https://www.youtube.com/watch?v=tMxwY7auTx0
HISTÓRIA DO "CASARÃO PAIVA"
Jacareí,
27 de outubro de 2008.
P.: Cesira: Recuperando: O Sr. é o Dr. Celso...
Dr. Celso: Paiva Ferreira, era conhecido aqui na região,como
Paiva, tanto meu pai Anibal Paiva e eu Celso Paiva, mas nós temos Ferreira no
nome que era já do meu avô; meu avô português, meu avô veio para o Brasil
com 18 anos de idade, e veio para a
Amazônia .... (? ), da borracha, e a partir do momento em que ele se
viu na Amazônia com 18 ou 19 anos de idade, ele.... depois de um certo tempo
ele resolveu vir para o Rio de Janeiro; ele....ele criou a primeira fábrica de
gravatas que teve no Brasil. Interessantíssimo meu avô porque eles moravam na
rua 1º de março no Rio de Janeiro e tinham casa de praia no Flamengo, uma coisa
muito interessante porque a distância entre rua 1º março e o Flamengo relativa
e para aquela época devia ser muito; muito grande... grande a distância mas
olhe para ter uma uma casa no centro do Rio de Janeiro e morava e uma casa de
praia no Flamengo;
Mas isso é história do meu avô.
A Família Ferreira Paiva
.... eles vieram para aqui, para uma fazenda que ele abriram
aqui em 1906 eles abriram uma fazenda aqui em Igaratá que se chamou fazenda São
João da Boa Vista, que eu não peguei, em 1922 eles vieram para Jacareí em 1924
eles construíram o casarão . Meu pai nesta altura já tinha o projeto de criar
agência FORD em Jacareí em 1924 quando terminou a construção do casarão
moravam, no casarão meus dois avôs maternos, avó paterno e meu pai com a
família.
Em 1924 eles fundaram com Nicola Capucci e eu citei o nome
de Edsel, o Edsel é filho dele, é afilhado do meu pai porque foram amigos e
sócios durante muito tempo.
Em 1924 então, eles montaram a agência FORD e esta agência
FORD viveu até 1948 por aí não me lembro exatamente quando, porque depois meu
pai criou uma oficina mecânica em continuação daquele serviço que a FORD
fabricava, prestava; porque o Casarão a parte de cima bem típica de, de
construção européia você tem uma .... em cima e um negócio para pessoas no
térreo, e era exatamente isso. O casarão tinha um salão muito grande que era
salão de demonstração de automóveis etc. e no fundo tinha um enorme, ... talvez uns 1.200 M² que era oficina, a oficina da agência FORD e depois a
oficina mecânica Anibal Ferreira Paiva. Mais tarde o Casarão se prestou a uma
sede do 1º banco aqui de Jacareí, o Banco do Vale do Paraíba que meu pai era
gerente, depois o Banco do Vale do Paraíba desapareceu e depois o Banco Nova
Mundo, depois o Campo Econômico, e depois esses bancos todos desapareceram e o
salão de baixo virou casa comercial, etc. e a garagem virou a de caixinhas e
embalagem. Essa é a ideia mais ou menos da história.
Meu pai viveu naquela casa até os seus 87 anos em 1987.
Minha mãe viveu até 1997.
Depois que a minha mãe faleceu a casa ficou vazia conservada
por nós até a decisão da família de vender a casa. Por que... foi uma decisão
da família de vender...
Era um casarão mesmo, até porque abrigava duas famílias... a
gente sempre morou no andar superior, com muito espaço.
Tinha lembranças de infância ... por exemplo... saber que
aquela ali era a Estrada São Paulo- Rio, por exemplo todo mundo sabe que a Rua
Alfredo Schuring depois caia na praça então João Pessoa, depois Barão de Jacareí
e depois ia para a Estrada Velha São Paulo- Rio, então a Estrada Velha São
Paulo- Rio, tanto de rodagem quanto de ferro passavam ambas ali na praça, então
a movimentação toda a gente via e todos os acontecidos procissão, desfile
comemorativo, política discursos ... eram todas ali. Uma outra lembrança
importante que eu acho que se perdeu talvez, seja o fato que... porque o quê
dividia a praça era a linha do trem que era a uma linha só... ali era Estação
de trem então o trem vinco ou indo para o Rio ou indo para São Paulo obrigatoriamente parava aqui, então
bom como a praça era dividida pela estação do trem criou-se um jardim pra lá da
linha era do lado da Igreja Bom Sucesso e outra praça onde se instalou a
estátua que é homenagem ao expedicionário que não era nesta posição de hoje ela
era praticamente em frente do casarão, num jardim que foi feito por um prefeito
que se chamava Carvalho Rosas e o jardim construído de Carvalho e de Rosas,
isso se perdeu no tempo.... mas antes da
Praça ser Carvalho Rosas que aconteceu por causa inclusive da vitória dos
pracinhas brasileiros, etc. eu me lembro da minha irmã em cima de mim ter me
acordado para que a gente jogasse papéis picados para as pessoas que estavam
comemorando o fim da 2ª Guerra me lembro ainda, eu tinha 6 anos de idade...
estávamos esperando o retorno de 2 funcionários do meu pai que foram convocados
e me lembro do dia que eles voltaram,
teve um desfile, um baile, dança. A nossa sacada era local privilegiada para
ver todos os eventos, eu citei esse do fim da guerra como exemplo. Todos os
grandes comícios que tivemos aqui em Jacareí. Todas as passagens de pessoas
importantes seja por trem, de automóvel, etc., passavam, obrigatoriamente por
ali.
O ponto do ônibus que levava as pessoas para São Paulo ou
São José dos Campos era ali. Naquele correr de casas que foram modificando, os
proprietários foram modificando, eu me lembro daquele passeio por terra não era
nem calçada, era estrada Rio- São Paulo de terra.
A estrada passava na praça e chamada de João Pessoa.
Políticos que passavam por aqui passavam andando, eu me
lembro do Getulio Vargas passando por aqui com multidão muito grande, que ele
desembarcou na estação de trem e passou pela praça toda e foi fazer um comício
do PTB não sei onde. Meu pai acompanhou porque nessa época era candidato à
prefeito... cidadão atuante ele foi levado, convencido com muita resistência dele a ser candidato à
prefeito justamente pelas atitudes e pelos feitos aqui em Jacareí. Veja bem:
1ª Agência de Automóvel.
1ª Agência de Banco do Vale do Paraíba.
1ª Comissão de Esportes
foi Presidente.
Criador da guarda noturna de Jacareí .
Fundador da Associação Comercial de Jacareí.
Ele foi Juiz de Paz.
Membro da mesa administradora da Santa Casa durante 35 anos.
.... ele relutou, mas aceitou. Não foi eleito.
Um ponto importante da memória dele.
Criou a sociedade mantenedora de ensino que deu ao Colégio
Antonio Afonso:
Uma época que Jacareí não tinha nem ginásio
(00:21:00) Quer dizer, o sucedâneo dessa sociedade
mantenedora etc. contavam com uma série
de professores que vieram pra Jacareí em função disso, quase que reeditando o
tal do Ginásio Nogueira da Gama. Jacareí foi chamado de Atenas Paulista por
causa desse Ginásio Nogueira da Gama que parece que segundo consta foi o 2º Ginásio
no Brasil, eu não sei se é verdade, eu acho que o Bene Lencioni pode falar
disso com muito mais precisão e documentação do que eu nesse sentido, então,
são memórias de conversas que a gente tem etc. Então essas atividades do meu
pai sempre foram muito presentes na cidade até o momento em que ele resolveu se
aposentar já mais velho etc. mais todo esse período...
P: Cesira- Nessa época em que ele foi candidato a prefeito,
o senhor se lembra qual a sua idade? Mais ou menos?
R: Dr.- Eu diria talvez eu ter uns oito a dez anos de idade
eu não me lembro exatamente quanto porque foi uma coisa que, como ele foi uma
certa relutância nós não demos historicamente muito importância pra isso porque
foi a vontade dele, não foi muito importante pra nós essa entrada dele, muito
breve na política. (00:22:45) Por isso eu digo muito mais você pode imaginar do
pai como indivíduo atuante na sociedade e importante porque lidou com coisas
que queriam dizer... evolução da cidade progresso da cidade etc. ... e cobrindo
necessidades absolutamente primárias que a cidade tinha e precisava dele,
alguém tinha que criar um comitê, ele não fez isso sozinho. Sempre teve um
grupo de pessoas pensando como ele e levaram essas coisas todas pra frente,
claro que ele não fez nada sozinho.
P: Cesira- Desse grupo de pessoas que participaram
ativamente da vida política e social, atuavam de modo importante e
significativo no período o Sr. se lembra de algum nome?
R: Dr.- Sim, eu me lembro, o próprio pai do Benedito
Lencioni o Sr. Arlindo Scavone, o
Comendador Manoel Máximo, da família do Luis de Araújo Máximo, não sei se você
conhece o deputado e promotor . O comendador Manoel Máximo o Sr. Márcio
Mendonça, são pessoas que foram muito atuantes na cidade.
P: Cesira- E eram pessoas presentes no Casarão ou não? Ou
eles não faziam parte do ciclo próximo de amizade?
R: Dr. - Não. Amizades do meu pai, relacionamentos do meu
pai porque a cidade era muito pequena e os locais de freqüência ou era a Santa
Casa, Colégio, a associação Comercial. Meu pai foi muito pouco de frequentar
clube, então ele tinha esses relacionamentos mantendo vamos dizer assim a
família mais dentro de casa, nesse sentido. Ele era uma pessoa que quase se
relacionava muito bem, tinha uma cortesia extraordinária, uma ... tudo isso mais
algumas...
P: Cesira- Não costumava trazer para a vida em família os
diálogos a respeito da cidadania que ele eram responsáveis?
R: Dr. - Não, pra vida em família não. Eu me lembro de
poucas reuniões de trabalho em casa, essas reuniões de trabalho ou eram na
agência ou eram na oficina ou eram em residência das outras pessoas ou na
própria Santa Casa ou etc.. . .. Então no ponto de vista ele sempre de uma
certa forma é como se ele tivesse preservado a família de algumas outras
atividades embora meus irmãos mais velhos participassem de atividades e a minha
mãe também sempre vamos dizer assim, na sombra do meu pai, minha mãe tem hoje
aqui na cidade uma escola com o nome dela porque exatamente ela foi professora
do Bene Lencioni, a primeira. Mamãe deu aula durante 35 anos só pra 1º ano,
então ela alfabetizou gerações de jacareienses aqui, inclusive...(00:26:02)
P: Cesira- Que era a Senhora Maria...
R: Dr.- Maria José de Carvalho Ferreira que é o nome da
escola porque a minha mãe se chamava Maria José de Carvalho e adquiriu Ferreira
pelo casamento...
P: Cesira- E os seu irmãos se chamavam....
R: Dr.- Minha irmã mais velha... porque o 1º casamento do
meu pai eles tiveram dois filhos que faleceram depois veio a Sílvia que é minha
irmã mais velha, depois veio o Anibal depois veio a Ofélia e depois, do 2º
casamento, eu, e depois o mais nova que é o Ari, meu irmão.
P: Cesira- Todos Paiva Ferreira?
R: Dr.- Todos Paiva Ferreira. Minhas irmãs mudaram os nomes
pelo casamento mais no mínimo conservaram o Paiva Ferreira.
P: Cesira - E são vivos...
R: Dr. - Minha irmã mais velha está com 84 anos agora, a
Sílvia. O Anibal está com 79, a Ofélia 75, e eu vou fazer 70 o ano que vem e o
Ari é 3 anos mais novo que eu.
P: Cesira- E quando
vocês se encontram vocês tem memórias, lembranças que vocês comentam entre
vocês sobre aspectos da vida naquela casa, no casarão Paiva?
R: Dr. - Sim, mais bem no âmbito nosso. Claro. São
lembranças até de humor nosso. Porque de uma certa forma o nosso humor é... sei
lá, tem coisas que só nos interessa, vamos dizer assim, bem pessoal
brincadeiras com os irmãos que a gente faz
e que outras pessoas não conhecem formas de tratar, apelidos etc. ...
(00:28:48)
P: Cesira - Aspectos como esse ou fatos como esse que o Sr.
me narrou, que a sua irmã foi lhe acordar no momento em que estavam saudando o
fim...
R: Dr. - Estavam saudando o fim da guerra, foi em Maio, não
me lembro exatamente mais foi em Maio,
então realmente houve uma comoção pública muito grande, a praça ficou cheia de pessoas alegres,
cantando.
