Respostas de Cesira Papera ao Jornal SEMANÁRIO, em ocasião do aniversário da cidade de Jacarehy em Abril de 2011.
1 – Um ano inesquecível em Jacareí. Pode explicar brevemente como foi?
Muitos acontecimentos significativos ilustram a História de Jacarehy. Como “Villa” que surgiu em 1652, no início do processo de Colonização Portuguesa na América, nosso território Jacarehyense foi cenário das primeiras ações do desenvolvimento e avanço do sistema Mercantilista e do Capitalismo mundial com a geopolítica de dominação dos povos do mundo ocidental nos Seiscentos e Setecentos. A partir dos Oitocentos, um ano muito importante foi o de 1876 com a construção da Ferrovia e o surgimento do nosso 2º Centro Histórico, onde atualmente é a Praça Conde Frontin, e que projetou Jacarehy no Brasil Império como um pólo portador de capital financeiro, de difusão de Educação e Cultura e de desenvolvimento tecnológico, pois, com o surgimento do 2º Centro Histórico em torno da Ferrovia e da Estrada Velha São Paulo-Rio; Jacarehy se revelava também como uma sociedade urbana com vocação para acompanhar os avanços do desenvolvimento econômico mundial; este brio progressista e construtivo se refletia na população Jacarehyense que ocupava constantemente o espaço da Praça Conde Frontin para comemorações, manifestações políticas, de convivência e ação social, seguindo os moldes europeus de fortalecimento da identidade cultural e do poder popular, através das comemorações cívicas, históricas e religiosas; frente aos Poderes Constituídos. Esta prática de civilidade e participação social costumeira e cultivada pelos Jacarehyenses, ocorreu naquela Praça Conde Frontin, chamada Praça do Bom Sucesso até 2004, quando então o Centro Histórico de Jacarehy foi destruído pelas mãos e ação do então Prefeito Marco Aurélio de Souza.
No século XX, eu considero que o ano de 1992 tenha sido o mais importante para Jacarehy, dentro desta leitura de processos econômicos, histórico-sociais e culturais, pois em 1992 o então Prefeito Osvaldo Arouca esteve muito próximo de construir o HOSPITAL MUNICIPAL da nossa cidade e no mesmo ano, a Professora Maria Ada Cherubini, como Presidente da Fundação Cultural de Jacarehy, inaugurou o “SOLAR GOMES LEITÃO”, depois dos 13 anos de restauros, e instituiu informalmente o “Museu de Antropologia do Vale do Paraíba”, naquele edifício. Neste ano histórico Jacareí esteve muito próxima de se recolocar como cidade progressista e de vanguarda como sempre fora; pois demonstrou que possuía uma Cultura Política baseada na tecnicidade e preservação dos direitos da pessoa humana, incentivando na gestão pública os dois pilares fundamentais comuns a toda sociedade na História da nossa civilização: a SAÚDE e a CULTURA.
2 – Um lugar especial para passear em Jacareí.
Jacareí oferece vários lugares especiais para passear, pela sua própria posição e formação geográfica. Por exemplo, a SP-66 que liga Jacareí à Guararema, é uma Estrada com uma natureza ainda muito bonita, com reserva de mata Atlântica. Cresci em Jacareí e o passeio que meu pai proporcionava à nossa família era ir pescar em várias regiões da cidade, dizia que a água e a pescaria eram uma escola; logo, cresci com os olhos voltados para o quê Jacareí oferecia naturalmente, desde pequena eu via Jacareí vislumbrar; uma grande várzea com correntes de águas por todos os lados, cercada de morros e pequenas montanhas. De cima do Morro do Itapeva, do Morro do SESI podíamos ver toda a cidade e a Serra da Mantiqueira. Nas represas podíamos pescar e fazer pic-nic nos bosques, para observar a natureza. No bairro do Rio Abaixo, podíamos brincar na beira do Rio Paraíba. No Bairro do Bom Jesus existiam os bosques de frutas e a festa do Bom Jesus. No Bairro do São João existiam áreas de convivência social, religiosa e cultural, com os Parques e Circos que se instalavam e faziam a alegria das crianças e cidadãos em geral, em torno da Igreja do São João e da Capela do Cruzeiro, que posteriormente foi demolida e destruída pela administração pública do então Prefeito Marco Aurélio de Souza.
Parte destes cenários paisagísticos que narrei, ainda existem em Jacareí, faz parte de sua natureza, precisamos é reconhecê-los, valorizá-los, criar uma política de reconhecimento histórico e geográfico dos espaços urbanos, rurais e hidrográficos de nossa cidade para que sejam desenvolvidas também as atividades culturais, esportivas- náuticas e econômicas em torno de nossas possibilidades turístico-paisagísticas. O Rio Paraíba do Sul é uma grande dádiva da natureza, que possuímos, mas não o protegemos e nem mesmo desfrutamos de sua beleza e potencial.
Ainda nas zonas mais afastadas do Centro da cidade, encontramos as Capelas mais antigas que revelam nossa existência secular como povo cristão que somos. O Bairro do Bom Jesus nos revela as inovações que já existiam por aqui já no século XIX, a malha Ferroviária e os destroços que sobraram da sua Estação e uma Capela dos Setecentos ainda em pé, apesar da voraz vocação desta administração atual em destruir Patrimônio Histórico religioso e ambiental, os munícipes do Bairro do Bom Jesus ainda conseguem reger as manifestações culturais em festas e comemorações organizadas por eles no seio da sociedade civil.
