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quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Bairro do São João, sua Paróquia e a Procissão de CORPUS CHRISTI 2009.





O Bairro do São João é juntamente com o Bairro do Bom Jesus e Bairro dos Remédios, um dos bairros mais antigos de Jacareí que se formou “do outro lado do rio”. A cidade de Jacareí tem sua história parcialmente narrada à partir dos seus núcleos de povoamentos centrais, que deram origem à Villa de Nossa Senhora da Conceição da Paraíba (Jacareí), em 1653. Povoados localizados à direita do Rio Paraíba do Sul. Entretanto, encontramos descrições, já no documento de criação da “Villa” de Jacareí; da existência de uma via de circulação aberta e utilizada por índios nativos, desbravadores de florestas primitivas e viajantes que incrementavam o tráfego de mercadorias comercializadas e distribuídas pelo Brasil Colônia e posteriormente Brasil Império, e que no período aurífero recebeu a denominação de Estrada Real de Jacarehy, pois tinha a função de fazer escorrer as mercadorias à partir dos centros produtores entre os povoados e a zona de produção de ouro de Minas Gerais; como nos revelou o Prof. Marcio Santos.

Esta via é a Rod. 66 que chega em Jacareí através da Avenida Santa Helena, segue atravessando a ponte e o centro de Jacareí. A mesma Rodovia São Paulo-Rio, Estrada Velha que foi substituída pela Rod. Presidente Dutra.

Era já utilizada a via fluvial para os viajantes que percorriam o trecho de São Paulo na direção do Rio de Janeiro; iam até a Villa de Santa Anna das Cruzes de Mogi-mirim (atual Mogi das Cruzes) e Aldeia Freguesia da Escada e dali seguiam pela via fluvo rio Paraíba na direção de Jacareí; desciam no Porto, localizado onde hoje se encontra o Fórum e o início da Rua XV de Novembro; e prosseguiam por via térrea.

Então o Bairro do São João que aparece nos documentos notariais até 1950 também como “Villa Moraes”,  surgiu à partir da importante via traçada e utilizada desde o Brasil Colônia. Surgiu às margens de uma das primeiras e principais vias que deram impulso ao desenvolvimento do Brasil à partir da dominação do colonizador português. Desenvolveu-se como ponto de parada, repouso de grupos de viajantes que cruzavam os povoados, então existentes entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Teve suas características urbanas delineadas por zona de passagem de transeuntes e mercadorias; se tornou via comercial local pela oferta de produtos oferecidos no seu percurso. Vários personagens históricos passaram por ali, porque era o único caminho, além do rio, que levava à São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Posteriormente foi povoado por imigrantes italianos que chegaram à Jacareí no início do século XX e não encontraram possibilidades de estabelecerem-se no “centro da cidade”; então se efetivaram às margens daquela que era a mais importante via de transportes do país; a Estrada Velha RIO-SÃO PAULO, no trecho do Morro do Itapeva (morro do SESI) até a Avenida São João, encontra-se a Avenida Santa Helena, onde foi construída a "Igreja do São João".  Todos nós jacareienses já passamos por ali, e continuamos a passar todos os dias. Apesar de não termos esta informação difundida e o Bairro do São João não ter essa “perspectiva  histórica" de sua importância; a Estrada Real do século XVIII continua sendo a nossa Estrada Real e importante também para nós!
E nesse espaço geográfico com um contexto histórico tão antigo, tão cheio de Histórias a serem narradas surgiu em 1968 a Paróquia São João Batista.

O Bairro do São João, desenvolveu o seu fervor cristão e católico à partir da Capelinha do Cruzeiro, que desde 1860 se localizava ali, onde hoje se encontra a Rua Otaviano Camara. Por pesquisa histórica realizada com a tradição oral e documentos cartoriais revelou-se a história do Cristianismo e fé inabaláveis presentes no cidadão da Paróquia do São João. Fatos e dados importantes para o fortalecimento da identidade cultural e religiosa da nossa população revelaram que o Bairro do São João com seus antigos espaços, de manifestação popular religiosa e cultural; com exemplos de civilidades como o Padre Antoninho, seus paroquianos e moradores do bairro, compôs e contribuiu para uma História de Jacareí, que ainda está sendo escrita, isto é: a História de uma cidade à partir da ação e louvor do seu próprio povo; de seu próprio espaço geográfico e da valorização do Patrimônio Histórico Cultural presente!

( Textos integrais sobre o tema, em breve no site: www.patrimonioculturaljacarehy.com.br )

Das manifestações religiosas e culturais presentes no Bairro do São João, revelamos através das fotos da manifestação “Procissão de Corpus Christi” do ano 2009 de Jesus Cristo; a fé e a emoção dos São Joaninos vividas e traduzidas em arte pelas ruas do Bairro do São João.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Artigo de Osmar de Almeida sobre o MAV - Jornal Diário de Jacareí 19/01/2010

                                                                            Salão Superior Solar Gomes Leitão

MAV - FIM DE UM SONHO?




Quando em 1977 um grupo de cidadãos apresentou ao então prefeito Benedicto Sergio Lencioni a proposta de criação de um Museu em Jacareí, a fez com uma dupla visão – a de salvar um Patrimônio Histórico ameaçado de destruição, a exemplo de outros casarões históricos; e também de criar uma entidade que fosse absolutamente inovadora do ponto de vista museológico, fugindo do padrão tradicional dos museus histórico-pedagógicos vigentes na época.

Apoiado pela museóloga Waldisa Russio Camargo Guarnieri, membro do ICOM – Conselho Internacional de Museus da UNESCO e coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Museologia da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, desenvolveu-se o projeto de criação de um Museu com enfoque regional, colocando Jacareí na vanguarda de outras cidades que só pensavam em museus locais. Nasceu assim o MAV – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba. Orientado por Waldisa, para quem o Museu além de salvaguardar a herança cultural da região deveria ser também um lugar de aprendizagem, o grupo criou o Museu absolutamente inovador - um local onde se agregava o passado, mas que produzia conhecimento com uma perspectiva de futuro. Como premissa básica, definiu-se que o MAV seria “um espelho onde o Homem vale paraibano pudesse ver, refletir e posicionar-se sobre o futuro”. Todo esse embasamento está documentado no Estatuto da Fundação Cultural de Jacareí, criada em 1983 pelo Grupo de Estudos para Implantação do Museu em Jacareí, coordenado por mim com o apoio absoluto do então prefeito Benedicto Sergio Lencioni. Na esteira dessa idéia grandes projetos foram realizados. A criação do Núcleo de Arqueologia; o Núcleo de Pesquisa Histórica, composto por profissionais especializados que apoiados pelo IEV –Instituto de Estudos Valeparaibanos, levaram o MAV a uma projeção nacional de destaque no cenário da museologia, resultado este obtido com o trabalho científico desse grupo independente, que já na década de 80 apresentava alto grau de maturidade em suas propostas para a preservação do Patrimônio Cultural de Jacareí.

Trinta anos depois o que se vê, no entanto é algo totalmente diferente do que propuseram seus fundadores. Inexiste um corpo técnico (o Museu sequer tem um museólogo ou antropólogo e seu quadro de funcionários é escolhido por critérios políticos e ideológicos); inexistem linhas definidas ou alternadas de pesquisas historiográficas que apontem o “Museu” como referência, fonte e centro de historiografia vale paraibana, como previam seus Estatutos (aliás, ele nem possuí atualmente um estatuto... aparece agregado a Fundação Cultural atual como: “equipe do Museu”), assim como inexistem critérios museológicos no que se refere às exposições. O MAV tornou-se uma aberração, um monstrengo cultural, um verdadeiro “saco de gatos” onde tudo vale. Na ausência de um Centro Cultural com propostas definidas e alinhadas artisticamente e cientificamente,utiliza-se o MAV para as mais diversas atividades – de eventos esportivos a bailes de carnaval, com a alegação de que “tudo segue um contexto cultural e popular”. Baseados na idéia “o Museu é do povo” justificam até que existem “orientações de antropólogos” para tal política. Mas que antropólogo será esse que está dando conselhos e ocupando o lugar da ANTROPÓLOGA que fez de acordo com a Lei, o concurso da Prefeitura Municipal, passou e nunca foi chamada para assumir o seu cargo no Museu?

Na ausência dos critérios científicos com os quais o Museu foi criado podemos dizer com todas as letras: o MAV não existe. O que temos é um factóide, um arremedo de Museu, que não poderá continuar a ser chamado de Museu se não se adequar à nova legislação criada pelo Sistema Brasileiro de Museus.

Resta-nos a esperança de que os homens e políticos são passageiros, mas as grandes idéias permanecem. O Museu certamente não morrerá. Assim como a Fênix que renasce das cinzas, ele também sobreviverá e essa catástrofe que se abateu sobre ele na última década. Mas isso dependerá da maneira como nós, cidadãos, agiremos para salvaguardar nosso Patrimônio que foi criado pelo povo de Jacareí e que infelizmente está sendo destruído pela incúria de nossas autoridades.

Osmar de Almeida é professor de idiomas e fundador do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba.

Biografia de Waldisa Russio Camargo Guarnieri - Mentora do Projeto do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba


Solar "GOMES LEITÃO" - MAVP - Jacarehy - SP
 Museóloga e professora, Waldisa Russio Camargo Guarnieri nasceu em São Paulo em 5 de setembro de 1935. Graduou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em 1959, desenvolvendo, ao longo da década de 1960, múltiplas atividades docentes e funções administrativas junto ao serviço público estadual. No desempenho dessas funções, entrou em contato com a área cultural e, especificamente, com o universo museológico. Organizou as estruturas jurídicas e administrativas do Conselho Estadual de Cultura (1968), do Museu de Arte Sacra de São Paulo (1969) e do Museu da Casa Brasileira (1970). No final de 1970, foi nomeada diretora técnica do Museu da Casa Brasileira, cargo no qual permaneceu até 1975. Nesse ano, passou a exercer as funções de assistente técnica para museus na Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado, responsabilizando-se pelo projeto de pesquisa sobre os museus do Estado de São Paulo (1976-1977) e pelo projeto museológico da Casa Guilherme de Almeida. Concluiu o curso de mestrado na Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, com a dissertação Museu: um aspecto das organizações culturais de país em via de desenvolvimento (1977). Sua investigação teórica teve prosseguimento com a tese de doutorado, Um museu da indústria na cidade de São Paulo (1980), e desenvolveu-se nos anos de 1980, principalmente a partir da participação no Comitê Internacional de Museologia (ICOFOM) do Conselho Internacional de Museus (ICOM). Ao lado da literatura e da defesa da ecologia, a museologia e o patrimônio cultural foram suas áreas de atuação privilegiadas. Oradora e debatedora incansável, participou de inúmeros congressos e simpósios, nacionais e internacionais. À frente da luta pela regulamentação da profissão de museólogo, foi fundadora do Conselho Regional de Museologia de São Paulo e membro da primeira diretoria do Conselho Federal de Museologia. Ainda fundou e presidiu a Associação Paulista de Museólogos (ASPAM) e a Associação de Trabalhadores em Museus (ATM). Dedicou-se, nos últimos anos, à sua obra mais destacada: a criação do curso de pós-graduação em Museologia, que iniciou suas atividades em 1978, ligado à Escola Pós-graduada de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Esse curso deu origem, em 1984, ao Instituto de Museologia de São Paulo, responsável pela formação de toda uma geração de museólogos brasileiros. Faleceu em São Paulo, em 11 de junho de 1990.