P: Cesira - Então nesses aspectos do âmbito municipal e
mesmo no âmbito de acontecimentos a nível mundial vocês tinham essa
participação muito ativa porque observavam tudo através da sacada do casarão.
R: Dr.- Até pela influência deste interesse que pelo menos
meu pai e minha mãe sempre tiveram meu pai foi de uma inteligência muito aguda
e muito ativo e minha mãe, da mesma forma. Então, a gente de uma certa forma
participava das coisas, via no noticiário, claro, seja do mundo seja do estado
ou seja da cidade, porque esse interesse pelas coisas que cercavam a gente
sempre teve, até por cultura de família.
P: Cesira- E existia uma ligação interna do andar superior
com a oficina ou vocês desciam pela escada.
R: Dr. - Não. Nós tínhamos que descer a escada, daí a
separação intencional, a gente descia porque tinham 2 escadas de acesso então a
gente descia a escada pra ir a oficina, pra ir ao salão, etc. ... isso já
intencional, não havia uma passagem do 1º andar pro térreo, interna, não havia.
P: Cesira- E vocês frequentavam muito o ambiente comercial?
R:Dr. - Sim. Enquanto oficina mecânica sim, claro.
P: Cesira- E como eram as vendas no sentido... enquanto
agência FORD; era muito movimentada. Vinham muitas pessoas da cidade, ou vinham
muitas pessoas de fora da cidade pra adquirir os carros ali.
R: Dr. - Não, da agência Ford eu lembro pouco, eu lembro
pouco porque, como eu disse, eu nasci em 39 a agência Ford deve ter ido talvez
até...(00:31:39) o Edsel Capucci pode dizer com mais segurança mais eu tenho impressão
que foi até 46. Então essa lembrança minha é muito mais da oficina mecânica
porque era uma coisa que trazia muito mais curiosidade do que automóvel em si.
Então é como se eu tivesse sido " entre aspas" ," um aprendiz de
mecânica".
P: Cesira- E o Sr. se lembra da onde vinham os mecânicos?
Era uma mão de obra que se encontrava aqui na cidade ou seu pai tinha que
buscar, procurar, ir ao Rio de Janeiro ou São Paulo.
R: Dr. - Meu pai, pra abrir a agência Ford ele foi fazer um
estágio numa agência Ford grande de São Paulo e estudou mecânica de automóvel
por ele, porque chegou a conclusão que pra poder dirigir uma agência Ford ele
precisava desse conhecimento. Então ele foi buscar isso onde existia e depois
treinou as pessoas que trabalhavam com ele, então tem uma série de mecânicos,
houve uma geração de mecânicos aqui em Jacareí que foram treinados por ele.
P: Cesira- O Sr. lembra de algum?
R: Dr. - Bom, eu lembro de nomes. Eu não sei dessas pessoas,
se elas ainda vivem ou não... porque eu estou fora de Jacareí desde 92. Agora
que eu estou vindo em dezembro do ano passado é que a gente voltou pra aqui,
porque eu vim de Brasília depois de formado, depois da residência morei em
Brasília onde nasceu o meu 1º filho, eu vim pra Jacareí de volta já, com 6 ou 7
anos de formado, 68. Exatamente 68, é
fiquei aqui até 92. De 92 eu saí daqui, parte do meu tempo fui morar no Rio de
Janeiro depois de aposentado etc. Agora que estou voltando, então eu não sei
dizer se desses mecânicos treinados pelo meu pai, se alguns deles ainda esteja vivo,
eu perdi completamente o contato com
essas pessoas.
P: Cesira- Mais o nome de algum deles o Sr. lembra ou não?
R: Dr. - Lembro, lembro o Nicolau Prianti, lembro do
Brandão, lembro José Maria Ramos, lembro... olha desses nomes, o José Maria
Ramos foi pracinha, o Nicolau Prianti, esse eu tenho certeza que é falecido.
Depois no trabalho do Banco, meu pai enquanto gerente do Banco eu já estava em
fim de grupo escolar, ginásio, voltado pra outra coisa, então eu frequentava
muito menos o ambiente de trabalho do meu pai.
P: Cesira- E o Sr. estudou em qual escola?
R: Dr. - Estudei aqui em Jacareí, no grupo Escolar Carlos
Porto depois no ginásio estadual daqui de Jacareí que era onde é o prédio hoje
do Antonio Afonso e como na minha época não tinha nem científico nem tinha
colegial aqui em Jacareí eu fui estudar em São José dos Campos que já tinha o
Coronel João Cursino, eu fiz meu colégio
lá e de lá fui pra Ribeirão Preto no colégio de Medicina.
P: Cesira- Então o senhor tem memórias também do colégio
Antonio Afonso?
R: Dr. - Do ginásio de Jacareí sim, do colégio Antonio
Afonso não, porque o ginásio Estadual e escola normal, naquele prédio, depois
que o ginásio Estadual e escola normal saiu de lá pra o fim da rua Barão é que
voltou a ser Antonio Afonso, o prédio é aquele que era onde existia a sociedade
Mantenedora de ensino de Jacareí. Eu não sei qual é a origem desse prédio,
talvez o Bene.
P: Cesira- Mas o Sr. se lembra dele?
R: Dr. - Eu estudei do 1º ao 4º ano de ginásio ali, ali era
um casarão antigo, paredes muito altas, um assoalho de tábuas bem largas, tinha
um salão que a gente tratava como salão nobre e que tinha um assoalho tratado,
a impressão que eu tenho é que aquela coisa era bem mais antiga do que...
talvez regulasse em tempo como o casarão do grupo escolar Carlos Porto, que era
do Barão de Jacareí. Então isso é uma coisa ainda fragmentada porque de
infância você pode lembrar, a adolescência normalmente a gente lembra menos,
mais de que qualquer forma o ginásio foi lá, o colégio em São José dos Campos. (00:37:32)
Então a partir do momento em que eu saí do colégio eu já praticamente só voltei
para Jacareí depois de 12 anos, 6 anos de escola mais 6 anos de residência mais
3 anos em Brasília, uns 12 anos depois. Então quando eu vim pra Jacareí, tinham
uns 26 médicos, então eu fui trabalhar na Santa Casa depois é que eu mudei a
minha orientação profissional etc. ...
P: Cesira- E quando o Sr. retornou pra Jacareí o Sr. voltou
pro casarão ou não, voltou e foi morar no casarão?
R: Dr. - Não minha mãe e meu pai moravam ali, meu irmão mais
novo também e minha avó paterna porque meu avô já tinha falecido bem antes,
então eles moravam lá.
P: Cesira - O seu avô então era o.... o nome.
R: Dr. - Antonio de Paiva Ferreira e a avó era Maria de
Paiva Ferreira porque era Ferreira de Souza antes de se casar..
P: Cesira- E seus avós maternos?
R: Dr. - Nestor e Áurea de Carvalho, pais da minha mãe.
P: Cesira - Retomando um pouco à agência Ford e a oficina mecânica
do seu pai. No Rio de Janeiro seu pai já tinha tido contato com algum aspecto
ligado ao automobilismo?
R: Dr. Não, não nem meu avô porque quando eles decidiram
mudar, isso meu pai contando, meu pai tinha 6 anos. Quando eles decidiram vir
aqui pra fazenda em Igaratá, acho que foi a 1ª experiência, talvez, tirando o
tempo da Amazônia do meu avô talvez tenha sido talvez a 2ª experiência com
fazenda ou alguma coisa semelhante. É
interessante porque aí é que eu tenho lembrança bastante presente da tradição
verbal da família, o meu avô teve essas atitudes que eu falei de escola, de
partilhar lucros da fazenda, de seu amigo pessoal de Vital Brasil na captura de
serpentes pra mandar pro Butantã. (00:40:18) Meu avô foi o primeiro a ter um
caminhão salvado da 1ª guerra que o meu pai é que dirigia. EM 1914 e 15, o meu
pai com 15 anos já guiava esse caminhão, um caminhão Fiat, eu acho que o Luís
José é capaz de ter fotografia disso, eu não sei porque eu já vi a fotografia
desse caminhão e uma outra coisa, o meu avô desviou o rio do peixe para o Rio
Paraíba pra fazer com que uma chapa que veio por trem e foi levada da estação
de trem de Jacareí pra fazenda em Igaratá em carro de boi, essa chapa era pra
fazer o escoamento da produção da fazenda. Veja bem como o avô já era nesse
sentido, uma pessoa que via um pouco mais na frente e isso perseverou porque meu
pai também via coisas na frente e sei lá, a gente adquiriu essa história de
viver um pouco na frente deles. (00:41:31)
P: Cesira- Então essa iniciativa do seu pai partiu de uma
visão comercial dele na época, a iniciativa de abrir uma agência de venda de
automóvel?
R: Dr. - Ah sim, sim mesmo porque meu avô já tava meio
adoentado e talvez tivesse querido mudar aqui pra Jacareí por essa razão. Então
eles pensaram, o meu avô também pensou nesse negócio e associou-se a seu Nicola
Capucci, o pai do Edsel ... é importante que o Edsel, tem muito boas
lembranças também. (00:42:13) O Edsel é mais velho do que eu que regula
exatamente como o meu irmão mais velho. Então, eles têm lembranças assim...
mais... tão intensas quanto as minhas e vivendo realmente 10 anos na minha
frente.
P: Cesira - Com relação ao espaço ali da praça onde se
localizava o casarão, o Sr. se lembra se
naquele período em que o Sr. era garoto mesmo, como as pessoas denominavam
naquele espaço? Por exemplo, o Edsel, ele sempre morou... por um período ele
morou no Bairro São João, o seu Nicolau Capucci ali no São João. Se ele tenha
que vir para o atual centro....
R: Dr. - Isso, a praça. Sempre foi chamada de praça porque
as outras praças de Jacareí tinham o nome já consagrados por exemplo, o largo
da Matriz, aqui, onde tinha o cinema Rosário, largo do Rosário porque esses
nomes antigos de rua eu não peguei, então essa história de dizer que a rua
larga, a rua não sei o que, me lembro de Corneteiro Jesus não rua nova, eu me
lembro que a minha avó falava, ah, vai pela rua nova. A rua nova pra ela, era
Corneteiro Jesus pra mim, que vai na direção da Santa Casa. Como a rua do meio
que, hoje a rua do meio é a Rua Rui Barbosa, pra mim sempre foi chamada de Rua
do Meio até na minha infância porque a
Rua do Carmo era a da direita de quem olha pra igreja. Rua do Carmo é que hoje
se chama Pompílio Mercadante que foi um médico extraordinário aqui de Jacareí,
caridosíssimo, avô do senador Aloísio Mercadante e amigo pessoal do meu pai,
meu médico quando pequeno etc. Então era Rua do Carmo, hoje Pompílio
Mercadante, rua do meio, que era a Rua Rui Barbosa e a Rua Barão de Jacareí,
que até onde eu sei, sempre teve esse nome. A rua do laticínio era a Rua
Bernardino de Campos, paralela à Rua Barão de Jacareí, chamava rua do laticínio
porque tinha um laticínio lá, que hoje não existe mais, nem o prédio.
P: Cesira- No lugar tem um posto de gasolina.
R: Dr. - Isso. Exatamente, quer dizer, quem vem de lá, antes
da estação.
Foto do Casarão - Esse aqui é o Casarão da família com duas
entradas que levavam ao 1º andar, aqui, dos dois lados, porque eram imagens
especulares mesmo, o que tinha do lado de cá. Mais lá no fundo as casas eram abertas
porque tinha uma área comum. Eu quero crer que aqui esteja minha avó, como aqui
talvez, eu tenho quase certeza que é meu pai, quase que tenho certeza que é meu
pai. (00:46:12)
P: Cesira- Mais o Sr. não sabe quem fez esse fato?
R: Dr. - Eu não sei quem fez. Olha como as pessoas viajavam
antigamente, aqui dentro era o Banco do Vale do Paraíba mais a pessoa viajava
com um guarda-pó porque a estrada era de terra então para evitar problema de
sujar a roupa eles viajavam com guarda-pó. Aqui era a agência, ou aqui já era
oficina mecânica porque a agência Ford já não existia mais, a partir do momento
em que começou o Banco do Vale do Paraíba, só virou oficina mecânica aqui. Aqui
é a farmácia São José do Seu Jarbas Porto de Matos que morava aqui em cima.
Esse fato mostra aqui o casarão e aqui o hotel máximo que já existia nessa
época.(00:47:14) A praça com uma bomba de gasolina aqui, .. que foi
uma precursora aí dessas grandes companhias de petróleo, Esso, Texaco e etc..
