. Apresenta coleção
de 33.326 peças, analisadas e atualmente se encontram armazenadas no Núcleo de
Arqueologia da Fundação Cultural de Jacareí "José Maria de Abreu", no
antigo Galpão do Armazém geral da Ferrovia. Av. Av. José Cristovão Arouca, 40,
CEP 12327-707 Jacareí - SP- Brasil.
Dados sobre o Sítio:
Localização: Rodovia Geraldo
Scavone, 76 - Bairro Villa Branca
Tipologia: Aldeia Indígena
Tupiguarani
Possui
Monumento em sua celebração e Defesa: Pedra Memorial na praça, atual Bairro Villa Branca, implantada
pelo Ministério da Cultura; "Sítio de acordo com a Portaria n° 40 de 13 de
outubro de 1999 do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, faz parte do Patrimônio Cultural e é protegido Pela Constituição
Brasileira e pela Lei 3.924/61".
5 - O Sítio Arqueológico
"LIGHT" apresentou material cerâmico relacionável à tradição Aratu,
pesquisa realizada pelo Núcleo de Arqueologia da Fundação Cultural de Jacarehy
"José Maria de Abreu", em 2000. Localizado em terreno próximo à
represa de Santa Branca na Estrada entre Jacareí e Santa Branca, Rodovia Nilo
Máximo, os primeiros achados ocorreram naturalmente, por ação de um pescador no ano 2000, que
comunicou o fato ao poder público. Apresenta coleção de 21.972 peças, analisadas
e atualmente se encontram armazenadas no Núcleo de Arqueologia da Fundação
Cultural de Jacareí "José Maria de Abreu", no antigo Galpão do
Armazém Geral da Ferrovia. Av. Av. José Cristovão Arouca, 40, CEP 12327-707
Jacareí - SP- Brasil.
Dados sobre o Sítio:
Localização: Represa Santa Branca
- Próximo a Rodovia Nilo Maximo
Tipologia: Aldeia Indígena Aratu
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