Waldisa Russio Camargo Guarnieri



www.ieb.usp.br


sexta-feira, 21 de maio de 2010

Entrevista Osmar de Almeida - Idealizador e Fundador do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba



                                                      Solar Gomes Leitão


                               Escadaria  interna Solar Gomes Leitão

                                                                                                
Osmar de Almeida fala sobre a criação do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba:


“...acho que o importante a falar sobre a história do museu, acho que o fio condutor de toda história do museu é a participação popular. Na verdade tudo começou foi em 1976,...quando havia uma efervescência cultural em Jacareí. Fins de semana, teatro, concerto de jazz uma série de atividades que as pessoas participavam, então sempre depois dos espetáculos,ou até mesmo antes do cinema, é importante lembrar isso...no cine Rosário tinha o chamado cinemão toda sexta feira e era o cinema d e arte em que a gente assistia os filmes que passavam no cine Belas artes em São Paulo; então tínhamos muitas discussões. Nós tínhamos um grupo de pessoas que discutiam a questão da cultura na cidade. Antes do cinema, antes da meia noite, nas sextas feiras ...então havia uma efervescência cultural. E foi nesse clima que a gente começou a discutir uma coisa muito séria. A prefeitura na época havia derrubado o casarão em frente ao Museu, que era a Escola Antonio Afonso e o mesmo destino ameaçava a Escola Carlos Porto,.. Inclusive comentava-se na cidade que aquele prédio era velho e que ia ser derrubado como o outro. Então começamos a discutir a possibilidade de salvar aquele prédio....a canção do Milton Nascimento que falou: nada de novo que não se discuta na mesa de um bar. Lembra daquela canção?...as discussões surgiram em volta da mesa de um bar chamado Xodó, que havia na esquina do Rosário, ali em frente da loja Riachuelo....Então ali começamos a discutir sobre o que fazer com o nosso patrimônio cultural. Daí que surgiu a idéia de se fazer um museu no lugar para salvar o prédio.

Ninguém tinha uma idéia de como seria um museu. Mas aí estive em São Paulo no Museu de Arqueologia da USP, e vendo aquelas exposições de arqueologia, eu pensei se nós poderíamos ter em Jacareí um Museu que contasse a história pensando muito na questão arqueológica da região. ...Quando nós fizemos nossa primeira reunião, que definitivamente o grupo se decidiu a lutar pelo museu. Foi no dia 26 de fevereiro de 1977, às 6 horas da tarde, sábado, na casa da Maria Lucia Sant’Ana.

É importante colocar o contexto histórico da questão também, quem havia assumido a prefeitura em janeiro foi o professor Benedicto Sergio Lencioni, que havia sido nosso professor literalmente. Então, nós o convidamos. Uma das pessoas que fazia parte do grupo era a professora Maria Lúcia Sant’Ana, ela era bastante amiga do professor e o convidou para participar dessa reunião, que nós fizemos informalmente na casa dela....Posso citar algumas pessoas que participaram:...Hebe Esper, Silvia Esteves Mintelovsky, Stanislau da Silva Salles, Odair de D. Pinto, (Ayrton começou a participar em novembro de 1977). Agente não sabia bem como fazer...o Stan sugeriu que nós procurássemos em São Paulo a museóloga Waldisa Russio Camargo Guarnieri que era a maior autoridade da época em assunto de museologia do país. E nesse primeiro dia já se discutia com as duas advogadas que participavam a Maria Honória e Alcebildes Lague, que nós fizéssemos essa fundação.

...A Doutora Waldisa era coordenadora do curso de museologia e Pós-Graduação da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e membro do Comitê Internacional de Museus da Unesco em Paris do ICOM. Conversando com a Waldisa ela me disse: ...Bom, o quê vocês querem é fazer um Museu de Antropologia do Vale do Paraíba. Ela começou a dar diretrizes do que seria esse museu. Ela sugeriu que nós deveríamos criar um SETOR DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO, o SEPEDOC, para que desse origem a esse museu. Isso foi muito importante porque o SEPEDOC foi a origem desse museu. Waldisa estava implantando na época o Museu da Indústria de São Paulo e ela se encantou com a história industrial... de Jacareí e do Vale do Paraíba. No dia 25 de agosto de 77 fizemos uma reunião... e apresentamos o projeto ao Diretor de Cultura na época que era o irmão do prefeito, o Frederico Lencioni,...ele se entusiasmou demais, achou interessante a idéia. E foi nesse mesmo ano de 77 que nós apresentamos a proposta ao prefeito... esse grupo se reunia toda semana no Salão Nobre da Prefeitura para discutir como seria o Museu de Antropologia do Vale do Paraíba... e a Waldisa orientando o projeto,... e é importante salientar isso , o Benedicto Sérgio Lencioni deu todo apoio ao projeto e liberdade para que o grupo discutisse o que deveria fazer. Foi até interessante que ele convidou mais três pessoas: Osiris Médici, Luís José Navarro da Cruz que tem um trabalho de preservação de fotografias...Romeu Cime Junior de Taubaté. Eu convidei o arquiteto José Roberto Naves Silva e o irmão dele o Ayrton Vinícius Naves Silva.
Abaixo, fotos da Professora Museóloga, mentora da criação e escolha do nome do MAVP - Museu de Antropologia do Vale do Paraíba, Profª Waldisa Russio Camargo Guarnieri:

  1.                                             


                                               Waldísa Russio Camargo Guarnieri




                                              Waldísa Russio Camargo Guarnieri



                                              Waldísa Russio Camargo Guarnieri
                                     




Eu comecei a trabalhar em 78 no SEPEDOC, e o meu trabalho foi essencialmente... Organizar o quê seria a Fundação Cultural, uma interação com os advogados da prefeitura de como seria isso: Fundação Cultural de Direito Privado, Direito Público, ninguém sabia como funcionava isso direito. Nessa mesma época eles estavam fazendo terraplanagem do terreno do Santa Marina, então foram encontrados os sítios arqueológicos, eu recebi as primeiras peças no SEPEDOC. Começou a crescer tanto que a Waldisa sugeriu que alguém fizesse o curso de museologia e o grupo designou a Maria Lúcia Sant’Ana para fazer o curso. Eu continuei no SEPEDOC e a Waldisa orientando. Por exemplo: ela disse: o Museu tem que ter um departamento de arqueologia... Então era um dos objetivos do museu a pesquisa... Que deveria trabalhar com a questão da antropologia cultural. Não seria um museu saudosista. Nós consultávamos na época o professor Ulpiano Bezerra de Menezes, arqueólogo da USP, o professor Rui Gama que escreveu a história da Ciência no Brasil para que a gente pudesse ter mais orientações de como contar a questão antropologia e arqueológica. ... o nosso seria um museu de busca contando a história.é... como disse o historiador Orlando da Silva Bruno: da pior sociedade! Quer dizer, desde o simples homem que vivia no campo até o poderoso, não teria que contar a história só de um tipo de gente... Então essa linha guiava a criação do museu e houve embates. ... Um jornal comentou que o grupo do museu estava querendo implantar um museu... Que nós éramos comunistas,... Da esquerda... Querendo implantar um museu da pior sociedade. E que o prefeito deveria agir. Mas o Lencioni deu total apoio ao projeto.”(ALMEIDA, 2008)




Texto integral e imagens poderão ser  apreciados no site:
http://www.patrimonioculturaljacarehy.com.br/



Temas referentes:
http://www.diariodejacarei.com.br/noticia/4171

A ESTRADA REAL DE JACAREHY. A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL -Entrevista com Ayrton Vinicius Naves e Silva. Entrevista com Maria Ada Cherubini.

A Estrada Real de Jacarehy.

O meio ambiente e os bens culturais são partes integrantes do Patrimônio Cultural e conservam as marcas do capital em busca de riquezas. Jacareí se encontra entre as Serras do Mar e Mantiqueira, caminhos que os bandeirantes paulistas faziam na direção das minas de ouro. Repousavam em Jacareí nas pousadas e ranchos, reabasteciam as tropas e dali partiam para Minas Gerais. Esse percurso narra a história através das marcas presentes no Patrimônio Ambiental e Cultural, descrevendo o processo de formação e contenção geopolítico-cultural do homem do Vale do Paraíba. Por estradas e rios vemos as invasões das bandeiras guiadas pelo indígena conhecedor das trilhas; pelas ruas ocupadas por vilas e igrejas, casarões e casebres, é presente a ação do colonizador e as seqüenciais transformações da paisagem cultural e ambiental, implementadas pelo sistema econômico que regeu a formação sócio-política e cultural do Brasil.


                                                                                        Gravura de Debret

Interligadas pelo Rio Parayba, trilhas e estradas de aldeias e Vilas a partir de São Paulo até Guaratinguetá compunham a Antiga Trilha dos Índios, o Caminho do Gado, a ESTRADA REAL, percorrida para alcançar as Minas Gerais. A importância histórica dessas vilas e vias é evidenciada através das análises dos primeiros trabalhos cartográficos do século XVIII, realizadas pelo geólogo Antonio Gilberto Costa ao descrever os obstáculos geográficos impostos pela Serra do Mar à realização do processo de exploração de riquezas do interior do Brasil.

“... Empecilhos para a transposição da serra do Mar ao longo de boa parte do litoral sul do Rio de Janeiro e norte de São Paulo impuseram grandes voltas aos viajantes que se dirigiam à Vila de São Paulo ou à região das minas. Para alcançar os sertões, alguns viajantes deslocavam-se por via marítima até o porto de Santos, subiam o Caminho do Mar até a Vila de São Paulo e daí seguiam pelo Caminho do Sertão em direção às minas. Para lá chegar era necessário passar pelas vilas paulistas do Parayba, marchando de sol a sol em viagens que duravam cerca de 60 dias.”

Por estudos realizados a partir de 2001 pelo escritor, Doutor em História Social Marcio Santos:

“... o Caminho Geral do Sertão já era percorrido antes da descoberta das jazidas minerais, havendo mesmo a possibilidade de que tenha sido essa a rota seguida pelo fundador da povoação de Santos, Brás Cubas, numa expedição ocorrida em 1560-1561”.

Elucidações históricas por ele lançadas revigoram a existência de ESTRADA REAL em Jacareí e adjacências:

“... o Caminho Velho era o Caminho Geral do Sertão, via antiga que ligava São Paulo de Piratininga e as vilas do vale do Paraíba-Mogi (das Cruzes), Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá-, através da serra da Mantiqueira...”

Em suas pesquisas Marcio Santos nos faz notar a ocorrência da expressão “ESTRADA REAL” nos Anais da Biblioteca Nacional através de relação de estampas publicadas na Flora Brasiliensis, de Von Martius e Thomas Ender, que descreve a mata virgem à beira da ER entre Jacareí e Aldeia da Escada, ano 1836.

                                           Estrada entre Jacareí e Aldeia da Escada
                                                                                                Fonte: Thomas Ender

A Preservação do Patrimônio Histórico Cultural local.
Em 1976 o cidadão jacareiense assistiu ao desaparecimento de uma edificação considerada modelo de arquitetura neoclássica do século XIX; o então conhecido prédio do Colégio Antonio Afonso. Desmoronamento na concepção de uns, e demolição na concepção de outros, mas o prédio do Colégio Antonio Afonso desapareceu.



Entrevista com Ayrton Vinícius Naves e Silva sobre o Museu de Antropologia, em que ele se refere ao prédio do Colégio Antonio Afonso.


P – E a relação com Solar Gomes Leitão? Em que momento aparece a idéia do museu de antropologia e a conexão com o prédio do Solar. Qual foi o precedente?


R - É que a gente tinha perdido o Antonio Afonso.


P - E como foi essa perda?


R - Lastimável. Foi no período do Toninho Nunes. O prédio estava lá. Tinha-se a condição de preservar. Era a única cidade que você tinha dois prédios. Era como um portal da cidade. Dois prédios com características neoclássicas e um de frente para o outro; com história. E você entra em Jacareí e é recebido por esse portal. Então a gente tinha essa, essa de querer preservar esses dois patrimônios. Um térreo e o outro sobrado. Com raízes na formação não só urbana, mas histórica da “aldeia de Jacareí”.