Aqui a linha de trem que numa outra foto a gente pode mostrar melhor e toda
arborizada esta praça, que é um outro
ângulo, uma sapataria, o casarão, a farmácia e outras construções que não me
lembro. Aqui um caminhão apenas pra ilustrar que essa aqui era a estrada São
Paulo- Rio e aqui uma visão que eu quero crer que tenha sido da torre da
igreja, uma parte da praça aquém da linha - a linha de trem e a praça chamada
de João Pessoa porque eu quero crer que esta foto seja de 1930 pra cá, então a
estrada passava aqui. Ah! Aqui é importante. Onde hoje tem um bar tinha um
prédio que era o correio que ainda nessa foto aqui já mostra que já era a
agência do correio. Onde hoje é a Chopperia do Gordo, só que é um prédio
exatamente novo. Eu tava falando pra você. Uma dessas casas aqui foi a casa paterna
do José Carlos Cruz, vizinho dela era onde morava o comendador Manoel Máximo
que era o provedor da Santa Casa e eu quero crer que essa torre aqui, é do
relógio da Santa Casa e Casa. A Igreja do Rosário é essa e a igreja da Matriz
Imaculada Conceição é essa aqui, e essa aqui é a do Bom Sucesso.
(00:49:17)
P: Cesira- E esta aqui?
R: Dr. Ah! Essa aqui eu não sei, eu sei quem algum tempo
trabalhou aqui que era um fotógrafo, cuja filha é a Edith Zanutto; que foi
professora aqui em Jacareí também. Pela idade desses carros aqui a gente pode
imaginar que foi por volta de 1932, 30, por aí, aqui tinha um coreto que
desapareceu, a estátua desapareceu, a estátua tava mais ou menos nesta posição
aqui olhando pra o casarão e pra
farmácia.
P: Cesira- E... disso o Sr. se lembra bem? Dessa paisagem...
o Sr. se lembra bem.
R: Dr.- Me lembro, disso eu me lembro bem porque quando foi feita a praça do
Carvalho e Rosas foi ajardinada de uma forma completamente diferente porque
aqui era um espaço que os carros paravam. Não era ajardinado. Tinham algumas
árvores por aqui, e tal mais fundamentalmente era terra, chão. Tinha postes,
alguma coisa, tinha esse coreto e a bomba lá atrás, mal se vê daqui.
P: Cesira- Como é esse contato com a estrada de ferro tinha
muito barulho, vocês observavam muito os trens as pessoas que passavam, que
desciam na estação:
R:Dr.- Não, as pessoas que desciam na estação a gente não
tinha contato porque a estação fica mais ou menos onde está hoje e a distância
é a mesma. Então, aqui tinha a porteira, depois desapareceu a porteira tinha só
um sino que batia e tinha algumas passagens de trem que a gente sabia, chamava
expressinho - expressinho e depois tinha o leiteiro e coisas assim, eram nomes
que se davam a essas composições. Tinha o expressinho e tinha o rápido, não sei
que horas passava, tinha o noturno também, isso eu me lembro, o noturno era
aquele que fazia São Paulo- Rio com as pessoas dormindo e etc. .... isso aí...
P: Cesira - Três vezes ao dia...
R: Dr. - Mínimo, mínimo e o resto eram trens de carga porque
basicamente as pessoas usavam muito menos o ônibus do que o trem pra ir a São
Paulo etc. porque a viagem de São Paulo - Rio por exemplo, não tinha outra
maneira de fazer a não ser por trem, (00:52:27) a estrada velha existia mais
era extremamente demorado segundo o meu pai, era extremamente ruim porque era
de terra. E eu me lembro dele contando até uma coisa interessante, os
automóveis no início, em 1924, 25, até 29 tinha o tanque de gasolina assim
quase dentro do capô e não tinha bomba de gasolina, então eles tinham que subir
morros em ré pra que a gasolina descesse do tanque para o motor, (00:53:14) não
tinha bomba injetora de gasolina, eles mediam a quantidade de gasolina com uma
correntinha que tinha na tampa do tanque. Carro de 29, eu não me lembro
porque... eu me lembro do 1º carro que eu me lembro foi um carro de 36 então
até em 1942 eu era bem pequenininho mais eu me lembro desse carro, eu sabia que
era de 1936. Mais ou menos parecido.
P: Cesira- Ford?...
R: Dr. - Ford, parecido com esse aqui ou parecido com esse
aqui, eu não me lembro.
P: Cesira- Então o trem era uma presença constante na vida
de vocês em termos de rumor , de barulho.
R: Dr. - Constante. Na nossa vida de casa sim. Na nossa vida
sim, claro, porque a gente notava a passagem do trem e porque Jacareí pra nós
não era um grande acontecimento pras pessoas outras podia até ser. Não acenava
pra trem, a gente não tinha esse hábito, via passar o trem como via passar os
carros, os ônibus, etc. ...
P: Cesira- E existia uma presença muito constante de figuras
de pessoas novas na cidade em função dessa parada do trem, dessa estação do
trem, você se lembra se existia uma chegada de pessoas novas pra cidade,
migrantes.
R:Dr. - Olha eu acho... Mais eu me lembro do meu pai falando que Jacareí teve um
período que correspondeu, vamos dizer assim, ao que Monteiro Lobato chamava de
cidades mortas porque Jacareí teve um período em que nem se construía, a cidade
era como se tivesse parado no tempo, parado seu progresso seu crescimento etc.
... e que depois retomou talvez em 1950 por aí, quando a Dutra foi construída, ... mais própria porque isso é uma
lembrança...
P: Cesira- Lembranças de comentários das pessoas a respeito
desse espaço antes da ferrovia, o Sr. lembra de alguma coisa? Antes de existir
a ferrovia, antes de 1879, 1880, 188__
R: Dr.- Não, nenhum comentário mesmo.
P: Cesira- Comentários a respeito da implantação da ferrovia
e do criador dela, da ideia, da implantação da ferrovia, do Coronel João da
Costa Gomes Leitão, o Sr. lembra de algum comentário a respeito dessa pessoa?
R: Dr.- Não, eu não sei qual foi a influência que esse
Coronel Leitão teria tido porque essa é uma estrada que ligou duas capitais, a
capital federal e São Paulo. Eu não sei até onde (00:56:53) uma pessoa de Jacareí
teria influído pra que a estrada passasse exatamente dentro de Jacareí porque
todas as cidades do Vale do Paraíba, todas, teve a linha de trem passando por
elas, então eu acho que o projeto não foi jacareiense, de passar por Jacareí,
isso é minha opinião, eu não tô baseado
em coisa nenhuma. Eu acho que dizer que foi um político de Jacareí que fez a
linha de trem passar por dentro de Jacareí, talvez não seja ....
P: Cesira- Mais o Sr. se lembra de comentário a respeito
disso ou dessa pessoa na sua infância?...
R: Dr. - Não, não me lembro.
P: Cesira- .... O seu pai que era uma pessoa bem informada,
o Sr. nunca ouviu ele falar a respeito do Coronel João da Costa Gomes Leitão.
R:Dr.- Não, o Coronel Leitão, é uma figura falada, conhecida
em Jacareí, inclusive.... o Coronel Leitão .... se eu não tô enganado, hoje ,
onde existe um condomínio ali perto da JAM; tinha uma chácara que foi muito
tempo, da família Xavier, do laboratório Xavier, etc. ... isso é da minha
meninice e juventude, mais parece que aquela casa, que é uma casa antiga, eu
não sei se existe ainda ou não, era a casa do Coronel Leitão...
P: Cesira- Da sua memória o Sr. não se lembra de nada a
respeito?...
R: Dr. - Não, não.
P: Cesira- Então a ferrovia era constante na vida de vocês.
O Sr. viajava de trem, ...
R: Dr.- Sempre. Até o dia em que resolvemos ir de ônibus,
todas as viagens pra São Paulo nossas eram de trem. Meu pai, minha mãe, a
família... até o momento em que a estrada começou a ficar melhor e os ônibus
começaram a correr, Pássaro Marrom via
Mogi das Cruzes e era uma viagem longa, umas 3 horas por aí.
P: Cesira- E como que foi essa mudança urbana nesse momento
em que os automóveis, os ônibus (00:59:30) passaram a ter mais utilização. O Sr.
se lembra dessa mudança na praça, do seu casarão, de onde o Sr. estava, o Sr.
olhava a estrada, a praça.
R: Dr.- Não, não houve... já existia o jardim chamado
Carvalho e Rosas, já existia, é o que eu disse pra você, a partir do momento
em que a pracinha virou estátua. Nesse
canto de cá, eu não sei se nessa foto aparece, eu acho que é aqui, era o ponto
de ônibus no Bar Brasil. O Bar Brasil foi um bar famoso aqui em Jacareí que era
do seu Antonio Pereira, era o Antonio do bar, a gente não guardava o nome da
família, Antonio Pereira Alves ou Alves Pereira ou coisa assim. E era onde
parava o ônibus, tinha um ônibus que vinha de São José dos Campos, parava e
seguia tinha ônibus que vinha de São Paulo, parava chegava pra São José dos
Campos ia pra Taubaté e outros lugares, obrigatoriamente passavam por aqui
porque não tinha outra estrada antes da Dutra, a Dutra terminou em 1950.
P: Cesira- E a presença do Bar Brasil, o Sr. lembra... na
sua memória ele veio desde quando, existe na sua memória a partir de que data!
R: Dr.- Desde os 5 anos de idade eu acho, sim porque era
exatamente passagem de ônibus; 6 , 7 anos de idade já existia o bar e o ônibus
parava exatamente em frente. Eu pegava o ônibus em frente do Bar Brasil pra ir
pro colégio em São José, eu viajava todo dia, era exatamente ali.
P:Cesira- E a frequência nesse bar, o Sr. lembra se o Senhor
frequentava esse bar por amizade ao seu Antonio ou por necessidade de adquirir
algum produto no bar?
R: Dr.- Não. A não ser bala e coisas porque era um bar e em
bar criança não entrava.
P: Cesira- O bar era um bar... restaurante
R: Dr. - Um bar restaurante, tinha café etc. e mais quando
pequeno eu não frequentava, mais velho no período de colégio, eventualmente.
Eventualmente porque... vocês frequentam muito mais bar do que a minha geração
frequentou...
P: Cesira- É isso que eu queria lhe perguntar. Com relação a
essa vida social ligada a esse tipo de atividade comercial. O senhor como a sua
família, com o seu pai em algum momento
saía pra ir comer em um restaurante ou comer fora de casa. Não existia?
R: Dr.- Não. Não era um hábito da família comer fora de
casa. inclusive porque a nossa casa era uma casa que vivia com bastante
comensais, tinha ocasiões de 16 pessoas à mesa. Então...
P: Cesira- A, é isso que eu iria perguntar, qual a
localização da sala, dessa mesa onde se recebia os comensais.
R: Dr. - Tinha o topo da escada; então voltando pra trás
você ia pra sacada onde tinha a sala de estar, depois tinha....
P: Cesira- Dava para... não dava pra frente da casa, não dava
pra praça essa sacada da sala?
R:Dr.- A sacada da sala sim, dava pra praça exatamente.
P: Cesira- Porque uma lateral o senhor disse que era um
conjunto de quartos onde residiam seus avós.
R: Dr. - Quartos, como se fosse uma casa porque tinham o
mesmo número de quartos, mesmo número de banheiros e lá atrás, talvez eu tenha
aqui ainda alguma coisa...
P: Cesira- Documentos
ou fotos dessa fase mais antiga.
R: Dr.- Alguma coisa eu tenho, alguma coisa sim. Meu irmão
mais velho tem até mais, eu acho. Meu irmão mais velho tem até mais. Bom,
voltando.
P: Cesira- Então alguma dessas janelas da frente era a
janela da sala que o senhor descreve como.
R: Dr.- Era da sala de estar, os dois lados tinham saletas.
Tinha o topo da escada e do lada de dentro daqui e daqui,
dois dormitórios, a sala de jantar e a área comum, depois tinham espaços pra
mais outro dormitório depois tinha cozinha, dispensa, banheiros, etc. É uma
imagem especular mesmo então esse espaço entre as duas é que era comum. Então
existia uma sala de jantar do outro, não era usada como sala de jantar porque a
família se reunia numa só.
P: Cesira- E... esse número que o senhor citou mais ou menos de 16 comensais que
frequentavam eram pessoas da família?
R: Dr.- Tios, primos, da família e parentes talvez da minha
mãe....
P: Cesira- Ainda se encontram em Jacareí ou a maior parte de
fora.