Sob o aspecto urbano Jacareí apresenta cenários interessantes, ruas estreitas, algumas ainda com edificações antigas que revelam uma paisagem urbana de outros séculos, como a Igreja de São Benedito, Igreja da Matriz Imaculada Conceição, a Igreja do Rosário, a Igreja do Bom Sucesso, o Solar Gomes Leitão, as construções antigas que restaram, na Praça do Rosário e das ruas do centro mais antigo da cidade. Portanto, um passeio à pé pelo centro pode sempre nos desvendar uma novidade na identidade histórico-arquitetônica de Jacareí.
Um local precioso a ser visitado, que apresenta um Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico de imensurável valor é o Cemitério Campo da Saudade, no Bairro Avarehy, mais conhecido como Cemitério do Avareí. É um Patrimônio Cultural com forte representatividade da Arte Tumular e que eu anseio em vê-lo preservado e transformado em um Museu Cemiterial. Ele nos dá a possibilidade de incluir Jacareí num roteiro turístico que incluí Arte e História.
3 – Algo negativo que há em Jacareí.
A falta de uma gestão pública com planejamento urbano moderno e atualizado com a tecnicidade que a ciência da Urbanização já pode nos oferecer; que contemple nosso Patrimônio Natural e Histórico e que possa nortear a redefinição de políticas futuras de sustentabilidade. Uma meta com planejamento que organize a cidade de acordo com a sua vocação e potencial econômico, sócio-cultural, geográfico, arqueológico e histórico. Esse é um aspecto negativo, que nós Jacareienses estamos vivendo, e que nos impossibilita de desenvolver todas as nossas potencialidades de crescimento aliado a desenvolvimento e criação de oportunidades trabalhistas e de negócios que destaquem nossas virtudes, pois como Jacareienses sabemos bem a importância de nosso Patrimônio Cultural e de nossa Historicidade, de nossa vocação desenvolvimentista que era já presente em nossa História desde o surgimento da Villa de Jacarehy, e que nos últimos tempos estamos vendo submergir com uma política de eventos e de obras volumosas eleitoreiras, causando o apagamento total de uma História própria já existente. Assisti a uma palestra do Sr. Peloia, Presidente do CIESP, em que ele declarou que Jacareí deve se adequar em termos de obras de Infra-estrutura para poder receber nos próximos anos o investidor empresarial externo, este é um alerta técnico à uma conduta pouco atenta às necessidades reais do nosso município.
4 – Algo positivo que há em Jacareí.
O quê há de mais positivo em Jacareí é O JACAREIENSE. Somos um povo de Memória e de Trabalho. Um povo que tem sua própria identidade cultural e que sabe refletir sobre o seu próprio passado. Nós Jacareienses, em 1850 já estávamos construindo com verbas privadas nossa própria Santa Casa de Misericórdia, seguindo os moldes de Saúde de alguns países da Europa, como a Itália e Portugal. Hoje, no século XXI vemos em nossa cidade, uma desarticulação total para construir o segmento de benefício social básico, que é o Hospital Municipal. Considero que o Jacareiense saberá reagir e se reapropriar de sua Cultura Política de Construção e Organização Social e Urbana.
5 – O quê Jacareí apresenta de interessante para aqueles que a olham de fora?
Acho que Jacareí sempre foi interessante para investimentos de capital externo e interesses de mercado. Por isso fomos apontados como cidade principal do Vale do Paraíba e receberíamos o CTA aqui em nosso território, mas por ajustes técnicos, administrativos e políticos, o CTA foi para São Jose dos Campos, que possuía já naquela época, administração pública que, comprovadamente tutelava e salvaguardava os itens técnicos e científicos na administração pública, necessários e voltados para o desenvolvimento urbano moderno e contemporâneo das cidades.
Fomos interessantes desde outros séculos por possuirmos aqui grande legado histórico-cultural de desenvolvimento, pois éramos o principal pólo educacional em um período que toda a região passava por dificuldades econômicas; estivemos sempre estrategicamente localizados frente a principal Rodovia do País, possuíamos um transporte Ferroviário em funcionamento e que funciona ainda parcialmente com os investimentos que a iniciativa privada fez na nossa malha ferroviária para chegar até o Bairro São Silvestre e que poderia chegar até o Campo Grande se quiséssemos e tivéssemos tido administrações do nosso Patrimônio, voltadas à defesa dos interesses dos cidadãos, e não aos interesses de grupos desprovidos de tecnicidade que precisam se perpetuar no poder municipal para manutenção de suas regalias e oligarquias dominantes.
De modo geral, até mesmo com os aspectos geográficos, como a presença do Rio Paraíba do Sul, favorecem os investimentos financeiros e nos posicionam sempre sob o olhar da iniciativa privada do capital nacional e internacional.
Dádivas naturais e históricas possuímos tantas para nos tornarmos alvo de capital investidor e de iniciativas empreendedoras; precisamos é instituir classe dirigente com mentalidade criativa, atualizada, bem formada e informada tecnicamente; capaz de entender e administrar todas as dádivas e bens que possuímos e então Jacarehy veria florescer amplamente suas flores e frutos;pois afinal Política é a administração de problemas e soluções econômico-histórico-sociais.