O portal da cidade, idealizado por Ayrton Vinícius Naves e Silva seria formado pelos dois edifícios, que margeavam a Estrada Real, atual Rua Quinze de Novembro


                                 Solar Gomes Leitão 1944 Grupo Escolar Coronel Carlos Porto

 
                
                 Fonte: Foto Cambusano (Acervo Luiz José Navarro da Cruz)


                                                     Prédio do Colégio Antônio Afonso. Foto 1944


                                                                        Fonte: Acervo Luiz José Navarro da Cruz
 
Você formava um triângulo. Dois prédios e o Avareí, Igrejinha do Avareí. A pedra fundamental, e ali ficava fácil você contextualizar a história. Esse era o sentido, mas eu percebia uma vontade política que o Antonio Afonso fosse tombado literalmente. Aí, eles puseram um plástico e as águas de março conseguiram...Veio favorecer essa intenção política de desabar. Não sei se nessa intenção tinha uma idéia e consciência do tamanho que seria reformar isso. Não sei nem se o município tinha condição financeira para isso, não sei se tinha apoio do IPHAN do CONDEPHAAT, essas coisas para quem é idealista...Ele não entra por esses universos. Ele tem o idealismo. O idealismo não tem força para preservar, o que tem força é o poder.



Segundo o pensador francês Michel Foucault,

“Dispomos da informação que o poder não se dá, não se troca nem se retoma, mas se exerce, só existe em ação, como também da afirmação que o poder não é principalmente manutenção e reprodução das relações econômicas, mas acima de tudo uma relação de força.

... se o poder se exerce, o que é este exercício, em que consiste, qual é a sua mecânica?”(FOCAULT, 1986).

R - (continuação da entrevista)... E aí assistimos a esse desabamento lamentável. Uma perda grande não só para Jacareí...O que se preserva é a memória. Hoje com a tecnologia você pode fazer o mesmo Antônio Afonso, mas ele não vai ter a memória, os mesmos materiais... Então no ano 3000 quando vierem fazer uma prospecção: UAI!...Mas existia esse material? Não. Não existia porque não foi aquilo. Então preservar a memória é que fundamenta o interesse de se trabalhar no sentido de ter esses pontos de referências para se alinhavar um processo histórico, para se contextualizar um momento, para resgatar uma cultura que: esta sim, não tem como preservar... Não tem como você pensar como um homem da idade média para entender o quê foi As Cruzadas. Então a gente se apóia nessas coisas e memórias para ter referências, para criar um pensamento, para se aproximar.

O texto da entrevista na íntegra, poderá ser apreciado no site http://www.patrimonioculturaljacarehy.com.br/

Nota-se que com o fato ocorrido em 1976, abriu-se uma discussão em torno do assunto Preservação de Patrimônio em Jacareí, e isso desencadeou uma ação conjunta de cidadãos que naquele momento tiveram a possibilidade sensitiva e informações históricas, sociais e civis que tornaram possível o movimento acerca do Patrimônio.

Entrevista com a Professora Maria Ada Cherubini em 1° de Novembro de 2008, que teve participação no processo histórico cultural de Jacareí. Eu gostaria que a Senhora fizesse uma narrativa sobre o Colégio Antônio Afonso, os motivos do desaparecimento do Prédio, como era a relação do poder público municipal com a preservação do prédio como Patrimônio.

P = Professora Maria Ada Cherubini
C = Cesira Papera

P – No tempo que eu estudei, então a cidade era muito menor, muito menos popular do que é hoje, então praticamente poucas escolas existiam e as mais importantes eram o Grupo Escolar Carlos Porto onde hoje funciona Museu de Antropologia e o Colégio Antônio Afonso. No local onde funcionou o Colégio Antônio Afonso, funcionavam duas instituições no tempo que eu estudei, duas instituições escolares. Durante a manhã e a tarde funcionava porque, o prédio próprio era da prefeitura, era da municipalidade, então ele foi cedido pra funcionamento de duas escolas, uma escola era estadual, que era a escola normal e o ginásio estadual de Jacareí, onde se formaram muitas turmas dos professores inclusive mais antigos da cidade e a outra instituição, ela era uma instituição formada, administrada por uma sociedade mantenedora sem fins lucrativos, visando então principalmente a profissionalização e a educação daquelas pessoas que trabalhavam durante o dia que não tinham condição, vamos dizer assim, que, poder estudar além do grupo escolar, daqueles quatro anos de educação elementar. Então existia um ginásio noturno Antônio Afonso e uma escola de contabilidade pra aquelas pessoas que trabalhavam e que era única, porque hoje existem, a nível de 2° grau, várias opções, vamos dizer, profissionalizantes. As opções eram limitadas e a opção daqui da cidade era fazer contabilidade. Então, praticamente minha vida escolar, eu fiz o grupo escolar no local, onde hoje é o museu, depois o ginásio e a escola normal, atravessando a rua que é onde era o Ginásio Antônio Afonso e o curso de Contabilidade também. Então foi isso. Agora, essa sociedade mantenedora de ensino, existia um grupo, eu vou colocar muito rapidinho isso daí. Existia um grupo político que durante muitos anos administrou a prefeitura e administrou a sociedade mantenedora que foi um grupo político ligado à família Máximo aqui e o grande que é aquele que foi professor de matemática, diretor da escola de Contabilidade, o prof. Luís de Araújo Máximo, as pessoas conheciam como seu Tito, foi prefeito da cidade também, tudo isso. Então, depois porque o processo histórico, não existe nada, a vida é uma transformação então houve um determinado momento que se organizou um outro grupo político e assumiu a liderança da cidade que foi um grupo liderado pelo Sr. Antônio Nunes de Moraes Júnior e foi também liderado pelo José Cristóvan Arouca, pelo Aldo Lopes, irmão de uma educadora muito importante da cidade que foi dona Alba Lopes da Costa, esse grupo então, assumiu a liderança, porque a política é assim cíclica em função de liderança. Então, o que aconteceu em relação ao Antônio Afonso à famosa queda, que ele desmoronou foi, a origem ta lá adiante, primeiro quando você tinha, veja bem, uma liderança que administrava a sociedade mantenedora, daqui à pouco você tem uma outra liderança política que é contrária, aí já cria uma situação de conflito, não conflito aberto, porque houve assim uma, vamos dizer assim, uma alternância de poder mas o poder de um grupo não se extingui assim no ar. Então aconteceu que um dos prefeitos, depois houve o período que foi o período assim do regime de exceção que formaram dois grupos políticos e um dos prefeitos da cidade foi o Sr. Malek Assad que não era participante direto em nenhum desses dois grupos mais. Então por exemplo assim, na escola de contabilidade no ginásio noturno, funcionava assim, ela era uma sociedade sem fins lucrativos, então quem não tinha condição de pagar não pagava inicialmente e quem tinha condição de arcar com o pagamento das mensalidades, pagava mensalidades baixas, porque a finalidade era auxiliar, vamos dizer assim, a educação daqueles que trabalhavam e quem trabalha vivendo do salário não tem muitos dividendos. Então, no governo desse prefeito, os custos com o pagamento de professor oneram uma escola, então a escola sempre vivia tentando equilibrar as contas.

C – Por que os recursos vinham da prefeitura?

P – Não, os recursos vinham assim, quem podia pagava pouco, quem não podia estudava de graça, inicialmente, depois a coisa foi ficando mais difícil com o tempo, então os custos foram ficando maiores, porque eu dirigi um tempo a escola também, eu me formei, voltei a lecionar no Antônio Afonso, fui diretora um ano, porque não tinha...quer dizer, a minha vocação é lecionar, não é assumir a direção de escola que é uma função mais burocrática. Então eu assumi um ano enquanto não viesse alguém que tivesse o registro, porque eu tinha o registro de diretor também. Eu fiquei um ano lá... Então me interessou na escola pra lecionar no técnico de contabilidade, prática jurídica aquele tempo, uma pessoa que tinha formação jurídica e tinha formação também de diretor que era a Dra. Belmira Santos Costa que era casada com um Sr. que era juiz na cidade, então, a hora que ela chegou lá com registro eu já retornei para o que eu gostava de fazer e ela assumiu a direção e ela era uma pessoa muito eficiente, porque além de ela ter a condição de magistério, ela tinha uma formação jurídica.

C – Mas no período em que a Senhora esteve como diretora?

P – Eu voltei a lecionar e ela assumiu a direção, então ela passou a ser minha diretora. Eu era diretora quando ela iniciou magistério depois eu retornei, então ela se transformou em diretora, graças à ela eu voltei a lecionar, que era o que eu gostava realmente de fazer.

C – E no período em que a Senhora foi diretora, o que a Senhora observou...?

P – Eu observei a questão financeira que vinha desde o tempo que eu substitui esse Sr. Que era o Professor Tito que foi prefeito que dirigiu, que era daquele 1° grupo de políticos muito significativos na cidade.

C – E onerava a prefeitura...?

P – A prefeitura só cedia o prédio, porque inclusive, se o grupo antagônico ao diretor assumiu, a prefeitura não iria realmente.

C – E de onde vinham as verbas?

P – As verbas vinham dos alunos que podiam pagar, do pouco que os alunos pagavam...

C – E isso mantinha a escola?

P – Mantinha a escola, mas com os professores, porque geralmente os professores que trabalhavam lá, inclusive o Professor José Simplício que foi muito ligado à parte cultural e já não esta entre nós, ele lecionou lá. Eram professores que lecionavam em outras escolas e a noite lecionavam no Antônio Afonso, recebendo um salário baixo, mas eles todos tinham passado por lá, e outros vieram, que tinham uma consciência social muito grande, então as outras pessoas, por exemplo, que trabalhavam em outras profissões, por exemplo, o Professor muito importante que foi o Raul Porto, o Amauri Vasquez, que trabalhavam em outras profissões mas ele na parte do curso de contabilidade, contadores da cidade como o Sr. Osmar Braga, pessoas assim; então graças ao esforço dessa equipe e aos poucos que podiam pagar a escola ia se equilibrando mais, as coisas foram ficando difíceis e quando assumiu a prefeitura esse Sr. que não era diretamente ligado, porque aí a gente estava no período da revolução, no período recessão, ele não era diretamente ligado a esses grupos, ele tinha uma independência política. Você não consegue, vamos dizer assim, embora ele possa ter tido aliados de um grupo ou de outro, mas ele tinha uma luz própria quando ele administrou, a esposa dele que é a Delma Assad, que fundou a JAM, que hoje presta, muito benefício aqui pra comunidade. Então, essa diretora que era casada com esse Senhor que era juiz, Dra. Belmira Santos Costa, hoje ela é viúva, ela tendo um tino administrativo muito bom, ela entrou em contato com o prefeito da ocasião que era o Sr. Malek Assad, e ela conseguiu bolsas de estudo da prefeitura então, além do próprio, ele fornecia bolsas de estudo. Agora, o que acontece,... esse Sr. o Antônio Nunes, ele voltou à prefeitura e ele, alem dele praticamente não simpatizar com o grupo que tinha fundado a sociedade Mantenedora e nem podia, pela injunção política, ai era um critério político. Quando ele concorreu na eleição, eu não sei por que ele achou que ele foi prejudicado nos votos que ele poderia ter pelo juiz eleitoral que coincidentemente era o marido da diretora Doutora Belmira; não houve, eu acho, nada disso, mas você sabe como é a política,... então quando ele assumiu, ele praticamente em relação à Sociedade Mantenedora..., a boa vontade dele devia estar zerada. Você está vendo como a coisa é histórica e como que vai começando. Não que ele não tivesse seu valor, ele teve, todos tiveram o seu valor, porque você tem que analisar as pessoas não assim...de acordo com seus interesses, você tem que analisar num contexto histórico, porque quem conta à favor de um ou de outro, então vai desvirtuar os fatos. Estou tentando Cesira, ser bem objetiva, não sei se eu estou sendo. Então, e aí qual seria o interesse dele, cortar as bolsas inicialmente, mas aí o que aconteceu, um Senhor que era o chefe de gabinete dele, tinha sido professor na escola normal, o senhor José Canettieri ele era muito conhecido, muito amigo do professor José Carlos Cruz. Então, a polêmica das bolsas foi grande, um dia conversando com ele porque, algumas pessoas que lecionavam lá que eram da sociedade inclusive eu mesmo, tinha sido aluno e ele tinha sido professor, então eu conversei um dia com ele e disse o seguinte: Olha professor, o Sr. que é um educador ótimo, com todos os seus princípios e o senhor é chefe do gabinete, só o Sr. vai poder fazer com que isso não aconteça e ele ainda disse: nem que seja a última coisa que eu faça na prefeitura e que depois eu vá embora, os alunos terão as bolsas. E eu achei de um princípio quer dizer, ele já era um educador que a gente respeitava, e o respeito cresce nessa hora. Daí o prefeito disse, vamos dizer assim, transferiu para ele a responsabilidade de resolver o problema, ai ele esteve lá, conversando com a direção, com o presidente da sociedade mantenedora tudo e acertou o problema das bolsas. Então... bolsas da prefeitura mesmo a contra gosto do prefeito da ocasião. E continuaram a vir a existir pro bem dos alunos, porque graças ao empenho desse senhor e dos outros professores que não tinham nenhuma implicação política, porque senão a perca seria dos alunos, porque como se diz, entre a briga do mar com o rochedo, quem perde é o marisco. Aconteceu isso tudo bem, ai depois com o tempo eu já nem estava lecionando mais lá, porque a escola já foi se equilibrando e tudo, mas não foi por nada... foi porque eu tinham mais outros compromissos então eu havia saído da escola mas eu participei de todo o acontecimento da destruição do prédio, porque a diretora e eu participávamos também da diretoria de um asilo da Associação Humanitária Amor e Caridade, que era presidida por um senhor que tinha uma liderança muito grande na comunidade que era o seu Cornélio que preside esse asilo que existe ate hoje. Ele esta muito bem administrado por uma psicóloga... então fazia um trabalho muito grande na cidade, porque eu acho que faz falta é exatamente esse envolvimento das pessoas da comunidade pelos problemas da comunidade porque a gente sente que na medida que foi havendo assim uma globalização, uma valorização do dinheiro e das coisas materiais decresceu muito essa disponibilidade de fazer coisas assim, voluntárias eu acho isso. Embora existam voluntários ótimos ate hoje, mas o número eu acho que decresceu, pela luta, pela vida, pela estrutura que a gente tem aí...