R: Dr.- De Jacareí acho que só tem eu, porque os meus primos não moram aqui, um dos primos
morou conosco durante um período, (01:06:27) ele jogava basquetebol aqui em
Jacareí. Também já falecido e os outros primos não, nenhum parente, tirando
esses meninos cujo pai tinha uma casa exatamente na cabeceira da ponte. Dessa
ponte, não dessa aqui, da outra exatamente pro rio, que era a casa do meu tio
Agostinho irmão do meu pai e que depois... Agostinho Paiva Ferreira,
exatamente. Que também teve uma atuação importante aqui em Jacareí num sentido
completamente diferente do meu pai. Meu tio Agostinho era um indivíduo que
formou uma orquestra sinfônica em Jacareí no tempo em que ele morou aqui.
Depois os meus primos...
P: Cesira- Até 1950 ou depois de 50.
R: Dr. - Não. Meu tio morou aqui até... eu tava na faculdade
já. Devia ser 1960 por aí, mais ele não morava nessa casa mais. Ele morava em
outra casa, eu só tô dizendo que essa casa foi dele, é capaz do Luís José ter
fotos dessa casa também. Eu preciso talvez juntar um pessoal aí, o Edson o Luís
José, o José Carlos Cruz, juntar esse pessoal talvez as lembranças coincidam
pra você ter um pouco mais peso.
P: Cesira- Ou não, e daí a importância porque cada memória
traz a tona coisas tão importantes. Então não coincidem em fatos gerais mais...
na individualidade tem uma importância muito grande, por exemplo do seu olhar a
evolução da cidade, a partir do Casarão Paiva e como lhe pareceu.
R: Dr.- Sim. Claro. São muito pessoais, claro que sim e como
me pareceu. É possível que o anglo de visão do José Carlos Cruz que é mais
velho do que eu mais é contemporâneo ao meu irmão mais velho, tenha visto a
mesma movimentação de um anglo completamente diferente, também, eu não sei se
tem alguém mais aqui. Existem descendentes aqui... do Dr. Pompílio Mercadante. Existem.
(01:09:31)
P: Cesira- Existem, existem sim.
R: Dr. - Existem. E eu não sei se do Sr. Maércio Mendonça,
eu não sei se do seu Maércio Mendonça ainda existem pessoas aqui. É o tal
negócio... eu passei de 92 até agora....
P: Cesira - Com relação a essa posição que vocês ocupavam
ali no centro da cidade. Vocês moravam num casarão ali no centro ; numa casa no
centro da cidade. O senhor sabe o movimento que as pessoas faziam na cidade.
Por exemplo em função do lazer. Quando eu lhe perguntei, o senhor saía com a
sua família ? Vocês tinham uma vida mais familiar e dentro do próprio casarão.
Mais por exemplo, alguém que o senhor conhecia ou alguma família, ou amigo ou
conhecido, quando eles se movimentavam de algum ponto da cidade qual era a
atividade por exemplo de lazer ou de novidade pra uma pessoa que morava mais
distante e vinha na direção de onde o
senhor morava. O que que o senhor
sabia que as pessoas vinham fazer, as pessoas vinham ao Bar Brasil ou as
pessoas vinham à estação de trem, ou as pessoas vinham ali na igreja do Bom
Sucesso ou seja...
R: Dr.- Sim. A
frequência à igreja, sem dúvida
sem dúvida, eu diria que, como o Trianon e o Esporte Clube Elvira já tinham
escalações sociais próximas. O Elvira na praça mesmo só que do lado de lá da
linha, o Trianon onde está hoje, o Trianon sempre ali, então as pessoas já
começavam a frequentar clube mesmo. Agora em termos de esporte era o Rio
Paraíba. Eu me lembro distintamente que na ponte que hoje pode-se chamá-la de
Ponte Velha, porque na verdade é nova. Tinha um clube de futebol chamado Ponte
Preta Futebol Clube, imediatamente logo que passava a ponte. Rio abaixo da
ponte tinha o campo de futebol onde é o Jardim Leonídia. Tem a avenida da beira
do rio ali, vai até a cabeceira da ponte e ali tinha um campo de futebol
chamado Ponte Preta Futebol Clube, era um campo de futebol, um estádio mesmo e
em frente do estádio tinha em trampolim que a gente. Meu pai e meus irmãos; a
gente ia fazer ginástica na beira do Paraíba, nadava, depois que ia pra escola,
etc. Tinha um trampolim ali, eu nunca usei aquele trampolim porque eu era
pequeno mais as pessoas usavam muito aquele trampolim e que desapareceu também.
Era um trampolim metálico até relativamente alto, devia ter uns 2 m ou 3 de
altura, era ali o campo do Ponte Preta. Então, eu acho que em atividade social
antes do Trianon e antes do Elvira eu não tenho lembrança, meus irmãos mais
velhos possivelmente tenham. O José Carlos Cruz; talvez, mais então , a nossa
atividade social era clube e tinha carnaval de rua, essas coisas sempre teve.
(01:13:20)
P: Cesira- E o carnaval, o senhor participava lá da rua ou o
senhor observava do casarão?
R: Dr.- Eu observava do Casarão mais não tinha desfile. O
desfile de carnaval veio bem depois. O carnaval era mais de pessoas isoladas,
fantasiadas, andando pra lá e pra cá e tinham pequenos blocos. A família do
Romeu de Barros daqui de Jacareí, não sei se tem algum descendente dele aqui,
em Jacareí. Eles sempre foram pessoas muito musicais. Então eles tinham essa
inclinação pelo carnaval e essas coisas. Sim, isso eu me lembro porque
"escola de samba" isso é bem mais recente, talvez de 1975, 80 por aí,
já copiando escolas do Rio de Janeiro...
bem mais recente mais os blocos não. Tem um restaurante aqui no Shopping que
tem várias fotos antigas. Inclusive do Bar Brasil que eu tô falando, como as
pessoas .... algumas pessoas a gente reconhece, outras não reconheço mais é útil,
o Luís José eu acho que tem essas fotos também, ele deve ter essas fotos tanto
que, essas duas aí o Luís José tem cópias também, eu acho essa foi a única
coisa que eu consegui guardar da época, fora as que eu tenho lá em cima mais é
pouca coisa.
P: Cesira- E quanto à atividade musical do seu tio.
R:Dr.- Nada. Eu não tenho nada. Mais ele deu início a uma
orquestrazinha sinfônica cuja maestrina era a minha professora de música, a
dona Dionísia Ziccarelli, o Bene tem fotos dela, tem uma série de coisas, isso
daí, pode ser até que eu tenha foto dessa pequena orquestra. Como o outro meu
tio teve envolvido com um grupo de teatro, porque na época da juventude dele,
da mocidade deles, era isso que existia, eram sarais musicais na casa das
pessoas ou era representação de uma peça... (01:16:09)
P:Cesira- Isso existia no Casarão, não eram atividades na
sua casa?
R:Dr.- Não. A minha irmã acima de mim tocava piano mais
também no âmbito de casa, mais fora disso não. A nossa família tem, quer dizer,
até o fato, meu pai ter envolvido essas coisas todas aqui e não ser tão
conhecido tá bem ligado a essa história de família aqui e as outras pessoas lá,
bem estilo dele mesmo, o que hoje vocês chamam de _________________(01:16:58)
bem mesmo, ele fazia essas coisas e, sem buscar nem reconhecimento muito menos
atenção...
P: Cesira- E a atividade musical do seu tio durou pouco
tempo?
R:Dr.- pouco tempo, que eu me lembre. Eu não tenho
lembrança, eu particularmente não tenho lembrança dessa atividade musical. Eu
sei de ouvir falar e de ver fotos.
P: Cesira- E ali na praça tinha algum tipo de atividade?
R:Dr.- Tinha um coreto onde tocava a banda municipal mais o
coreto que existe do outro lada da praça. Não tem um coreto lá, então, aquele
coreto reformulado também tinha atividade musical da banda de Jacareí, que era uma banda de amadores, nada em termos
de ... que evoluiu depois pra banda que o Renato Egídio fazia parte etc. e
depois já recebeu um maestro que era militar, mais isso é coisa bem mais
recente.
P: Cesira- E quanto a essas mudanças a nível nacional, o
senhor sentiu algum reflexo na sua família, o seu pai chegava a comentar alguma
coisa?
R: Dr.- Meu pai e minha mãe conversavam sobre política,
tinham opiniões bem formadas mais eram conversas entre nós, não era .... e a
posição política, era firme, meu pai sempre foi, digamos, muito adepto das
idéias que o Getúlio Vargas procurou implementar no país.(01:19:00) Dada
primeiro a herança do meu avô no sentido de visão social. E isso é uma coisa
que ele teve muita, se ele não tivesse isso, não teria ido pra escola, pra
associação, pra Santa Casa, pra isso e pra aquilo. Então... se, um dia ele foi
tocado pela mensagem que o Getúlio Vargas queria pro país, quer dizer,
estruturar serviço social pra trabalhadores isso e aquilo caía bem dentro
talvez, da idéia de justiça social que ele sempre teve, é a minha leitura da
atividade política, e paulista, sempre nesse sentido; quer dizer, durante a
revolução de 32 por exemplo. Meu pai tomou parte no sentido não de ser um
combatente, nada disso mais ele assistiu ao processo não se envolveu. A minha
mãe e ele se casaram em 38 então isso também de lembrança, não quer dizer que a
atuação política eventual ou a consciência política foi muito mais uma
consciência social do que qualquer coisa. Não política partidária, eu acho que
ele nunca se envolveu exceto a meio contra gosto na época em que ele foi
candidato a prefeito.
P:Cesira-(01:20:39) E
a localização da habitação de vocês, onde vocês moravam, o senhor sentia um
prestígio com relação a outras pessoas da cidade em função de habitar ali no
casarão, naquele ponto central em frente à estação ferroviária. Existia essas
diferenças, por exemplo o bairro São João aparecia na sua memória, o senhor se
lembra do bairro São João, de como ele existia, de coisas que existiam lá
naquele bairro. O senhor se lembra?
R:Dr.- Me lembro, mais essa distinção entre bairro afastado
e centro eu nunca tive, a distinção de que, eu moro aqui então eu estou melhor
do que lá, porque essa idéia foi passada pra gente.
P: Cesira- Sim. Mais o senhor até com os amigos na escola
nunca teve essa... nunca percebeu esse tipo de ...
R:Dr. - Não, exatamente porque a minha infância em Jacareí
foi uma infância muito, vamos chamar assim... de democrática, porque, porque eu
nunca estudei em escola que não pública, até a faculdade, eu nuca estudei em
escola que não pública, grupo estadual, ginásio estadual, colégio estadual,
universidade São Paulo. Até a residência foi dentro de estruturas públicas,
residência que eu digo é médica. Então essa história de dizer eu moro no centro então você mora longe, então
... essa distinção que às vezes as crianças hoje fazem porque estudam em
colégio particular, (versos), quem estuda em colégio público, a noção de
diferença social, mesmo dentro de casa nós nunca tivemos isso, nunca tivemos.
Nós tínhamos amigos em toda classe isso é um troço meio bobo, sabe, exatamente
meu pai tinha amigos de todos os níveis, ele tinha amigos intelectuais, ele
tinha amigos profissionais e amigos mais simples, meu pai...
P: Cesira- E a formação do seu pai? Aqui mesmo em Jacareí?
R:Dr.- Primária, porque. Mais na fazenda porque o resto de
tudo foi auto-estudo porque os meus tios foram mandados pelo meu avô para a
Europa pra estudar pra isso e pra aquilo. Meu pai resolveu ficar do lado dos
velhos na fazenda e em Jacareí.(01:23:30) Ele se tivesse estudado engenharia,
seria um engenheiro extraordinário. Isso na minha forma de ver porque ele
decidiu por ser filho, ficar com o pai e mãe, enfim. Então estudou por conta
dele, trabalhou na fazenda até eles virem pra Jacareí, os outros... Europa, e o
mundo lá fora.
P:Cesira- No país de origem do seu avô?
R:Dr.- Europa de maneira geral. Um dos tios, irmão do meu
pai....
P:Cesira- Seu avô era de Portugal?...
R:Dr.- Minha avó também.
P:Cesira- Os dois nasceram em Portugal.
R:Dr.- Um dos tios chegou pra mim, foi de marinha mercante
inclusive, gente que resolveu conhecer o mundo, viver. Meu pai foi basicamente
o que ficou com pai e mãe aqui, como suporte pros dois, até o fim da vida dos
dois.
(foto) esta foto é a propósito, da necessidade que a cidade
precisou de que alguém conseguisse bombear a água do rio para a distribuição na
cidade porque dados interrupções constantes que havia no fornecimento de
eletricidade pra cidade, a população depredou a instalação elétrica de
distribuição da cidade e então com isso não havia energia elétrica pra tocar a bomba que iria recalcar a água pra
estação de distribuição e meu pai usando
o motor de um trator fez as vezes dessa bomba. Nesta ocasião(meu pai é esta
pessoa aqui esta pessoa aqui é meu tio avô, irmão da minha avó e essas outras 3
pessoas eu não conheço. Esse texto , registrado pela letra do meu pai, fala da
colaboração da agência Ford de Jacareí para suprimento de água à população da
cidade quando houve interrupções de energia elétrica em consequência da depredação pelo povo das linhas de
transmissão dada às muitas interrupções que havia. Essa (foto) é da mesma
ocasião, de dentro da casa de bombas pra ilustrar como era a bomba. Essas 3
pessoas que aparecem lá fora, meu pai e meu tio avô. Então, o trator bombeava,
recalcava a água porque passava pelo circuito e ia pra cima, de São José dos Campos eu saí na Ribeirão Preto onde só
médico trabalhava em qualquer lugar. Então como eles estavam sós aqui, eu resolvi
vir e instalei a minha clínica aqui e trabalhei um período...
P:Cesira- Já morava no casarão ou não?
R:Dr.- Não . Eu já
tava casado e morei numa casa alugada enquanto construía essa aqui.
P:Cesira- E o seu pai ainda era vivo?
R:Dr.- Sim, meu pai morreu em 87.
P:Cesira- E nesse período o senhor lembra o que tinha lá?...
porque depois que seu pai parou com as atividades comerciais ali no prédio...
R:Dr.- Então... houve um período que aquela estrutura que eu
falei pra você de Banco do Vale do Paraíba, transformou-se depois num banco
chamado Novo Mundo e depois desse Novo Mundo, um outro banco chamado Econômico,
eu acho e também não existe mais. E depois que os bancos saíram teve duas casas
comerciais, no lado da garagem enquanto o meu irmão mais velho solteiro ele
teve uma indústria de caixinha, de embalagem etc. ... e depois ele acabou com
essa indústria e também ali foi outra casa comercial que era um depósito de
casa comercial.
P:Cesira- E os bancos foram de gerência sempre do seu pai ou
não?
R:Dr.- Não. Meu pai foi gerente do Banco do Vale do Paraíba
e do Banco Novo Mundo...
P:Cesira- E foi por iniciativa dele esse empreendimento.
R:Dr.- Não, não. Quando criou-se o Banco do Vale do Paraíba,
meu pai foi convidado pra gerência pelo fato de morar em Jacareí, pelo fato de
inclusive daquele espaço de controle e ao mesmo tempo de ser amigo pessoal da
família dos Guizar que era da Companhia Taubaté industrial lá de Taubaté; não
sei se você já ouviu falar na C. T. I. ,
Companhia Taubaté Industrial. Não sei se existe ainda, não sei. (01:29:04) Mais
os Guizar fundaram o Banco do Vale do Paraíba dentro daquela ideia de que é
preciso atrás de alguma empresa industrial ter algum fornecedor de dinheiro,
então o Banco do Vale do Paraíba foi feito mais ou menos pra ser o captador de
dinheiro da C. T. I. Então meu pai foi convidado, aceitou... (01:29:25)
P: Cesira - O senhor se lembra como foi a transferência? Foi
bem sucedida?
R: Dr.- Sim. Muito, tem pessoas que até hoje se lembram do
meu pai enquanto gerente, porque a política que o meu pai sempre usou dentro do
banco, depósitos. Naquele tempo o depósito rendia algum dinheiro, não é
como hoje que você tem que aplicar.
Antigamente o banco rendia, você punha dinheiro no banco, o banco pagava
dinheiro prá você por dinheiro lá. Então, a condução dos negócios que sempre
ficou gravada pra mim foi o fato do meu pai por exemplo , usar o dinheiro daqui
de Jacareí pra incrementar negócios daqui. Tinha é claro, que mandar dinheiro
pra sede lá em Taubaté porque a finalidade básica do banco era essa. Mais
dentro da liberdade que ele tinha enquanto gerente era exatamente emprestar
esse dinheiro para atividades daqui.(01:30:42) Eu me lembro dele comentar muito
da colônia japonesa daqui por exemplo ele emprestava bastante dinheiro pra
colônia japonesa exatamente porque era produção daqui e que o indivíduo
trabalhava aqui, vendia as coisas aqui, então era natural o dinheiro que
tivesse no banco era pra ser usado aqui, é quase como se fosse ideia de banco
de desenvolvimento e isso quando, a ideia de banco você vê como é que é, o meu
avô entregava dinheiro na Alemanha.Em 42, 43 por aí, você vê que, fizemos uma
coisa lá na frente. Essas lembranças que eu tenho, engraçado, eu tive
absolutamente consciência a absoluta
consciência que to ficando velho, foi quando o seu telefone tocou aqui, é
verdade tava brincando com o meu pessoal de ginástica aí no clube, dizendo,puxa
a primeira vez que eu achei que tava envelhecendo foi quando um menino me chamou de tio e agora quando você ligou e ... brincadeira, eu tô brincando não leva a sério isso não eu
tô brincando mesmo. Eu tenho consciência absoluta da minha idade. Mais não foi
isso que me mostrou que eu estou ficando velho. Eu vou ser entrevistado por uma
historiadora a respeito da história da minha infância em Jacareí, é isso.
P: Cesira- E sua infância faz parte de todo contexto e que
teve a atuação do seu pai, o contexto que o senhor viveu foi um contexto social
histórico que teve influência do seu pai enquanto cidadão muito atuante na
cidade em todas as áreas, na área industrial porque fundou a 1ª agência Ford,
na área comercial, na área dos bancos...
R: Dr.- Isso, importante. Na área de bancos e na área de
estrutura da sociedade sendo em escolas seja em associação comercial , guarda
noturna, etc. você sabe que não uma estrutura em Jacareí que tem o nome dele?
Você vê, a minha mãe que veio bem depois dele e que teve essa atuação
importante, alfabetizou gerações aqui e tem uma escola com o nome dela por
iniciativa do Bene, que foi aluno dela no 1º ano . O 1º ano a gente não esquece da prefeitura
nunca mais a minha mãe sempre atuou em 1º ano e sempre muito querida de alunos,
de ela sair comigo na rua e os alunos pararem pra cumprimentar etc. ...(01:33:49)
e o meu pai com toda essa atividade como tinha o _______________, não fez
questão de coisa nenhuma depois que se afastou por idade ele tinha a chacrinha
ia a pé com um cachorrinho, ia pra chacra e voltava, ficava dentro de casa
escutando ópera lendo e enfim, nunca... a cidade jamais quis também, talvez ser
homenageado de alguma forma.
P: Cesira- Então, Dr. Paiva, e nesse contexto ele teve um
espaço a nível social, a cidade de Jacareí e a nível pessoal, familiar onde se
desenvolvem as relações sociais, inclusive no seio da família, todo esse seu
contexto histórico, ele ocupou um espaço, no espaço do casarão.
R:Dr.- Sim. Não fosse o casarão, talvez nada do que a gente
relatou tivesse acontecido, entendeu...
P:Cesira- E talvez nem essas suas observações tivessem os
enfoques que tem porque o senhor realmente, vivendo no casarão naquele espaço
da cidade, o senhor acompanhou inclusive o desenvolvimento da cidade, como foi
esse movimento urbano, essa transformação inclusive, do centro da cidade, isso.
(01:35:27)
R:Dr. - Isso em partes. À partir do momento em que eu saí
daqui pra estudar e só voltei formado e formado médico numa cidade do interior
você tem muito trabalho então a única coisa que eu fiz a mais em termos dessa
coisa todo aí foi trabalhar na Santa Casa, ser presidente do trianon, fundador
da Associação Paulista de Medicina aqui, uma série de coisas que eu achei que
dentro do modelo que eu tinha de seguir, um modelo cultural mesmo. Então esse
tipo de mudanças que a cidade teve eu participei pouco inclusive porque o
espaço é muito curto de tempo, desde que eu me conheço como aluno primário. Em
1950 eu entrei no ginásio, então, em 46 é que eu entrei no grupo escolar, de 50
a 54 eu fiz o ginásio, de 55 até 57 eu entrei na faculdade em 58, é isso mesmo.
Sempre vivendo lá e cá, lá e cá. Então a história de Jacareí assim, tirando a
minha infância no casarão, eu conheço pouco. Só de ouvir falar e de cartas de
meu pai e de minha mãe quando eu tava fora, correspondência.
P: Cesira- Você ainda tem essas cartas?
R:Dr.- Guardo algumas. Cartas......
P:Cesira- São preciosas a nível de...
R:Dr.- Sim. Porque as cartas da minha mãe são todas em
Francês. Então... e os comentários, porque minha mãe tinha um censo de humor
muito agudo, muito inteligente, e no seio da família só, ela nunca manifestou
esse humor assim a não ser com os irmãos dela e conosco. Então, todo mundo
dizia, a dona Maria José é professora muito boa, mais o tom do humor era dentro
de casa, não era pra todo mundo, não. Bem dentro do jeitão nosso.
P:Cesira- Mais ela era uma pessoa crítica, tinha um olhar
crítico? e a sua escolha da profissão de médico?
R: Dr.- Crítico agudo. A família dela teve vários médicos
mais eu não fui pra medicina por causa disso. Achei que me interessei por
biologia muito cedo, no colégio reforçou essa idéia, no colégio eu fui pra
medicina, então....
P:Cesira- E o senhor fazia uma observação da situação
sanitária de saúde da cidade? Sua mãe fazia observações a esse respeito?
R:Dr.- Quando eu vim pra Jacareí, foi um pouco antes da 1ª
..... você lembra quando o Bene foi prefeito... você tava na Europa.
P:Cesira- Eu acho que eu estava aqui, foi antes de ... eu
fui pra Europa em 92 então o BeSL já tinha sido prefeito em 77. O primeiro foi de 1977 a 1982 e o segundo foi de 1997 a 2000.
R:Dr.- Exatamente, então foi em 76 a 80 o governo dele, por
aí, eu vim pra aqui começando já a minha especialidade em pediatria com 3 anos
de residência e comecei a trabalhar e a gente começou a notar... que a índice
de mortalidade infantil era igualzinho o do nordeste. Sério mais de 120
crianças mortas em 1 ano, a definições. Então, no que que nós começamos a mexer.
O Carlos Carderelli, João Assefi, o Telmo Cruz, Renato Egidio, o Celso Prado, um
grupo talvez o Fuad Mogames, o Dr. Alberto, o Dr. Augusto, o Dr. Elias, que
nessa época ele já não era vivo. O Dr. Alberto e o Dr. Augusto, quando eu
cheguei aqui eu encontrava com eles, o Dr. João Perguarri, então, um grupo.
Trabalhando na Santa Casa, porque só tinha a Santa Casa, tava aí essa história,
então o Carlos Carderelli e eu, quando o Bene foi candidato oposto ao Luizinho
Máximo, nós escrevemos uma carta pra os dois, propondo uma série de medidas na
área da saúde pública etc. .... estrutura isso e que ambos responderam
quando... fossem eleitos iriam cuidar disso que a gente estava pedindo naquela
carta e o Bene foi eleito e no 3º ou 4º dia de mandato dele ele já me chamou.
Eu disse, Carlos vamos conversar com o prefeito, o que que nós fizemos.
Dividimos a cidade em 4 quadrantes em cada quadrante nós propusemos a criação
de um centro comunitário que tivesse no centro comunitário quadra de esporte
mais um ambulatório pelo menos de obstetrícia e pediatria porque nós
pensamos no seguinte.... quando tem uma
quadra tem uma criança quando tem uma criança a mãe grávida tá atrás dela.
Então a gente montou 4 quadrantes um postinho de atendimento materno infantil e
esse foi o começo da estrutura porque nem tinha SUS, não tinha INAMPS, mais
essa estrutura municipal foi criada pelo Bene e pode ser até que hoje tenha
algum resquício dessas coisas mais foi criada pelo Bene e na área de medicina,
nós influímos diretamente, eu cheguei a subir em caminhão pra dar aula de como
fazer mamadeira, como ferver a água, coisas desse tipo. Então o Carlinhos mexeu
bastante com obstetrícia, nós tínhamos até colposcópio, pra que a prefeitura
tivesse dinheiro o Bene me catou e nós fomos conversar com o ministério da
saúde em Brasília , pra que tivéssemos um pouco mais de suporte para esse
projeto. Eu precisei ir à câmara de vereadores mostrar o projeto para que os
vereadores votassem dinheiro para essas coisas, isso no 1º governo do Bene, o
2º eu não tava mais aqui. O segundo parece
que foi desastroso segundo falam, não por causa do Bene, mais por outras
razões.