C – Pelo grau de importância, das instituições em que esse voluntariado trabalhava. Como a Sra narrou que existiam os professores que por uma ligação afetiva com o colégio, trabalhavam à noite de acordo com as suas especialidades...

P – Verdade, inclusive o próprio professor José Carlos Cruz, que não sei se você chegou a entrevistar, mas ele foi uma pessoa que junto com outros se dispôs à isso, hoje já é mais difícil pelas condições, pelas dificuldades das pessoas se manterem, pela modificação de vida, pelos valores, os valores humanos que são tão fortes como também eram em relação a isto, mas tudo tem seu motivo, tudo tem suas causas. Então o que aconteceu. Aconteceu o seguinte, o teto, porque as telhas eram o mesmo tipo de telhas que tem lá no museu, com o tempo, o madeiramento foi se desgastando fora, cupim, fora tudo isso, então o teto estava na eminência de cair, como a sociedade mantenedora...vamos dizer, a escola não tinha fins lucrativos, era impossível contratar uma empresa de restauro pra restaurar o teto, mas se deixasse o teto sem cuidar, ele vinha abaixo, inclusive ia provocar um acidente imenso, então o que foi decidido, eu já não estava lá mais, eu sei da coisa, porque eu convivia na outra entidade com a diretora. Então o que a sociedade mantenedora decidiu. Decidiu que faria isto, a parte do beiral iria conter com aquelas telhas, arrumando o madeiramento todo e telhas desse tipo eternit que são leves e quando houvesse condição, então iria fazer o restauro. Então agora, o que aconteceu...tinha que ser feito isso, porque se não ia ser provocado uma catástrofe, quando aconteceu isso, que foram colocar...e o prefeito soube disso, porque você sabe que informantes, você tem sempre de todos os lados. Então, ele entrou judicialmente com o embargo da obra, ai ficou uma batalha jurídica de embargar e desembargar, porque a diretora também tinha uma experiência jurídica muito grande. Quando era embargada, ela entrava com outro processo, mas nisso vai chovendo, a taipa, você sabe o que vai acontecendo com a taipa quando chove. Então esse senhor, o seu Cornélio que era líder comunitário e ele era presidente lá da Associação Humanitária do asilo, uma ocasião quando desembargou a obra. Quando ela conseguiu liberar o embargo, esse senhor falou o seguinte: olha, daqui a pouco vai cair aquilo lá, então ele resolveu fazer, começaram os pedreiros a trabalhar, o que ele fez? Ele falou o seguinte: Eu vou levar tipo roldana pra erguer rápido essas telhas pra conseguir cobrir pra não cair, aí o prefeito conseguiu embargar de novo, e ai vem aquela ordem do judiciário que tem que parar a construção e a ordem chegou pro empreiteiro que estava dirigindo a obra, a obra e os pedreiros continuaram trabalhando, porque eles não sabiam ainda, esse senhor foi lá com a roldana, nisso como eles estavam trabalhando, veio a polícia, porque tava descumprindo a ordem do juiz, e daí ele ia levar preso quem tava trabalhando, aí ele disse: “-Mas eu também estou aqui e trouxe uma roldana” e a polícia não queria prender esse senhor, porque ele era muito respeitado inclusive pelos próprios policiais. Ele falou: “-Mas não é justo, se eles forem (porque eles eram pessoas mais simples), eu tenho que ir junto”. E enfim, ele foi junto até a delegacia, aí prendeu pedreiro e prendeu seu Cornélio. Porque muita gente fica quieta, não sabe alguns detalhes e, talvez algumas pessoas poderiam ter também cerrado fileiras, mas a situação também não era propícia na época. Daí quando chegou lá e ficou explicado que os pedreiros não sabiam, que o empreiteiro não tinha aparecido por lá, que era de manhã cedo, aí liberou todo mundo, mas daí, o que quê aconteceu? Era época de chuva e a taipa cedeu e caiu. O prédio caiu assim...eu vejo às vezes o pessoal escrevendo Antônio Afonso, algumas coisas que não correspondem muito bem a verdade, se fosse encontrada essa...ela deve estar residindo em São José, a Belmira poderia detalhar melhor essas coisas. Daí ele responsabilizou pela deterioração do prédio a direção da escola evidentemente e surgiram todos os procedimentos e algumas testemunhas foram testemunhar na delegacia. As poucas testemunhas que se dispuseram à ir foram a delegacia prestar os depoimentos, essas coisas e no fim foi prosseguindo, prosseguindo até que...a escola acabou funcionando nas instalações emprestadas, não sei se foi no SESI, foi uma instituição da cidade...eu não lembro...

P – A Senhora chegou a ver o estado do prédio depois do desmoronamento?

R –... a taipa são aquelas paredes grandes e com o movimento ali e com a infiltração das águas, se cai uma das paredes que é das principais, praticamente a estrutura de madeira já estava comprometida, que era isso que se ia fazer... e depois poderia ir havendo o restauro devagar, nenhum dos prédios era tombado, não havia essa preocupação com o tombamento ainda como houve a preocupação do Grupo Osmar, pra tombar o outro prédio, depois do acontecido desse, surgiram assim algumas pessoas muito jovens pra época, pra não deixar acontecer com o que estava em frente, o mesmo que tinha acontecido com o outro prédio...

P – E o que as pessoas comentavam na época? ... Desmoronamento ou demolição?

R – Eu acho que as pessoas ficaram mais com a visão de desmoronamento...Porque vocês que são das gerações mais novas,...ouvem falar uma palavra que eu acho lindíssima, cidadania. ...Naquela época essa luta pela cidadania não existia, a cidade tinha menos habitantes,...a gente estava vivendo um período de repressão...então não tinha como divulgar e tendo que batalhar para que a escola não fechasse, para que os alunos continuassem estudando...

P – E o estado geral do prédio?

R – Na parte elétrica, pintura, hidráulica, na parte de conservação não era degradado, ele funcionava... o problema inicial foi o telhado.

... o Adelmir tinha conseguido um estudo, ( realizado por Ricardo Ferraz) ...porque aquilo lá quando foi construído, passava pela cidade carroça, e carro de boi... quando vai passar caminhão, ônibus,... as telhas que eram grandes, que tem que mandar fazer porque não se fabrica mais... com as vibrações elas deslizam e dá goteira.

P – E a parte interna do prédio, ainda existiam características relativas ao período...

R – Existiam. A coisa que foi sempre muito bem conservada era o Salão Nobre... tinha a pintura, as cores, tudo guardava a característica... e no tempo da Escola Normal ...tinha um piano e as pessoas iam cantar... de tarde tinha o conservatório musical.

P - Ligado também à mantenedora?

R – Isso...obra mesmo da mantenedora... tinha o curso de piano porque já era uma tradição muito antiga,... as famílias mais tradicionais as filhas tocavam piano, ter uma formação musical.


O texto da entrevista na íntegra, poderá ser apreciado no site http://www.patrimonioculturaljacarehy.com.br/


Segundo Santos citada por Oliveira,

“... a abrangência conceitual da abordagem do patrimônio cultural está relacionada com a própria definição antropológica da cultura, como tudo o que caracteriza uma população humana ou como um conjunto de modos de ser, viver, pensar e falar de cada formação social. Todo conhecimento que uma sociedade tem de si mesma sobre as outras sociedades, sobre o meio material em que vive, sobre a própria existência, inclusive as formas de expressão simbólica desse conhecimento através de idéias, da construção de objetos e das práticas rituais e artísticas.

No âmbito do Estado brasileiro

“...a preocupação com bens culturais e imateriais já estava presente na década de 30 quando as fórmulas iniciais de políticas de proteção ao patrimônio histórico e artístico nacional. Presente nas preocupações iniciais de Mario de Andrade, em 1936, e posteriormente, estabelecido como experiências pontuais, o patrimônio cultural – imaterial só foi objeto de reflexão mais detida a partir 1997, com a proposta da Carta de Fortaleza.” (SANTOS, 2004).

Segundo Carlos Lemos,

“Patrimônio Cultural é o conjunto de bens culturais, bens de preservação, monumentos artísticos, arquitetônicos, produção cultural humana e social, pertencente à sociedade. O movimento preservacionista no Brasil surgiu na década de 30 para garantir que a memória nacional fosse preservada, teve início a discussão de uma série de argumentos, temas e valores que corriam para se auto afirmar sobre novas concepções do moderno, inovador; submetendo a historicidade já presente nas manifestações culturais, movimentos sócio-identitários, ao julgo do popular oposicionista sem valorizar o que já existia cristalizado na vocação multiétinica e diversificante do povo brasileiro.”

Fez-se então presente a preocupação em manter a identidade cultural, e para tal prescendia a observação sistemática e científica dos processos de evolução cultural influenciados por agentes externos mutilantes. E Lemos descreveu assim esse processo:

“Em 1936 originários de mentalidades absolutamente produtivas artisticamente, como sem travas ou imposições ditatorialmente impostas, surgiu o projeto de preservação de Mário de Andrade e Paulo Duarte. Era abrangente e amplo em oito categorias Mario de Andrade descreveu o elenco patrimonial brasileiro. Todo o patrimônio em sua materialidade e toda a abstração e instrospecções imaginárias e mentalizadas. Criou o significante conceito de valorização de uma referência material em função de fatos significativos permeáveis nessa materialidade, dando origem a uma concepção de prática de visualizar a história, ou seja, retirou a história dos fatos e descrições narrativas e situou-a permeável na materialidade do patrimônio e na percepção concreta da realidade.

O projeto de Mario de Andrade determinou no Brasil naquele período a possibilidade de alterar o código vigente de contenção do conhecimento e acesso à cultura porque reformulou o conceito de produção cultural e os modos de transmissão dela. Nesse momento Mário de Andrade transformou o patrimônio cultural que se encontrava no âmbito da vivência humana em potente, transmissor e dinamizador.”(LEMOS, 1987)



Jacareí possui rico Patrimônio Histórico Cultural, material e imaterial composto de arquivos notariais, sítios arqueológicos, prédios, igrejas, monumentos, estradas seculares, contos e lendas, produções artesanais e industriais, acervos de objetos documentais, fotográficos e bibliográficos, memórias remanescentes de colonizados, escravizados e imigrantes libertários que construíram no decorrer dos quatro séculos o contexto histórico cultural de hoje.