P:Cesira- É uma outra realidade, um outro contexto.
P: Cesira- É também uma temática muito interessante pra ser
conversada e pra se buscar cada vez mais a memória a respeito disso pra gente
poder inclusive traçar um quadro inclusive do que foi a saúde, do quanto a saúde foi prioridade em alguns momentos, a
partir da iniciativa até mesmo do poder público e da classe médica que pensava
a respeito das minorias.
R:Dr.- Converse com o Carlos Carderelli, veja o João Assefi
fez escola de cirurgia aqui em Taubaté, ele formou gente aqui enquanto, você
vê, no tempo de colégio eu ajudava na cirurgia de João Assefi, sabe, como instrumentador,
por curiosidade, onde eu entrei nesse ambiente aí de medicina.
P:Cesira- E é um tema até pra gente tratar separadamente
desse encontro de hoje, desse momento que nós estamos trabalhando com as suas
memórias relativas inclusive ao que se
passou em torno e no interno do
casarão Paiva, é um tema muito importante que se faz necessário também que a
gente levante essas lembranças. Mais eu gostaria de pedir a sua opinião, dado
esse momento muito importante de atuação tanto de poder público, na personalidade
do professor Benedito Sérgio Lencioni e
da classe médica, como o senhor vê hoje, de modo geral a situação aqui...
(01:46:42)
R:Dr.- Não tenho informação clara, eu tô a muito pouco tempo
aqui, a minha especialidade me leva bastante pra fora daqui, então eu tô
chegando e estruturando uma casa, eu nem voltei pra sociedade médica daqui
ainda, não voltei. Acho que preciso voltar a ser da sociedade médica daqui e
começar a ter contato porque quando eu vim pra Jacareí, tinham 26 médicos só.
Depois que eu parei pra clínica e fui pra indústria, eu não tive mais contato
com os médicos de Jacareí a partir do momento em que.... o último contato que
eu tive com os médicos de Jacareí foi dentro da clínica Jacareí, que nós
fundamos e que poderia ter evoluído pra construção de um hospital mais não foi
e quando apareceu o Alvorada e o Alvorada foi construído, então foi um outro
grupo de médicos que chegou na cidade pra resolver o problema de hospital que
não a Santa Casa. Então... eu perdi contato e não tenho nem informação de
índices daqui hoje, não sei qual o índice de nati mortalidade não sei o índice
de mortalidade infantil, não sei qual é o índice de acidente de trabalho, de
doença profissional, não sei, a minha especialidade hoje, quer dizer, eu fiz
medicina ocupacional pra poder trabalhar na indústria química. Fiz o meu
mestrado em higiene industrial nos estados unidos exatamente pra trabalhar na
indústria química. Depois de aposentado é que eu fui pro Rio trabalhar na
FIOCRUZ que eu tenho essa especialidade hoje, então eu vou dar aula em Taubaté
e Mogi das Cruzes mais, fora disso, eu não conheço Jacareí no ponto de vista
médico.
P:Cesira- Então... provavelmente daqui alguns meses a gente
possa se encontrar de novo pra conversar sobre um anglo de saúde, a partir do
momento em que... daqui alguns meses que o senhor se adere mais à situação.
R:Dr.- Mesmo porque esse projeto que a gente tem pra Taubaté é uma coisa interessante porque nós
vamos criar um núcleo de excelência em saúde do trabalhador, lá na faculdade em
Taubaté, mais que vai atender a região inteira. (01:49:52) Empresas daqui...
prefeitura, todo mundo que precisar de alguma atuação de experts em medicina ocupacional, higiene industrial,
segurança, saúde do trabalhador, porque a saúde do trabalhador não é mais só ir
no ambulatório da fábrica, saúde do trabalhador é inseri-lo na comunidade onde
ele está, essa ampliação do conceito que as vezes as pessoas ainda se confundem
porque o trabalhador antes de ser trabalhador,
é cidadão. Ele é habitante da cidade, se eu não tenho esgoto
tratado aqui, com é que esse camarada
pode ser um bom trabalhador, onde for que seja, na construção civil ou em
empresa, o que for, se ele não tiver saúde básica na casa dele. Então, antes
ele ser um trabalhador ele é cidadão e
que a gente tem que cuidar desse aspecto. Eu não sei qual é o índice de
cobertura de esgoto de Jacareí. Eu não sei qual é o índice de cobertura da água
tratada.
P:Cesira- Esse enfoque da questão das memórias, nos leva
inclusive a isso, a fazer uma apreciação da sua experiência como cidadão como
profissional, são aspectos muito importantes pra história, pra biografia, muito
importante, mais eu lhe dizia, a gente poderia tratar desses aspectos, de
Jacareí, a nível de saúde.
R:Dr.- Dentro desse capítulo é convenientíssimo você
conversar com o Dr. Carlos Carderelli, conhece?
P:Cesira- Conheço.
R:Dr.- O Carlos é o médico mais antigo que tem em Jacareí
hoje. Tanto antigo em idade quanto antigo em tempo de serviço aqui. O Carlos
participou de várias fases aqui em Jacareí, é um camarada também tem uma
capacidade analítica muito boa, pensa pra caramba eu gosto muito do Carlos e
dentro desse projeto, de saúde etc., o Carlos é uma pessoa muito importante.
P: Cesira - Com o senhor, eu tenho que retomar uma questão
que eu tenho que finalizar, eu to tomando muito seu tempo. Mais tem uma questão
específica mesmo sobre essas memórias e o casarão Paiva, que já não existe
mais. E qual foi a sua posição a nível mesmo do que o senhor pensou a respeito
do momento ,em que foi decidido de vender o casarão e... ... eu não sei
exatamente quando foi vendido o casarão. Como foi isso.
R:Dr.- Olha, alguma nostalgia eu sinto, mais também, você
tem que admitir que uma residência naquele centro não cabia mais porque a minha mãe foi a última moradora da praça,
moradora residente.
Cesira- Até 1997, esse é um dado muito importante.
Dr.- nem o pessoal do José Carlos Cruz nem, ninguém. Talvez
o Artur de Moraes talvez... não, mais o Artur de Moraes já tinha morrido,
quando a minha mãe morreu o Artur de Moraes já tinha morrido, a minha mãe foi a
última mesmo. Claro que a decisão de venda foi tomada quase três nos depois que
a minha mãe tinha partido. Então... eu particularmente sinto alguma nostalgia, não creio que valesse
um tombamento histórico daquele patrimônio por causa de ser muito recente, por
que as casa mais antigas já tinham não sido conservadas. Então, renovação é
importante.
P: Cesira- Mais o senhor chegou a pensar nesse aspecto antes
da venda?
R:Dr. - Cheguei, cheguei mais, como tinham propriedades mais
antigas que também não tinham sido tombadas nem pelo município nem coisa
nenhuma. Uma coisa de 1924, é muito recente a na minha forma de ver. Tem coisa
mais importante que tinham que ser guardadas aqui e não foram.
P:Cesira- Mais o senhor encara com normalidade isso ou não
podemos pressupor que existe um processo
mesmo de perda desse patrimônio.
R:Dr.- Não posso julgar, isso é minha opinião por exemplo,
eu achei magnífico o que foi feito no grupo escolar Carlos Porto. A
transformação daquele prédio num museu, que obrigou a conservação do prédio.
Não sei como é que está hoje, mais é partido de uma pessoa que queria realmente
manter alguma coisa em termos de Jacareí, não pelo fato do museu mais pelo
prédio em si. (01:56:32) Como o Antonio Afonso foi completamente reformado,
reconstruído, sei lá.....
P:Cesira O Antonio Afonso foi demolido, na verdade, em 76
ele foi demolido.
R:Dr.- Então...o casarão que era o ginásio antigo poderia
ser uma coisa que o Estado poderia conservar como o Estado poderia ter
conservado o Grupão foi o município, não foi o Estado. O Estado que
transferiu...
P:Cesira- E dentro de todo esse percurso histórico
memorialístico num contexto sócio econômico político que o senhor me narrou,
hoje o senhor não vê a importância concreta, física das memórias e de todo esse
processo em que aquele espaço foi... do que existiu naquele espaço dentro do
casarão?
R:Dr.- Se eu entendi a sua pergunta... A atuação de quem
morou no casarão foi mais importante do que a manutenção de um prédio, que é um objeto. Eu quero crer que
o que foi gerado ali no ponto de vista social é mais importante do que a
manutenção de um prédio de 1924. Meu avô de uma certa forma apoiou a Santa
Casa, meu pai apoiou a Santa Casa, eu apoiei a Santa Casa. Isso é uma coisa que
pra nós enquanto cultura familiar é importante, o objeto não.
P: Cesira- Sim. Porque vocês possuem, o senhor mesmo afirma
que é cultura familiar de um alto valor
e em alguns momentos da nossa conversa o senhor também ressaltou a importância
como cidadão mesmo, como atividade, como atuação de cidadão. Sua mãe inclusive.
Apesar de o prédio ser de 1924, esses fatos, o senhor não concorda que são
significantes e poderiam ocupar esse exemplo de cidadania, essa cultura
política proveniente que o senhor tem, proveniente da sua família, que o senhor
recebeu como uma herança preciosa que é. O senhor não concorda que aquele
casarão poderia ser um símbolo, não de importância econômica pra família ou de
importância como objeto mais poderia ocupar um símbolo, deveria ocupar um espaço e ter um significado
que perpetuasse pra próximas gerações, visto que, é o último casarão, foi o
último casarão que existiu naquele centro histórico de Jacareí.
R:Dr.- Sim. Se eu entendi a sua colocação, volto a dizer pra
você. Pra nós enquanto nós, o legado cultural político é muito maior, e nós
temos isto como valor, é uma coisa que a gente tem enraizado, uma coisa chamado
integridade. (02:01:29) Tanto que os meus filhos dizem que eu os criei como
estes, o meu mais novinho tem quase 40 anos. Eles foram criados dentro de um
valor integridade, do valor herdado, do valor atenção com a sociedade e do
valor eu quero ser uma cidadão atuante. Eu quero fazer alguma diferença. Então
o objeto é menos importante pra nós do que isso.
P:Cesira- Sim pra sua família que possui já essa
integridade, essa cultura... A nível social o que o casarão poderia gerar.
R:Dr.- Por isso eu tô dizendo pra você que não seria o casarão.
P:Cesira- As pessoas. Não seria o casarão, mais o que o
casarão poderia gerar.
R:Dr.- Não. O que foi gerado de lá que é importante pra nós.
Isso é importante.
P:Cesira- É importante pra família e seria importante a
nível social e coletivo se permanecesse na memória através de um patrimônio de
cultura, patrimônio de civilidade de demonstração de cidadania através da
figura de seu pai, o senhor mesmo afirmou que ele não teve um reconhecimento. A
sua mãe tem o nome numa escola e um outro objeto ocupou....(02:03:01)
R:Dr.- Sim, e nem fez questão disso. Mais veja bem, mais não por ... eu
imagino que ela fosse grata aos alunos que encontravam com ela na rua e diziam
muito obrigado. Então pra ela como pro meu pai é muito mais importante isto.
Então esse é o valor que a gente tem. Você dizer assim. Um edifício ser um
símbolo disso pra nós é menos importante pra outra pessoas que não tem esta
coisa interiorizada desta maneira, você diz assim. Poderia ser um símbolo,
então nesse sentido eu colocaria um prédio público como símbolo, como o Grupão
, entendeu?
P:Cesira- Sim. Mais o Grupão já existe e conseguiu se
salvar. Através de um grupo, de iniciativa da sociedade civil, um grupo de
jovens que em 1976, 77 se reuniram e falaram. Basta as demolições, quando o prefeito Antonio Nunes de Moraes Junior
demoliu o colégio Antonio Afonso. Eles já previam o que ia acontecer na cidade
através da demolição da patrimônio público histórico Cultural.
R:Dr.- Então. Tomasse então esse grupo, fizesse um
inventário das coisas na cidade e dissesse, olha o casarão Paiva. Vocês por
favor fiquem. Ninguém fez isso. Não seria nós que iríamos chegar pro poder
público e dizer isto. Não seríamos nós, quem deveria ter tomado essa iniciativa
seria a sociedade e não a gente. Porque podia ser até mau interpretado, é ou
não é... A não vamos dar um fim pra essa casa aqui vai virar patrimônio
histórico, beleza. Até isso deveria ser pensado dentro de um primarismo que muitas vezes você tem dentro
da cidade. Só pra citar o primarismo.