Abandonado, deteriorado e sem valorização histórica, geográfica, sociológica, filosófica e econômica, o patrimônio não se rege sózinho. O Patrimônio Cultural se torna prestigiado e permeia o processo de formação e desenvolvimento identitário dos grupos humanos, a partir de suas valorizações sociais, educativas, pedagógicas e de exposição, apreciação, domínio público e tutela jurídica.

Para tal, é necessário a criação de política cultural que elabore esse projeto grandioso de reconhecimento e elaboração de registro e difusão do Patrimônio, e isso deriva de uma cultura política que absorva essas propostas inerentes à própria historicidade de cada patrimônio; uma política cultural que institua a cientificidade; que conceba o Patrimônio Histórico Cultural como instrumento de preservação e valorização da Vida Humana.

A Defesa do Patrimônio no Brasil se dá na esfera federal através do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN, e este substitui o precedente Órgão Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional SPAHN criado em 13/01/1937.

Na esfera estadual existe o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico Artístico e Turístico - CONDEPHAAT criado pela a Lei 10.247 de 22/10/1968 e confirmado na Constituição Estadual de 1989.

Na esfera municipal existe CODEPAC e o Fundo de Patrimônio Cultural FUPAC criados pela Lei 4557, de 26/12/2001.

Para que a legislação vigente se torne instrumento de defesa do Patrimônio Cultural se faz estratégica a difusão de educação patrimonial em abrangentes setores da sociedade visando a transformação da mentalidade brasileira, que permeada por cultura política vigente muitas vezes associa progresso a destruição ou revogação do passado; causando danos irrecuperáveis ao Patrimônio. Seguem os conceitos básicos primordiais enunciados pela Superintendência de Museus, órgão da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais.

O que é patrimônio cultural?

“Entende-se por patrimônio cultural toda a produção humana, de ordem emocional, intelectual, material e imaterial, independente de sua origem, época, natureza ou aspecto formal, que propicie o conhecimento e a consciência do homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o rodeia. Esse conceito se conjuga com o próprio conceito de cultura, entendida como um sistema interdependente e ordenado de atividades na sua dinâmica, em que não se separam as condições do meio ambiente daquelas do fazer do homem; em que não se deve privilegiar o produto-habitação, templo, artefato, dança, canto, palavra em detrimento das condições históricas, socioeconômicas, étnicas e ecológicas em que tal produto se encontra inserido.

O que é bem cultural? Em seu sentido amplo, compreende todo testemunho do homem e seu meio apreciado em si mesmo, sem estabelecer limitações derivadas de sua propriedade, uso, antiguidade, ou valor econômico. Os bens materiais podem ser divididos em três grandes categorias:

- Bens naturais: rios, cachoeiras, matas, florestas, grutas, climas (patrimônio natural);

-Bens materiais: sítios e achados arqueológicos (patrimônio arqueológico); formações urbanas e rurais (patrimônio urbanístico); agenciamentos paisagísticos (patrimônio paisagístico); bens móveis como objetos de art, objetos utilitários, documentos arquivísticos e iconográficos; bens imóveis, como edificações rurais e urbanas (patrimônio artístico e arquitetônico); e

-Bens imateriais: tradições e técnicas “do fazer” e “do saber fazer” humanos, como polir, esculpir, construir, cozinhar, tecer, pintar, e outros (patrimônio intelectual); as expressões do sentimento individual ou coletivo, como as manifestações folclóricas e religiosas, a música,a literatura, a dança,o teatro, e outros ( patrimônio emocional)”.





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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Entrevista Adelmir Morato de Lima sobre História Cultural e o Museu de Antropologia do Vale do Paraíba.

P - Pergunta de Cesira Papera.
R - Resposta de Adelmir Morato de Lima

R- Olha Cesira, primeiro é um pouco difícil e um pouco complicado relembrar tudo isso, agente conversou bastante sobre isso, não deixei claro, mas conversamos muito sobre isso; mas é assunto que eu tenho de entender de maneira geral. Eu acho que você está criando uma possibilidade muito interessante de eu dar uma forma a tudo isso. Acho que é uma história bonita, não é uma história só minha, é de um grupo de pessoas e uma história muito bonita, história acho que muito cheia de contradições, mas acho que, sobretudo é uma história muito cheia de violência né? Acho que relembrar tudo isso, é um pouco de minha dificuldade é de ainda relembrar de coisas, de atos de violência muito grande que foi cometido nesse processo todo que é uma coisa que deixou muita mágoa. Mas, acho que é necessário entender e acho que é importante dar uma perspectiva política a tudo isso, talvez a grande contribuição que você traz; porque eu já nem queria falar sobre esse assunto, é agente dar um sentido político porque não deixa de ser uma história pessoal de mágoa e uma história política, talvez seja essa a grande contribuição que você vem trazer.


Eu entrei meio por acaso nessa história da defesa do patrimônio cultural. Isso começou acho que mais ou menos no final da década de 70, eu entrei mais por acaso; havia um grupo de jovens de Jacareí que estavam pensando a possibilidade de criar um museu, mas um museu mais moderno com visão política dentro de uma visão ideológica de esquerda né? E a partir desse grupo acabei entrando né, no final da década, acho que mais ou menos 79, eu entrei participando de um programa que eles chamaram de museu de rua, era uma experiência muito nova, muito interessante onde se faziam painéis contando a história do município e esses painéis fotográficos eram colocados na rua então já se contém um primeiro paradigma aonde as pessoas iam lá como se fosse uma igreja, né um tempo onde as pessoas iam reverenciar uma história. Já produzidas pelos vencedores e a idéia nossa era exatamente o oposto, era pensar numa historicidade contada a partir dos vencidos e levar essa história para rua, e foi aí que eu entrei meio cambaleando, meio sem saber onde estava entrando; fazendo entrevistas, talvez um pouco parecido com o quê você está fazendo agora quer dizer, não com a experiência e conhecimento que você tem, porque a gente não tinha essa formação teórica, por exemplo, que você tem.

Então agente fazia as histórias, era a memória oral, basicamente que agente tinha o nosso objeto de pesquisa, e agente ia fazendo levantamento de histórias, ia produzindo esses conhecimentos e isso ia se transformando em textos bem sintéticos, bem escritos e tal e depois esse museu foi para rua, então as pessoas podiam comparar alguns edifícios antigos que tinham sido marcos importantes da cidade, que já tinham sido destruídos, então você mostrava a fotografia de hoje e contava aquela história, e foi uma coisa muito interessante, foi emocionante né? As pessoas verem aquilo e descobrirem que a cidade teve um passado muito rico, muito interessante e a partir disso surgiu um grande movimento. A idéia era criar o museu de antropologia, quer dizer, essa discussão, essa questão de que tipo, a característica que teria esse museu, já foi uma discussão ferrenha, porque se queria na verdade era continuar com o padrão de museus que era determinado pela Secretaria de Estado de Cultura, eles tinham um departamento lá chamado...acho que era Divisão de Museus, onde eles incentivavam os municípios a criar o que eles chamavam de museu histórico pedagógico. Então, em todas as cidades, mais antigas tinha um museu histórico pedagógico e botava o nome de um figurão da cidade, aí contava essa história oficial, tinha a galeria dos prefeitos, as galerias das autoridades e agente tinha uma aversão muito grande a esse tipo de coisa, então vamos pensar no Museu de Antropologia, se agente conseguir ter outros elementos nessa interpretação.

A história não é única, tem o outro lado dos vencedores, então nessa polêmica toda acabou prevalecendo a idéia de se pensar no MAVP. Quer dizer, esse grupo, ele já tinha começado o trabalho então não fui eu que comecei, esse grupo já tinha pensado.

Eu acho que o idealizador desse projeto foi o Osmar. Foi ele que pensou em tudo isso e eu entrei já no segundo momento imediatamente após se pensar nesse projeto; o Osmar saiu, já por divergências políticas né? E eu continuei, quer dizer eu continuei, mas continuei um projeto que ele já tinha pensado, quer dizer, o meu papel foi... com o tempo eu fui me encantando com esse projeto, com a idéia do Osmar.

Eu achei que o projeto era muito bonito. Eu acho que uma das características do Osmar é ter essa capacidade de enxergar 50 anos na frente. Ele sempre foi assim. Eu fui me encantando com esse projeto. O Osmar teve problemas políticos e se afastou e eu fui o fio condutor. Talvez por isso eu tenha ficado mais exposto politicamente né? Então muita gente começou esse projeto e depois parou. Cada um foi cuidar da sua vida e eu fiquei ligado a ele.

P - A maior parte das pessoas que estava envolvida nesse projeto estava ligada a esfera da administração ou existia trabalho voluntário?

R - Trabalho voluntário. A maioria das pessoas era voluntária. Pessoas que não tinham vínculo nenhum com prefeitura, não eram empregados não eram concursados. Era trabalho voluntário. Era até porque Jacareí não tinha, nem existia concurso publico naquela época. Pessoas da comunidade que se sensibilizavam com esse projeto e entravam de corpo e alma. Pessoas que se dedicavam, faziam pesquisas, faziam reuniões mais ou menos toda semana à noite, se entusiasmaram. Quer dizer foi um projeto, como diz bem o Osmar, quer dizer é um projeto que nasceu da comunidade, e o prefeito da época Benedito Sergio Lencioni, ele tinha identidade com esse grupo se identificava com esse grupo, então ele acabou trazendo essa idéia para... vamos dizer assim ele institucionalizou esse projeto aí ele se torna um projeto oficial.

P: Esse grupo tinha denominação específica?

Não, não tinha. Eram pessoas da comunidade que na verdade, tinham algumas afinidades, eu acho que essas afinidades eram muito mais ideológicas né, havia uma afinidade ideológica e acho que no final da década de 70, não tinha muito espaço de participação né, as pessoas não tinham muito que... Agente estava vivendo uma fase de acho que de abertura política, mas ainda na cidade do interior essas coisas não eram muito claras ainda e essas pessoas viam na possibilidade de um projeto cultural de reascender essa esperança, era a esperança da abertura política então, havia um clima, um desejo muito grande de que as coisas pudessem ser diferentes, que agente pudesse romper com os paradigmas antigos, esse clima de abertura de liberdade eu acho que aí agente entra com a história do patrimônio, entra exatamente nesse momento.

P - E você se lembra de alguns nomes além do Osmar, alguns nomes da época que trabalhavam próximas a você e ao Osmar?

R: Tinha muita gente assim que vinha, saía, vinha, ficava um tempo, mas acho que a Maria Lúcia Sant’Ana, é uma pessoa importantíssima nesse processo; o Osmar de Almeida, o Benedito Sergio Lencioni, que era o prefeito, haviam outras pessoas, a Alicia Nodherman, pesquisadora do INPE, e pessoas que sempre davam suporte. Havia uma pessoa que sempre dava suporte, havia uma pessoa que foi uma maestra nossa nesse processo todo, chamada Waldisa Russio Camargo Guarnieri, era uma museóloga ligada a Secretaria da Indústria em São Paulo e o projeto dela era o Museu da Indústria. Então ela tinha uma concepção. Era uma pessoa de um intelectual, muito bem articulada, né quer dizer ela era uma referência para agente, e ela trazia essa coisa viva de romper os paradigmas, num clima de romper as estruturas políticas, abertura política, uma nova proposta museológica, a história dos resíduos né, então ela foi um suporte teórico muito importante para agente. Ela foi um parâmetro durante todo esse processo, uma pessoa extremamente importante.

P - E é nesse momento que você começou a trabalhar na administração publica?

R - Bom, o Osmar tem alguns problemas políticos lá com o irmão do prefeito, ele saiu e o Osmar me convidou para dar continuidade ao trabalho dele. Aí o Osmar sai, acho que eu devo ter entrando em 1981, quando o Osmar saiu, já era funcionário da prefeitura, quer dizer não começou como funcionário; e eu fui incorporado a esse quadro, aí ele saiu e eu entrei, aí foi uma história longa né, eu fiquei acho que uns 13 anos.