P:Cesira- O senhor está excluindo a atuação do poder público
em salvo aguardar o que é patrimônio histórico cultural. O senhor está
excluindo. (02:05:53)
R:Dr.- Não o poder público deveria ter tomado esse tipo de
atitude que foi tomada segundo você, por gente que enfrentou o tanque aí. Basta
de demolição! Então pronto! Na ocasião, poderia ter sido feito um levantamento
dos prédios que poderiam ser um dia conservados enquanto, mais esse legado
cultural, talvez as pessoas nem tivessem conhecimento disto.
P:Cesira- Aí já depende de um projeto de... parte- se
primeiro do conhecimento dessa história e que realmente o senhor tem razão
quando o senhor diz que ninguém sabe. Então nós partimos do desconhecimento da
história...
R:Dr.- Então, se essa investigação que você está fazendo,
não estou dizendo de mim. Mais se essa investigação que você está fazendo,
tivesse sido feita, é possível que até a família inteira concordasse com a
idéia ponto final. Não vamos mexer aqui porque isso significa A, B, C, D..
P:Cesira- Patrimônio histórico cultural. (02:07:16)
R:Dr.- Muito mais cultural do que qualquer outra coisa. Mais
por atuação de cidadãos, só isso. Essa é a minha forma de ver.
P:Cesira- No caso do museu nós tivemos um grupo que se
mobilizou e que conseguiu através da compreensão e da cultura política do professor Benedito Sérgio
Lencioni a manutenção daquele patrimônio, no caso de outros... no início do
mandato dele. E existe toda uma história a respeito disso, cada imóvel, cada
patrimônio histórico cultural de Jacareí que foi demolido, que foi destruído,
que foi... cada um tem a sua história específica. No caso do casarão Paiva, se
o senhor me permite, eu acho de um extremo valor cultural, o casarão
Paiva, e aí eu narro rapidamente o porque do meu
interesse das memórias inclusive, que permeavam as relações sociais e vivências
no casarão Paiva porque, é um casarão que eu me lembro, eu tenho 44 anos e eu
me lembro desde a infância, do centro como era feito, que eu denomino centro
histórico de Jacareí e é uma denominação que a cidade desconhece. (02:09:05)
R:Dr.- Sim. Você classifica como centro histórico mais é
importante a gente reconhecer onde nasceu Jacareí na verdade.
P:Cesira- Sim. Mais é uma discussão historiográfica sobre a
história da cidade, no momento focalizando o casarão Paiva porque se eu partir
pra todas as outras discussões que eu vou ter que abordar, eu percebi nesse
percurso de entrevistas, no percurso de levantamento de dados, no percurso dos
arquivos que eu tenho porque eu sou cidadã Jacareiense apesar de ter morado
muito tempo fora o que eu percebi é que se eu não fizer isso, ninguém vai
fazer.
R:Dr.- Ninguém vai fazer, não tenha dúvida.
P:Cesira- Certo. O valioso trabalho do Benedito Sérgio
Lencioni, o valioso trabalho dos outros observadores, pensadores e escritores
da cidade. Eu reconheço e respeito muito, mais essas avaliações que eu estou
fazendo e que eu pretendo fazer, eu já percebi que se eu não fizer, ninguém vai
fazer. Porque com o Casarão Paiva eu tive um choque muito grande. Quando eu ...
porque eu sempre via ali uma placa de vende-se e eu tinha na minha cabeça
muitos projetos pra aquele casarão. Eu tinha projetos a nível de espaço
cultural, teatro municipal, desde 1979 a gente trabalhava com a ideia de criar
um espaço de teatro realmente em Jacareí. Não uma residência dos ferroviários
que se tornasse um espaço cultural com um palco. Nada disso, mais um espaço
cultural ou então uma biblioteca ou então qualquer atividade, uma galeria, um
espaço cultural com o nome por exemplo da sua mãe que era uma pessoa... com o
nome do seu pai, contando a história por exemplo do desenvolvimento econômico
de Jacareí porque ali dentro daquele casarão. Caberia a narração da história do
desenvolvimento econômico e parte de um período histórico que tem que ser
analisado, que tem que ser muito bem estudado e chegar até a atuação do senhor
Anibal como inovador, como empreendedor, então o Sr. Anibal teve na sua
atuação como um brilhante cidadão, na
atuação da família e todo esse contexto de atuação e cidadania no espaço
daquele casarão. Então, aquele casarão, ele tinha algo muito importante, ele
ocupava um espaço muito importante. Eu sempre tive essa vontade, de comprar
aquele casarão e transformá-lo até mesmo em atividades do período. Só que não
deu tempo de construir esse patrimônio e adquirir aquele casarão para
transformá-lo. Quando eu fui pra Itália em Janeiro, fiquei um mês e meio,
quando eu voltei, que eu olhei tinha um buraco. E eu falei pra pessoa que tava
comigo. Eu respirei e falei... Cadê o
casarão Paiva e todas as outra pessoas que eu fui perguntando como foi
demolido, como que foi demolido, as pessoas sempre diziam que casarão que é
esse. Qual casarão que você tá falando. (02:13:12) E eu percebi que o casarão
não ocupava mais espaço na cabeça das pessoas e aí é que eu achei que a perda
foi muito pior, porque as pessoas já perderam até a memória do que existia no
centro histórico. Isso pra mim foi uma perda muito grande, foi um choque. E eu
vou contar porque que eu passei a denominá-lo casarão Paiva e comecei a observar
o percurso, por exemplo do Sr. Anibal Paiva.
R:Dr.- Sim. mais você conhece alguma coisa do meu pai antes
de eu falar.....
P:Cesira- Aparece o nome do seu pai por exemplo, em alguns
documentos da Santa Casa de Misericórdia em alguma associação aparece exato.
Aparece o nome, então sempre ligados ao interesse coletivo da comunidade. Esse
perfil que o senhor me transmitiu hoje do seu pai eu já imaginava. Então eu
fiquei pensando. Além de patrimônio cultural arquitetônico, porque ele tinha
suas conotações arquitetônicas. Tinha outro cidadão Anibal.(02:15:06)
R:Dr.- Isso que a gente valoriza. Esse aspecto.
P:Cesira- Mais são aspectos no imaginário e na construção da
cultura de cada cidadão.
R:Dr.- Se você for comparar esse aspecto ao estilo de
construção da casa do coronel Leitão, é uma casa de fazenda, aquela escadaria
que sobe, aquele atriozinho antes da porta enorme ou o Grupão, ou esta casa
aqui que eu não sei se tá demolida ou não, da beira do rio do seu Otávio
Martins ou então a Vila Emília que onde hoje é um posto de gasolina na R. Lúcio
Malta.
P:Cesira- São muitos Dr. Celso, são muitos. Hoje
especificamente, desse assunto com o senhor eu tenho certeza que tenho que
tratar especificamente do casarão Paiva. Então são tantos como lhe disse, são
tantos patrimônios e cada um possui a sua história particular, agora quando eu
cheguei a comentar no âmbito da minha família o que tinha acontecido com o
casarão, a minha tia me disse, antes de eu falar casarão Paiva eu disse sabe
aquele casarão que fica ali do lado da droga quinze, que na verdade chegou só o
do Jarbas, que eu vou correr para tentar salvar. Já estou correndo pra tentar
salvar só que, em todo aquele espaço do
centro, sobrou só o do Jarbas. Então quando eu
comentei a respeito a minha tia disse, a minha tia tem 84 anos.
Pascoalina Alberigi ela se chama, irmã da minha mãe, imediatamente ela me
disse, o casarão do seu Anibal Paiva?....
R:Dr.- Bom, ela conhece.
P:Cesira- Ela tem 86 anos, então isso foi uma coisa muito
forte, me tocou muito de saber que, permeia esse casarão. Aparece na história
dessa cidade. Presente na memória de algumas pessoas e por isso o interesse
inclusive de conhecer as memórias que permeiam o Casarão Paiva. Eu lhe digo
isso porque... eu acho que os espaços públicos que eu considero como patrimônio
histórico cultural da cidade, eles deveriam ter uma proteção, uma tutela, um
tratamento mais cuidadoso da parte política cultural. (02:17:59)
R:Dr. - Pois é . Não seriamos nós que iríamos levantar essa
bandeira. Olha, a importância da nossa casa, pra Jacareí pelas idéias que foram
geradas aqui pelas consequências da implementação dessas idéias. Ela é
importante porque você tá vendo isso de um contexto, isso não é cultura da sua
família só. É cultura da sua geração da sua ascendência italiana etc. Como a
minha é de Portugal, porque, se você, não teria que a família chegar lá e
dizer, puxa, criaram uma situação aqui, podia-se fazer um espaço cultural aqui
ou um teatro. Cairia perfeitamente bem um teatro municipal no espaço da
garagem.
P:Cesira- Sim. Na minha adolescência eu sonhava um teatro,
uma biblioteca e eu não conhecia, não tive o prazer de conhecer, não tive essa
alegria de conhecer, eu imaginava a biblioteca no andar de cima com as sacadas,
biblioteca, oficina de cultura, isso tudo pra criar, pra gente ter atualmente e
pras próximas gerações terem aí um contexto humano do centro histórico.
(02:19:53)
R:Dr.- Dentro dessa ideia, só o pátio interno seria um local
de aula de pintura ao ar livre. Fantástico. Uma área externa aberta, só ali
seria um lugar de aula de pintura extraordinário, com luz natural e tudo.(02:20:06)
P:Cesira- A nível de historicidade, como eu pensava nessa
atividade. Como eu relacionava uma atividade histórica que a gente pudesse perpetuar e guarnecer mais de
conhecimento histórico pra cidade. Eu imaginava até mesmo o próprio casarão
Paiva contando a história, essa história que o senhor disse, qual será que foi
o 1º centro histórico, que daí é outro assunto que daí a gente teria que ter
mais tantas horas pra conversar a respeito. Mais eu imaginava o casarão Paiva
como sendo o último, penúltimo, aí sobrou só o sobrado do Jarbas. Eu imaginava
esse casarão fazendo essa transmissão da história da cidade. Então teria também
essa função, a ideia do 1º centro histórico da cidade que foi a partir do largo
do Riachuelo, depois a mudança desse centro histórico para a região da ferrovia
e depois o que aconteceu até mesmo nos últimos anos em termos de transformação
e essa presença do casarão Paiva já seria muito importante porque é um legado
pra se criar essa noção histórica. Isso que o senhor contou hoje já foi muito
emocionante, saber que aquela casa tinha todo esse potencial.
R:Dr.- Teve, eu concordo com você nesse aspecto. Agora é
como eu disse, você pensa que a gente não pensou, não com essa grandiosidade.
P:Cesira- Eu acho que o senhor pensou, hoje eu tive o prazer
de conhecer, eu acho que o senhor pensou sim.
R:Dr.- Nós todos, os netos...
P:Cesira- Eu cheguei um ano atrasada porque foi vendido
quando... demolido foi em Janeiro, foi exatamente quando eu saí, eu saí,
viajei, quando eu voltei, tava demolido não tinha mais nenhuma casa lá, sobrou
um azulejo só na parede, não sei se da cozinha ou banheiro.
R:Dr. - Um dos azulejos, mais é de Portugal-(02:22:53) Pra
ser um espaço cultural menos importante ou o que seja.
P:Cesira- Ele,até porque sobrou ali, durante um tempo que
ficou com a família, ele ficou ali porque é recente isso. Eu não sabia que a
sua mãe tinha falecido em 1997. É muito recente isso.
R:Dr.- Mais ela também falava de doação, ela também falava
nisso, e nós, o os netos, e bisnetos, mais aconteceu .
P:Cesira- Nós tocamos em dois pontos, o Dr. falou de um
ponto que ele acha que teria que partir de uma iniciativa da sociedade, em
reivindicar aquele espaço, como espaço histórico cultural.
R:Dr.- Isso não aconteceu.
P:Cesira - Não aconteceu porque ninguém pensou a respeito,
eu digo realmente que cheguei atrasada nesse processo no sentido de.
R:Dr.- Você podia catalisar isso tudo, você até poderia
catalisar esse esforço, despertar a consciência da comunidade.
P:Cesira- Eu, sinceramente, objetivamente eu teria pedido
junto à promotoria e junto ao CONDEPHAAT uma averiguação pra um possível....
R:Dr- Pois é, mais você não estava aqui, claro que a gente
iria ponderar essa coisa toda, claro, qual era o interesse nosso.