P - Então você entrou já trabalhando nessa área?

R - Exatamente trabalhando dentro do museu. Porque o projeto inicial, qual era? Foi feito o museu de rua, se levantou uma série de coisas importantes e agente começou a pensar a questão do patrimônio, era muito mais amplo do que inicialmente agente imaginava, quer dizer não era só um museu de rua, recolher fotografias e entrevistar as pessoas. A partir disso começou a surgir uma série de outras indagações também e aí tinha o próprio prédio do museu que é por si só um objeto museológico importante, um edifício neoclássico de 1857 e havia o projeto de restauração desse prédio. E o projeto de restauração também já era uma área muito abrangente. Quer dizer, essa restauração tem que rever todas as intervenções, todas as épocas, quem morou, a própria história do prédio é a história do Vale do Paraíba também? Não é? E aí começaram a surgirem muitas outras oportunidades, quer dizer patrimônio cultural não é só preservar um prédio é ver a questão da arqueologia, a questão da cultura popular, a questão da construção do acervo, que tipo de acervo, ele é significativo, que tipo de acervo não é significativo, e tudo isso é uma escolha política, não é? Então Cesira, isso foi para a gente... Isso era um processo, (12:07) o Osmar estava lá fora, mas ele estava mais dentro do que fora; ele acompanhava tudo, tudo. Ele nunca deixou de fazer parte daquilo nunca, nunca. Ele nunca tirou o pé lá de dentro e nem a cabeça. Então para agente era um processo angustiante, porque agente estava numa época de abertura política e agente contestava tudo que era historia oficial, mas era para agente uma relação muito ambígua, quer dizer, como é que você estava dentro de um poder, um prefeito que tinha sido eleito, da ARENA; e agente propondo uma coisa nova, era uma coisa muito angustiante para agente quer dizer como é que agente conserva um prédio de um coronel da época do café, que foi escravocrata, se nos éramos da esquerda? Então era uma coisa de juventude mesmo, de dizer, olhar de separar coisas que às vezes não se separavam e agente queria fazer um corte que isso aqui era de direita isso aqui era de esquerda, e agente já viu lá na frente que as coisas estavam mais misturadas do que agente imaginava; que essa divisão era muito mais complexa e muito mais difícil né? Então acho que a restauração do prédio... Foi a primeira grande tarefa.

P - E todo esse processo foi administrado por você?

R - Não. Aí tinha a Maria Lucia Sant’Ana que era a museóloga, que era a pessoa responsável, tecnicamente era responsável, ela fazia o curso de museologia das primeiras turmas que estavam se formando no Instituto de Museologia de São Paulo e agente dava todo o suporte da formação dela; agente fazia os trabalhos agente ajudava ela, mas aí...

P - Aí nesse período a sua formação era? (13:60)

R - Não. Eu não tinha. Eu vim adquirir essa formação técnica depois, porque só havia o curso de museologia. E, na verdade eu só recebi o título muito tempo depois, quando a profissão de museólogo foi reconhecida no Brasil, quem já vinha um tempo atuando na área a comprovado, recebia o título de museólogo. Eu comprovei tudo, a minha passagem e tudo mais, na verdade eu nem requeri o diploma eu achei que não havia... Eu já estava afastado e tal, mas....

P - Então nesse período, como formação acadêmica você era?

R - Eu estava estudando ainda psicologia depois é que eu fui fazer o curso de patrimônio cultural na USP, um curso de patrimônio cultural, curso de especialização de patrimônio cultural que foram os primeiros cursos, depois eu fiz administração de cultura na Fundação Getulio Vargas que também foi a primeira turma.

Quer dizer, com o tempo é que foram surgindo essas coisas porque nem havia academia para isso; a preocupação com o patrimônio cultural ele não tinha essa preocupação acadêmica era muito raro né, depois é que começaram a surgir esses cursos, foi então um processo e no meio do caminho foi se embasando teoricamente.

P - Então o Museu de Antropologia do Vale do Paraíba se formou enquanto uma necessidade abrangente de... vamos dizer, de um espaço cultural, de criação de uma mentalidade...

R - Criação de uma mentalidade. Não era só o projeto do museu; e é interessante pensar isso hoje, não foi só no museu. Acho que talvez essa seja a grande percepção do que eu estou começando a ter hoje quer dizer, aqui era um espaço físico onde um grupo de jovens que sonham com abertura política, que desejam se expressar, desejam criar coisas novas, desejavam ter uma atuação social e encontraram naquele espaço, uma possibilidade de realização do sonho, então não era só o museu tanto que se agregam a esse discurso a questão da ecologia, muito da questão dos partidos de esquerda do município que havia uma identificação muito grande com o próprio PT, que tinha uma identificação muito grande com esse projeto e acho que aquele espaço era reconhecido como espaço de atuação de esquerda, de história reconhecida. (16:17) Agora o que era mais interessante de tudo é que era um prefeito da ARENA, né? Era um prefeito da ditadura militar. E é interessante agente observar hoje é que ele tinha uma tolerância muito grande com relação a esse grupo. Ele tinha uma tolerância grande, o que a gente vê depois lá na ponta quando essa abertura política se consolida e tudo mais, que as pessoas que eram da esquerda na época que se posicionavam de maneira ferrenha contra tudo que era da direita e tudo mais, elas passam a ser extremamente intolerantes e a rejeitar com muita violência esse grupo. É uma coisa muito estranha.

P - Praticamente deu origem à essa discussão que...

R - Que deu origem, que impulsionou a discussão no partido, que canalizava os anseios da sociedade, que sonhava com espaços públicos como possibilidade de implementação e projetos sociais, de interesse popular, etc, etc, etc; depois eles se identificam com isso, crescem com isso e quando assumem o poder, negam a existência de tudo isso, até porque parece que os interesses eram outros né, a gente vai perceber isso depois. (17:30)

Mas, acho que a sua pergunta para mim é a chave de tudo isso. É a chave; então não é a história do museu, é a história talvez de uma mentalidade. História de um grupo de jovens que dentro de um cenário político;... é importante a gente entender que cenário é esse que aconteceu no final da década de 70, início dos anos 80 abertura política, sonho de liberdade, desejo de participação social, articulação do discurso que se dava muito em torno da participação popular e aquele projeto, aquela idéia do museu era o que estava, era o que possibilitava essa expressão, e tudo que era pensado nessa questão do museu era pensado do ponto de vista ideológico. (18:07) Se você constitui um acervo e coloca dentro de uma casa, cada objeto que tem ali é da história de um vencedor e de um vencido, então a gente tinha um critério, aliás acho até que era excessivo, porque hoje penso algumas coisas de maneira diferente, mas agente tinha um pavor na possibilidade de pensar que esses objetos fossem testemunhas da história dos vencedores . É claro que nisso é muito mais complexo lá na frente agente vai ver que não é tão fácil. A história é mais complexa do que isso.

P - Depois foi um outro prefeito Osvaldo da Silva Arouca, que conseguiu concretizar o projeto de restauro?

R - É, mas só que antes de Arouca, teve um, se você pegar aquele artigo da revista de museologia, aliás, aquela foi a 1° revista de museológica do Brasil. E eles tinham um respeito tão grande pelo que se pensava em Jacareí, era um laboratório, era uma experiência com relação à área de patrimônio cultural, que a Waldisa que era uma pessoa intelectual da área das academias, ela via naquilo uma experiência fantástica. Ela achava que dali surgiriam novos parâmetros para pensarmos a sociedade. Aí você começa com Arouca.

P - E você me disse que antes disso, antes do término do restauro existiu uma ação da Waldisia, da museóloga.

R - Aquele artigo que está escrito na revista de museologia, aliás, só falando um pouco dessa revista ela foi a 1° revista de museologia feita no Brasil e eles dedicaram e pediram para eu escrever um artigo grande sobre a história do museu e por quê? Porque a Waldisa, ela achava que o quê se fazia em Jacareí era um laboratório muito interessante; que aqui se pensava a questão da museologia de maneira muito original, peculiar. Ela achava que a gente rompia com esse paradigma de museozinho histórico tradicional, e tudo mais. Então acho que foi uma grande homenagem que ela fez para agente, quer dizer, no Brasil inteiro você escolher uma cidade do interior e contar essa história, então ali é um pedaço daquela história e o que se segue depois. Esse prefeito o Bene, ele sai e entra um outro prefeito que era mais identificado com as idéias de esquerda, mas que também não traz muita contribuição para esse processo. Quer dizer eles não conseguiam pensar essa idéia de patrimônio cultural como política pública, então as coisas ficavam muito em idéias muito etéreas muito: “Precisamos preservar isso, é muito bonito; isso é importante”; mas não destinava recurso público: X% do orçamento vai para a restauração do prédio, vai para a preservação do patrimônio histórico; vai para mancha urbana, aquela área central da cidade onde estavam os edifícios antigos, e isso não se transformava em recurso financeiro, então não havia uma política pública, e isso foi uma coisa terrível porque agente continuava sonhando, continuava pensando, fazendo projeto, mas não tinha recurso financeiro.(21:50)

P - Você tinha um grupo de pessoas consistente nesse período que te acompanhava em decisões , ou programações?

R: Não Cesira. Oficialmente tinha eu como funcionário, tinha mais dois funcionários auxiliares, mas de quem eu tinha apoio era só das pessoas de fora. O museu continuava uma pessoa só oficialmente de dentro um grupo de pessoas que continuava ajudando, contribuindo, torcendo, levando informações, chegaram a criar a Sociedades Amigos do Museu que era uma maneira de você fazer pressão política sobre o prefeito para que isso se tornasse recurso financeiro.

P - Por que, as verbas para o museu vinham só da prefeitura? (22:28)

R - Só da prefeitura, as verbas eram escassas, mínimas, mínimas...

P- Era através da Secretaria de Educação ou o Museu era autônomo?

R - Não. O museu na verdade é..., ele era ligado vamos dizer assim... oficialmente ele era ligado a Secretaria de Educação mas politicamente éramos separados. Não havia interferência entre a educação e esse museu, porque a idéia era se criar uma fundação para se administrar o museu; então na verdade era um espaço meio solto dentro da administração que ninguém queria: “O prédio não cai porque eles ficam olhando lá”. Então a gente se tornou um pouco vigia daquele espaço já que não tinha recurso financeiro.(23:45) Tinha um projeto de restauração definido, muito bem definido, muito bem feito, muito bem elaborado, né... mas não tinha recurso financeiro. Aí é uma fase terrível, muito angustiante também porque chovia, caiam paredes, não rinha recurso financeiro não é?... E isto não se transformou em política publica, até que mais ou menos no final do governo do Thelmo Aldemir Cruz se cria uma Fundação Cultural, mas na verdade era uma fundação para administrar o Museu; não era uma fundação que fazia teatro e tinha outras atividades culturais. (24:21) Uma fundação para administrar o Museu que continuava não tendo recurso financeiro. Então este foi o grande problema, nunca se transformou numa política publica, nunca! Era um sonho que estava escrito no papel, mas quando você pega recurso financeiro era insuficiente para manutenção do próprio prédio quanto mais para o restauro.

P - Trabalhava ali na época, você e o historiador Sávio?

R - Não. Essa época não. Depois eu começo agregar algumas pessoas à esse projeto. Alguns historiadores; agente fazia contratações temporárias porque eles não queriam abrir o concurso publico, eles não queriam montar uma equipe técnica e aí eu achei interessante observar porque na verdade esse projeto era muito, tinha identificação de pessoas que pensavam muito diferente, isso estava muito evidente, né? Então não era muito interesse que se aplicasse recurso financeiro a esse trabalho aparecesse de alguma maneira, não havia, claramente não havia esse interesse, então o máximo que agente fazia era contratar historiadores, antropólogos, e nesse período curto que eles eram contratados eles produziam algumas pesquisas historiográficas, faziam um trabalho muito interessante, então era um trabalho de formiguinha, coletava aqui, coletava ali, coletava acolá, com pouco recurso; agente comprava acervo basicamente no começo, foi acervo de arte popular, agente chegou a fazer levantamento em toda região do Vale do Paraíba sobre... reunimos um acervo muito rico sobre arte popular é... eu acho que na época agente produziu um documentário muito interessante sobre os pintores populares os chamados pintores primitivos e isso saiu inclusive um livro em edição bilíngüe. (26:25) Não havia vídeo naquela época, então fizemos um áudio visual que inclusive ele foi selecionado na época lá na USP para representar o Brasil no Canadá, então quer dizer com toda as faltas de recursos agente conseguia produzir coisas dentro daquela linha de originalidade, burlar todas as dificuldades, todos os problemas, a gente conseguia ter um produto cultural; na bacia das almas! Esse trabalho tinha esse reconhecimento, e não tinha reconhecimento só da cidade, mas de todas as instituições culturais. Eu me lembro que a Folha de São Paulo fez um artigo muito interessante elogiando o trabalho que agente fazia aqui em Jacareí.

P - O encaminhamento desses projetos, eles passavam pelo crivo do administrador público, ou de algum assessor direto do prefeito?

R - Não passava. Eles não davam dinheiro e deixava agente ficar à vontade lá, então o que agente fazia, corria atrás de empresas, conseguia dinheiro e fazia livros de arte, conseguia dinheiro por fora, por doações agente conseguiu comprar o acervo de arte popular.

P - Era uma auto gestão praticamente do próprio museu sobreviver. Era uma auto gestão?

R – Exatamente, era uma auto gestão; a sociedade amigos do museu arrecadava um pouco de dinheiro, financiava às vezes viagens que agente tinha que fazer.(27:40) Financiava a confecção desses documentários que agente fazia sobre os artistas. Então era uma coisa assim que, é: ”Deixa eles lá, deixa eles lá” E agente se virava na medida do possível.

P - E esse período é em torno da década de 80?

R - Acho que é final da década de 80. Não sou muito bom para data, mas acho que é final da década de 80, então criaram, oficializaram uma fundação; então havia uma instituição, a lei votada na Câmara. Fundação que administrava o Museu que tinha objetivos muito nobres tal e que se for você olhar não tinha funcionário, quer dizer tinha eu, né! Tinha eu e dois funcionários da limpeza. Quem mantinha aquilo tudo eram as pessoas que estavam fora da prefeitura.

P: E não existiam diálogos? Diálogos com administração ou com a assessoria. E o legislativo, como que se comportou até esse projeto, até esse período que você descreve. Qual foi a posicionamento do legislativo com relação a isso, com relação ao Museu; ou aos projetos que deveriam ser encaminhados pelo Museu?

R - Acho que eles viam com uma certa estranheza, quer dizer meio complicado falar de patrimônio cultural, falar de museologia, isso era conceito totalmente desconhecido desse povo, eles não davam muita importância para isso, eles achavam meio exótico um bando de estranhos. Eles não entendiam por quê o Museu não acabava nunca, um restauro que não... Não acabava porque não tinha recurso financeiro, mas também não acabava porque não tinha recursos financeiros; mas também, nunca ninguém chegou lá, falou: “Vamos votar, vamos aumentar essa verba”. Eles não sabiam o que é que agente fazia, eles não tinham noção disso, era uma coisa muito elementar, muito... quer dizer não mudou o perfil da Câmara né? (29:30) Não mudou nada; eles na maioria, um rol de sessões com gente ignorante, estúpida, que não sabia de nada e que não tinha muita importância; quer dizer aquilo não era uma área de interessante deles. Não tinha nenhum, quer dizer, como era o dialogo com a administração, com o prefeito Thelmo. Não dava recursos financeiros; acho que a resposta esta dada, né? Acho que a mulher dele é quem tinha um pouco mais de interesse, mas um pouco mais na frente ela vai se tornar inimiga número um desse projeto todo, né?

P - Em algum momento ela demonstrou um interesse?

R - Ela demonstrou interesse sim. Ela tinha uma sensibilidade maior para essa questão. Aparecia pouquinho de recurso financeiro que foi muito mais por iniciativa dela e não do prefeito.

P – Da Sonia Bonano?

R - Então se se conseguiu fazer algumas coisas, trocar o telhado, fazer o piso, quer dizer algumas coisas foram feitas, mas por sensibilidade dela. Acho importante agente ter claro que não havia uma política publica. (30:52)

P - E ela estava na esfera administração do Museu ou não?

R - Não. De maneira nenhuma. Ela estava mais no Fundo Social de Solidariedade, era uma coisa que ela se identifica, às vezes ela exercia alguma influência no marido para que saísse algum recurso financeiro para a fundação, mas isso não é uma política pública, então quer dizer eu acho que é um aspecto interessante dessa história, você vive da gratidão né? Do político “Agora sim”, “Agora esquece”.

P - A possibilidade ou a sensibilidade de quem tem a influência junto ao político, de sensibilizar ...

R - Exatamente. De alguma influência de alguém que se sensibilize em algum momento e diz: “Vai lá da um pouco de grama lá” e diz “ não deixa o prédio cair”. Então vivíamos dessas migalhas o tempo inteiro.

P - Visto que o Legislativo também não tinha possibilidade de diálogo.

R - Não tinha, porque não tinha interesse, não reconheceu isso como uma coisa importante para cidade.

P - Nesse período já tinha se iniciado um movimento em termo de defesa de patrimônio?

R - Eu acho que ampliou mais acho que se ampliou um pouco mais esse grupo aumentou com a criação da Sociedade Amigos do Museu; eu acho que agente tinha um grupo de pressão política, mas o problema é que esse cada vez mais esse grupo se identificava mais com os grupos de esquerda, quanto mais ele se organizava fora, mais por dentro eles diziam não! Então ele crescia fora, quer dizer a pressão, carta para imprensa, denúncia na imprensa. “Esta chovendo ali dentro do Museu e ninguém faz nada. O museu está largado!” Não tem recurso financeiro, né? Havia essa pressão, ela foi aumentando, quer dizer aumentava a pressão cada vez mais quer dizer, a minha situação ali dentro ficou mais difícil, porque eles achavam que eu era porta voz desse grupo, então porque eles iriam colocar recurso financeiro, né? Se esse grupo era identificado com outras ideologias?

Essa era uma briga um pouco freada, né quer dizer ninguém estuda isso de maneira clara, mas todo mundo sabia.

P - Você em algum momento se sentiu ameaçado com relação à sua função, ao seu emprego, trabalho?

R - O tempo inteirinho, o tempo inteirinho era andar em um fio da navalha o tempo inteiro havia pressão da câmara municipal para minha demissão, havia pressão muito grande porque eles diziam: “esse rapaz é de esquerda. Isso é um absurdo, aquilo é um antro de gente de esquerda. Eles ficam fazendo reunião até altas horas da madrugada”. Como se agente tivesse o grande poder de mudança, né? Então eles achavam que aquilo era um antro de esquerda eles falavam isso! Talvez esteja aí uma das explicações para não dar recurso financeiro “Vamos matá-las a mingua”.Mas acho interessante essa coisa bipolar, quer dizer você tem uma instituição oficial sem dinheiro, sem recurso nenhum, sem política pública definida e um grupo da sociedade exigindo que eles tomem providência, então eu no meio da história, tentando equilibrar; então algumas coisinhas foram feitas no governo do Thelmo, mais por iniciativa da mulher dele. Ela é uma pessoa mais sensível à área cultural. Bem, aí ele sai entra o outro governo do Oswaldo Arouca, aí a coisa toma um rumo meio diferente.

P - Mas toma um rumo diferente por quê?

R: Porque quem passa a presidir a Fundação Cultural é a Ada Arouca, aí você tem uma pessoa com uma formação intelectual muito f..., muito consistente. Uma boa formação filosófica. Aí você senta, deixa rola, né? Aí você conversa, aí você tem uma dimensão aquilo, quer dizer ela entendeu o quê agente queria ela se identificou com aquilo que agente queria Ela se identificou com aquilo que agente queria.

Aí o que acontece? Quer dizer ela entendeu o que agente queria. Ela se identificou com projeto que ela já conhecia.

P - É a professora Ada Cherubini.

R - É a Ada Cherubini Arouca, aí o que acontece, ela diz... não! Quantos anos vocês estão lutando para restaurar esse prédio, há quantos anos? Então nós vamos fazer isso!

Aí o que acontece, começa a aparecer recursos financeiros, aí começa à aparecer a questão do patrimônio; aparece como política pública. Não sei quantos milhões de reais que eram destinados por ano para desenvolver esses projetos, aí se transformam, pela primeira vez aí agente tem recursos financeiros para implementar essas políticas e aí a coisa toma dimensão extraordinária ela torna dimensão extraordinária. (35:20)

P - Mas era esse objetivo quando foi criada a Fundação, na administração anterior do Thelmo, foi criada a Fundação, era esse o objetivo?

R - Era esse o objetivo, porque essa fundação administra...

P - Mas a fundação, como aconteceu o processo da efetivação da fundação como ela foi efetivada, em que termos ela foi discutida, em que âmbito da esfera do poder ela foi discutida, foi discutida entre vocês e a Senhora Sonia Bonano que tinha sensibilidade para perceber que tinha necessidade de uma institucionalização para o museu? (36:05)

R -Não... Esse trabalho saiu desse grupo, o Osmar; Osmar foi uma pessoa que ajudou a desenhar esse estatuto. Eu, quer dizer... todo esse grupo quer extra oficial, agente compôs agente desenhou esse estatuto.

P - Da Fundação Cultural de Jacareí?

R - Não essa fundação que tem hoje. Da fundação que administrava o Museu. Nós fizemos o estatuto e a Câmara aprovou e ficou lá, não se cumpriu. Quanto a Ada Arouca entra, ela diz, “Não vamos dar recurso financeiros, vamos transformar isso em Política Publica”. Aí começa a surgir o orçamento, né. Aí você contrata uma empresa, faz processo de contratação, uma empresa especializada. Executa todo o projeto de restauração e aí começa a surgir coisa um bem muito interessante. Quer dizer, talvez Cesira, uma das coisas mais importantes é que toda atividade que agente fazia era sempre uma possibilidade que agente tinha de ensinar as pessoas, de envolver as pessoas no projeto, é uma das condições que agente exigiu da empresa que fez o restauro é que boa parte dessas pessoas que fariam a restauração de pintura, as restaurações mais delicadas fossem contratados em Jacareí.

Então vinham os técnicos, mas boa parte com o pessoal era treinada aqui em Jacareí e uma dessas meninas a Maria Luiza Recco, que trabalhou no restauro dessas pinturas que tiravam doze, treze camadas de tinta até chegar na pintura original; essa menina hoje ela mora em Paris e ela trabalha com um dos maiores restauradores do mundo, eu não lembro o nome dele e eu sei que é grande especialista em restauração de arte Egípcia. Ele trabalha para o Museu do Louvre e a Maria Luiza trabalha com ele, ela é daqui de Jacareí.

P - Iniciou o trabalho aqui?

R- Iniciou aqui, a paixão dela começou aqui, aí surgiram uma serie de outros restauradores de cerâmica, que hoje estão na Espanha. Vários deles seguiram essa linha. Aí bom... tem recurso financeiro, tem dinheiro, foi feita toda a restauração do prédio, foi fantástico, foi muito bonito, toda a restauração. Se pensou em espaço de atividades lá dentro, se montou um auditório muito bonito, porque a idéia era que aquilo fosse um espaço de discussão de se pensar o Vale do Paraíba. A concepção: um museu que pensasse o Vale do Paraíba, a realidade do Vale do Paraíba; que discutisse o passado, mas que se discutisse a realidade também.

Era um grande fórum de debates para se pensar o Vale do Paraíba, então se montou o auditório.

P - Esses espaços criados ali dentro tiveram uma predominância do quê vocês imaginavam para o museu ou teve um projeto museológico distinto que especificou a criação daqueles espaços como o auditório, como a sala de aula que trazia as memórias do “Grupão”?

R - Não. Tudo foi pensado, e mais uma vez esse grupo, fora do poder público, ele estava separado do poder publico, eles estava separado do poder publico! Então era o que, que tipo de Museu nós vamos fazer? Essas idéias surgiram das pessoas, que uma das coisas que predominou, é que as pessoas opinavam.

P - Você conseguiria fazer agora uma viagem pela casa me descrevendo os cômodos; como vocês imaginaram de utilizá-los e a conotação que tiveram depois de prontos. Começando do lado direito, começando pela sala das memórias.

R - Bom, a primeira preocupação que agente tinha era na entrada da casa, era que tivesse, respeitasse toda a suntuosidade da casa, que a arquitetura falasse por si só, que agente não queria muita interferência, poluição visual. O que agente discutiu com a empresa de restauração é que no processo de restauro agente deixasse marcas de outras épocas. Isso ficou, isso foi uma coisa legal. Bom, do lado direito tinha, nós reconstituímos uma sala de aula de aula e esse foi um dos pontos talvez mais fortes do projeto do museu, porque o prédio Solar Gomes Leitão funcionou como escola, escola pública durante muito tempo, acho que desde o começo do século XX. Ele funcionou como escola, então a referencia que a cidade tem do prédio, não é a referencia neoclássica, essa é uma visão mais dos intelectuais, dos arquitetos. Para a cidade aquilo é uma memória afetiva: “É ali que eu estudei, é ali que eu comecei minha história de vida”.(41:2)E agente ouvia muito disso: “ ah eu lembro disso, eu lembro daquilo” , aí o que agente percebeu; em uma das reuniões com várias pessoas, até que uma pessoa disse: “Ah, o que vamos colocar? É só ouvir o quê às pessoas estão dizendo para agente”. Quando as pessoas chegam aqui o que é que elas falam? Quando elas entram no prédio o primeiro lugar que elas querem descobrir é o lugar que elas estudaram, então isso é uma memória afetiva. Então falamos, então é isso. Então quer dizer as próprias pessoas que freqüentavam a casa já deram uma pista para agente. Então fomos atrás de todos os materiais, as cartilhas da época, aí agente colocou cartilhas de períodos diferentes, porque o público era imenso, quer dizer desde o começo do século XX, então foram varias gerações que passaram por ali e então agente reconstituiu uma sala de aula, com livros de épocas diferentes porque em algum momento você ia se identificar com sua época, às carteiras reconstituímos os sons das salas de aula, foi uma coisa que fez um sucesso muito grande; o som de crianças subindo escada, que eles se referiam muito, aí o que, que nós fizemos; nós começamos a ouvir melhor o quê que as pessoas... “O que é que te lembra essa escola? Ah! eu lembro do som da escada, eu lembro da hora do recreio, eu lembro do barulho do sinal, sai na hora do recreio”. E agente reconstituiu tudo isso, tudo, tudo, tudo. (42:50) Então as pessoas sentavam tinha uma iluminação muito interessante bem adequada, tinha um sistema de som todo muito bem projetado. Então as pessoas sentavam na carteira e ficavam ouvindo esse som. Então aquilo causou uma verdadeira comoção. Então você veja, um projeto de extrema simplicidade as pessoas que sentavam ali e a idéia era preservar a memória afetiva das pessoas, a história de cada um então essa a primeira coisa. (43:20)

P - Criando um elo de ligação com aquele prédio que inicialmente era do Coronel João da Costa Gomes Leitão.

R - Justamente era de um coronel. Não era reconstituir a casa do coronel, mas era, mas era um pouco da história da casa, história dos comuns né? De todo mundo que passou por ali. Então foi reconstituída essa sala de aula, isso mereceu muita matéria em jornais, no Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo. Isso circulou muito no Brasil inteiro. Foi um projeto muito copiado também. Muita gente procurou agente para saber como agente tinha pensado aquilo. E um projeto de extrema simplicidade.

P - Ele surge em Jacareí como uma inovação e ele se expande, a idéia desse Museu não fica em torno desse grupo de pessoas que pensavam ao museu, nem em torno do prédio e nem em torno de uma administração que não sabia bem o que fazer com esse patrimônio, e essa idéia teve autonomia; ele cresceu.

R - Ela cresceu. Ela cresceu, ela cresceu, de repente cresceu é... Eu me lembro, me lembro de um artigo uma vez que saiu, acho que saiu no jornal, acho que foi na Folha de São Paulo não sei se ainda se acha essa matéria, se chamava Primitivos e Valentes em Jacareí. Primitivos porque era uma exposição que agente tinha de pintores primitivos e ela falava, a Haddad Abraão que era uma critica de arte, sobre a valentia de pessoas que trabalhavam sem (44:24) recursos financeiros; que ela não conseguia entender como produzia tantas coisas interessantes e rompendo coisas que ninguém via, ninguém tinha visto um museu daquela maneira. Bom,... ai voltando, reconstituição dessa sala que foi uma das melhores coisas que foi feita, depois do lado esquerdo ali foram feitas muitas coisas ali, foi arqueológico ali, (45:31) tinha uma sala de materiais de arqueologia, aliás, o capítulo de Arqueologia é uma (45:36) história a parte; com arqueologia depois você encontrava ali um corredor embaixo, onde nos transformamos em um bar, era uma idéia muito interessante que o museu fosse um ponto, continuasse a ser um ponto... Ele já era um ponto de encontro, o que agente queria (45:55) fazer com aquilo na verdade era dar uma situação mais agradável, um café, ou fazer um bar, fazer com que aquilo se tornasse um ponto de encontro que circulasse idéias ali, e foi (46:08) uma coisa muito interessante, uma coisa muito legal que deu um resultado extraordinário. Tinha espetáculos de Jazz, de Bossa Nova de instrumentistas, pessoas maravilhosas, de muitos pianistas jovens do Vale do Paraíba se apresentaram ali. Era uma (46:30) loucura, quer dizer, era uma loucura, estava se transformando em um negócio... E... Cresceu tanto que eu acho que agente não tinha muita dimensão de onde é que ia parar tudo isso. Depois, no fundo tinha a parte de... Tinha uma parte onde agente mostrava a taipa, (46:48) como é que foram as técnicas de intervenção no prédio que era uma parte maior, tinha a parte administrativa, como não tinha muita parte técnica, quer dizer eram poucas né? Depois agente subindo, tinha o Auditório um grande auditório muito bem montado, agente teve a preocupação de montar este auditório sem ferir o madeiramento, depois eles, depois eles desmontam esse auditório e montam em outro lugar e dizem que criaram um teatro em Jacareí. (47:14) Depois tinha nas outras salas tinha uma grande exposição, uma imensa exposição sobre arquitetura. História da arquitetura do Vale do Paraíba e acho que essa exposição foi uma das mais importante que agente fez; ela teve a curadoria do Dr. Antonio Luiz Dias de Andrade era do IPHAN – Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional. Era, era a única pessoa que tinha um levantamento de todas técnicas construtivas no Vale do Paraíba. Ele levou muito tempo, acho que levou mais, quase dois anos para montar essa exposição.

P - Com o material dele? (48:00)

R - Com todo material, o que faltava ele montou uma equipe com estudantes novamente o gancho: “nós queremos que você pegue estudantes de arquitetura do Vale do Paraíba para ajudar a montar essa exposição, a pesquisa e tal. Então se formavam grupos extraordinários de estudantes. Era uma algazarra, aquele povo. Era muito interessante.

E aí eles foram pesquisar fazer todos levantamentos das fazendas de café, outras técnicas construtivas mais rudimentares, das igrejas; então nós montamos uma enorme exposição, uma exposição muito bonita foi feita inclusive um documentário também. Eu acho que basicamente é isso; quer dizer, tinha outra sala que nós usamos do acervo de arte popular. Que nós levamos mais de três anos coletando a produção de arte popular em toda a (49:02) região do Vale do Paraíba. A idéia é que agente, é que as pessoas ao entrar naquele prédio tivessem uma noção clara do que se produz em termos de arte popular da arte figurativa e de arte popular de artesanato, de bom artesanato, artesanato que tenha habilidade manual. Então acho que foi uma coisa muito rica, muito interessante. (49:15)

P - E esses materiais utilizados para vocês conservavam ou era sempre devolvido para quem fornecia?

R - Não esses aí eram acervos. Tinham as alcovas também, que agente transformou em reserva técnica, né? Não era o espaço adequado porque a idéia como tinha crescido muito o projeto do museu, a idéia era que fosse desapropriada a área em volta, que se fizesse jardins em volta, aí agente já estava unindo um outro conceito, né? Que era questão da cultura e lazer.

Agente acha que essas coisas poderiam conviver juntas, né? Era fazer grandes jardins em volta do museu, espaço de lazer, feira de flores no final de semana, e ser um ponto de encontro também. E aí você faria uma reserva técnica à parte, né? Porque o prédio não tem muitas condições técnicas para abrigar acervo. É uma condição complicada. Tem um trânsito muito complicado na frente do prédio. (50:16)

Mas para isso foi feito um estudo muito interessante, do impacto que causaria o trânsito; olha naquela época há quantos anos, há mais de 20 anos atrás e aí entrou o Ricardo Ferraz com todo o conhecimento dele, ambiental. Ele fez uma pesquisa, por exemplo, sobre quantos automóveis passavam, qual impacto que causa, por exemplo, da fuligem, nas pinturas do prédio, e ele se utilizou conhecimento de grandes especialistas do Brasil na época; se produziu uma serie de relatórios, esses relatórios novamente eram manchetes no Brasil inteiro. (50:41)

“Jacareí apresenta estudo inédito de impacto da poluição sobre o acervo do museu e sobre o próprio prédio do século XIX”; pessoas ficaram encantadas e a partir disso muitos museus passaram a fazer esses estudos de impacto. Havia proposta de se pensar o anel viário respeitando o patrimônio desse prédio e daquela mancha urbana que tinha no centro da cidade. (51:20) A coisa ia sempre tomando uma dimensão maior.

P - Com relação às alcovas, você se lembra qual era a utilização delas antes; quando era ainda escola, quando vocês entraram no museu que ainda não tinha sido restaurado, aquele espaço das alcovas, você lembra o que era ali?

R - O quê era antes da gente...?

P - Antes do restauro do prédio. Eh... Naquele espaço, você lembra de alguma coisa ali... Existia? Ou tinham tirado as paredes e feito um corredor. O que eram as alcovas na configuração anterior?

R - O que eu sei é que no projeto, o quê estou lembrando agora é que no projeto de restauração se descobriu que houve uma alteração, que eles derrubaram algumas paredes e tal, não se sabia precisar exatamente o que era. E que depois eles recolocaram as paredes no (52:20) devido lugar. Isso eu lembro que eles fizeram, e foi uma coisa muito complicada porque tinha que mexer em algumas paredes que tinham pinturas então não podia ferir as pinturas então foi um processo bem complicado.

P - Mas era clara a existência daquelas alcovas ali, no período em que a casa era utilizada com residência?

R - Ah sim, através de introspecção na parede eles descobriram tudo isso. Tudo isso estava no projeto. Quer dizer essa utilização da casa, que eu lembro aqui, foi quando nós deixamos o museu. E que a idéia que tinha é isso, mas o projeto era... Mas a (53:06) idéia era, vamos continuar constituindo esse acervo. E que acervo é esse. Que acervo é importante? Essa era uma discussão permanente, permanente, permanente. Enquanto isso, acho que se desenvolveu paralelamente e é importante deixar muito claro, que agente tinha (53:19) uma preocupação, muito grande com a documentação histórica né? Aí agente já estava extrapolando, já não era só uma questão do museu. Ah, mas você pode perguntar, mas você poderia fazer um inventário. Essa história do inventário do patrimônio, ela vem surgir depois. Não havia isso, não havia essa concepção nem em Jacareí, nem em outra cidade. Hoje você vai desenvolver um projeto cultural um projeto de preservação numa cidade faz um inventário; você levanta tudo que tem, registra em que condições esta e aí você tem aquele documento mostrando um retrato. (53:40)xx.


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