P:Cesira- O proprietário não tem que necessariamente ter
prejuízo com essas situações, existem muitas vantagens. Vamos dizer, a lei dá
muitas possibilidades pro poder público trabalhar junto ao proprietário pra que
ninguém tenha prejuízo, porque pro poder público e pra população com certeza é
um lucro, é um investimento em cultura política, política cultural.
R:Dr.- Todo aquele quarteirão. Eu falei pra você que meu avô
tinha casa na rua 1º de março, com é que é, é Igreja São José ali né, Eliana.
Lá no Rio, na rua 1º de março, é a Igreja de São José aquela, então é Igreja do
Carmo, tá bom. Todo aquele correr de casa ali, da Igreja do Carmo até quase a
esquina com a Avenida Presidente Vargas, a casa do meu avô é naquele correr
ali. Todo aquele quarteirão foi tombado, na esquina onde era o prédio do
correio, etc. Então a antiga casa do meu avô que ficou lá foi tombada junto com
todas as outras mais não era mais nossa porque o meu avô vendeu a casa quando
veio pra fazenda.
P:Cesira- Existem vários aspectos legais a serem observados
nisso, mais eu acho que 2 pontos importantes que nós chegamos aqui como conclusão,
uma foi a que o senhor colocou, que a população deveria reivindicar esse espaço
e, não ausentando eu coloco outro ponto que é relativo à participação a
presença e a atuação do poder público nisso, que dependeria de uma cultura
política cultural de preservacionismo, de patrimônio histórico cultural em
todos os sentidos. (02:27:17)
R:Dr.- É por isso que eu volto a dizer pra você, não cabia à
gente sugerir, e se, se fosse sugerido, eu tenho uma experiência muito
frustrante enquanto presidente do trianon. Olha bem os parâmetros que eu tô
querendo colocar. Isso é (xxxx) tá ligado ali?
P:Cesira- O senhor quer que desligue? Ou depois eu tiro.
R:Dr.- Depois você tira então, veja bem uma coisa, quando eu
fui presidente do trianon eu lutei muito muito com, eu não vou nem chamar de
conservadorismo, eu vou chamar de medo de mudanças, porque, trianon, todo mundo
já em 1980, a gente já sabia que o destino dos clubes, se não mudasse, iria
ser, acabar. Porque começaram a surgir nas capitais, os condomínios fechados,
com estruturas clubisticas específicas pra aquele pequeno feudo. Esse era o
cenário em 1980. Então, o que que eu propus, pro trianon, 1º que ele fosse
transformado numa sociedade de títulos patrimoniais, coisa que não era. E se o
trianon acabar hoje, o título ainda reza que vai ser doado pra uma instituição
de caridade. Nessa época tinham cinco mil sócios no trianon, nessa época . O
que que eu propus. Gente, vamos transformar o clube em título patrimonial, cada
um dos cinco mil sócios vai ter um título de propriedade do clube, o que que
nós vamos fazer, vamos pegar essa sede aqui da cidade e vamos transformar isso
em fonte de renda automática pro clube, da seguinte maneira. O salão de baixo
vai pra lojas americanas, que tinha interesse, o salão de cima pode ser transformado
nu mini-shopping center com várias...., o restaurante em baixo com mezanino e
restaurante mesmo, a quadra de esportes lá embaixo seria um supermercado que
tinha na Ramira Cabral, então aquilo ia ser uma fonte de renda pro trianon
constante. Esta sede aqui, receberia a
sede social e veja, mais importante ainda, o prefeito de Igaratá chegou
pra mim e disse. (02:30:27) O Celso você quer um terreno na beira da barragem
pra você fazer a sede náutica do
trianon? Eu disse: quero sim, vou mais profundo, você quer dinheiro da Embratur
pra criar esta sede?-Quero, em quanto tempo nos vamos pagar, em 35 anos, só que
tem uma coisa que eu quero que você aceite. Eu vou construir um motel vizinho
do teu clube e eu te dou o terreno, esse terreno não é meu, é da prefeitura. Eu
vou construir o motel com recursos da Embratur, pra que o hóspede do motel
possa frequentar a tua sede náutica, eu disse é já, e armamos todo esse
esquema, o conselho não deixou passar o 1º passo do projeto que era
transformação em título patrimonial. As pessoas diziam, nossa vai gastar muito
dinheiro. Eu disse, não ninguém vai comprar título, vocês vão receber o título
da seguinte maneira. O sócio de 1934 que pagou sempre a mensalidade já
contribuiu com X de dinheiro, se o título do trianon tem um patrimônio de cinco
milhões de dólares, dividido por cinco mil sócios, dá mil dólares pra cada um,
não é só isso, não é o valor do título hoje? Então vamos dizer, se quem
contribuiu de 34 a 1980 já pagou mil dólares a muito tempo, quem entrou em 75,
vai pagar em relação a mil dólares os cinco anos que ele ainda resta pagar.
Então que era mais nova ia pagar mais quem era mais velho tinha o direito de já
ter recolhido. Com isso ia levantar a sede social aqui, da seguinte maneira: 3
andares administração, teatro, biblioteca, boate, o grande salão festivo, salão
enorme todo cercado, projeto do Walter Schults. Você conheceu o Walter Schults
ele foi arquiteto, já morreu. O Walter bolou uma coisa majestosa, aquela
entrada de carro bacana, aproveitando um declive natural que tinha, quer dizer,
uma coisa linda mais talvez 25 anos na frente da mentalidade do conselho do
trianon, então pensou. (02:33:11) Isso em 1980. Agora é que estão falando,
depois que perderam a sede é que estão falando em talvez, os 500 sócios que tem
hoje, eu fiz questão de não sair né, daqui, os 500 que estão aí estão falando
nisso agora. Em virar agora, título patrimonial pras pessoas tomarem o cuidado,
ah temos, que virar aqui como uma espécie de condomínio, eu digo. Perfeito.
Façam, eu tive essa idéia a 30 anos atrás. Não, apenas pra ilustrar. Que tipo
de colonização que nós tivemos e que,
talvez tenha sido até parte daquela pasmaceira que Jacareí, segundo papai
passou 15 anos sem construir uma casa aqui, não sei de quando a quando mais
foi. Quero crer que seja de 1935 até 50 quando a dutra começou; as indústrias
começaram a chegar aqui. Sei lá. Mais é uma mentalidade que você vai ter que
combater e muito, a mesma mentalidade que eu encontrei, o primeiro médico a
fazer diálise peritoneal aqui em Jacareí fui eu, pode? Quando a diálise
peritoneal já estava instalada no Brasil a 20 anos ou mais. Coisas que....
P:Cesira- É, a mesma situação dos sítios arqueológicos, o
senhor tem conhecimento?
R:Dr.- Não tenho, perderam-se um monte de coisas então. ..
P:Cesira- Não, eles recolheram. Utilizaram a metodologia
arqueológica de modo incorreto. Foram lá, assim que apareceram as primeiras
peças e eles recolheram tudo de arqueologia do município...
R:Dr.- Quem, eles quem, o Estado ou o Município, quem é
arqueologista aqui por exemplo.
P:Cesira- Aí tem toda uma hierarquia...
R:Dr.- Mais, tem um núcleo de pessoas aqui?
P:Cesira- Existe, existe um departamento que se chama
departamento do patrimônio histórico cultural. Então dentro desse departamento
existe uma pessoa que responde por tudo o que é patrimônio histórico cultural
da cidade. (02:36:08)
R:Dr.- Sim, é como se fosse um secretário de Estado, é isso
mais ou menos?
P:Cesira- É um diretor que cuida dessa parte, que deveria
ter cuidado do seu casarão na época....
R:Dr.- É que o casarão teve disponível...
P:Cesira- Eles alegam, dentro de uma leitura assintória, se
você olhar só a casa, não tem valor como patrimônio mais dentro de todo esse
contexto que o senhor me narrou hoje, dentro do contexto histórico que nós
podemos utilizar aquele objeto pra trabalhar até mesmo a historiografia, a
história da cidade e mais, dentro desse contexto teve valor sim. Então a
análise deles foi essa, de que aquele, até porque foi o último, ele está no
coração do que sobrou no centro histórico de Jacareí. Então a avaliação deles
dentro das prioridades que eles tem é de que não tinha valor nenhum.
R:Dr.- Então, falado.
P:Cesira- Sim, mais foi exatamente a atitude que eles
tomaram com relação a outros prédios da cidade, essas avaliações apesar de
partirem de autoridade ou pessoas que fazem parte de uma hierarquia dentro do
poder público, nós temos que ter uma condição pelo museu que trabalha na área
de história, com pesquisa histórica pra eu ter uma análise particular minha a respeito
disso. Então com todo respeito que eu tenho aos arqueólogos, aos antropólogos
ou aos engenheiros, arquitetos que trabalham nesse lugar. Mais eu tenho uma avaliação minha.
R:Dr.- Ou aos pseudo intelectuais que podem estar nesse
lugar também.
P:Cesira- Eu utilizo objetos que permeiam toda a memória.
R:Dr.- O termo pseudo intelectual pode caber, eu que estou
falando, não é você, eu que estou falando, pseudo intelectual. O indivíduo que
não é sensível a essas coisas, pergunta pro Bene as conversas que a mamãe teve
com o Bene nas visitas que o Bene fez à nossa casa. Pode perguntar, e perguntar
pra Eliana. A Eliana casou comigo esse tempo todo e viveu uma parte da presença
do meu pai e da minha mãe, (02:38:57) dos meus parentes e irmãos e você ouviu
dela, até os netos, até os netos, você ouviu, então quer dizer, é uma coisa
que, circulou lá dentro. Mais não houve a necessária resposta por quem de
direito. A Ludmila Muxagata é uma que também tava falando; o que eu disse a
você, ela entrevistou o meu pai sobre outros aspectos da vida de Jacareí
também. Mesma coisa, a Ludmila não mora mais aqui mais de qualquer maneira a
idéia sempre existiu, o que que a gente vai fazer. Eu acho bom a gente deixar
isso aqui pra prefeitura, não pensando num instituto como você estava pensando
mais num lugar que pudesse ser usado como cultural pela localização, e tudo
mais, não tinha ninguém interessado no
dinheiro que aquilo ia gerar porque nós todos temos a nossa vida e independente
de qualquer patrimônio ou alguma coisa.
P:Cesira- Mais em algum momento o senhor teve alguém da
prefeitura que o procurou pra tratar desse assunto?
R:Dr.- Não. Nunca, você quer ver uma coisa? Só o Bene,
quando eu estava morando no Rio, um site de Jacareí, tava com uma fotografia do
casarão. Sabia disso? O site de Jacareí tinha uma fotografia que é essa
fotografia que eu mostrei pra você.. Essas que vocês têm.]
P:Cesira- Então. Como que um profissional pode achar que tem
valor fotográfico pra colocar na mídia e não tem o valor real, porque que tem
valor virtual e não tem valor real.
R:Dr.- Eu acho que o site de Jacareí não era interessante, é
exatamente essa fotografia que eu te mostrei hoje.- Mais isso, eu vi isso
logo que fui pro Rio.
P:Cesira- Existe ainda alguma possibilidade de fazer algumas
coisas com relação àquele espaço, ali agora não tem mais o casarão mais existe
o espaço e que é um espaço central, no seio do centro e ele comporta
lembranças, ele comporta memórias e ele trás possibilidades de ocupação do
espaço daquele território com uma atitude que seja relativa à sociedade, a
evolução.
R:Dr.- Sim, mais o trianon vai ser isso?
P:Cesira- Não, o trianon é outra coisa, é esportes, é
natação.
R:Dr.- O salão de baixo e o salão de cima, eles têm espaço
pra cultura...
P:Cesira- Jacareí tem várias possibilidades de trabalhar a
cultura, inclusive aquele espaço da oficina de artes. Tudo ali ou tudo na
estação. O senhor sabe o que eles fizeram com a estação também. Lá na estação
ferroviária, tudo aquilo ali como centro histórico, tem que ser considerado
todo o conjunto arquitetônico, histórico ferroviário. Representando exatamente
o que ele é...
R:Dr.- Sem mudar.
P:Cesira- Então, o galpão da estação a própria... gare, a
própria estação ferroviária, então como não existe essa concepção eles tratam
tudo como depósitos de coisas, eles colocam tudo no mesmo lugar, eles colocam
lá todos os instrumentos musicais dentro da estação ferroviária que tem um piso
muito maravilhoso, ele tem um legitimidade enquanto objeto. Eles guardam
instrumentos, eles guardam cadeiras, eles guardam mesa, porque no sábado a
bandinha, a orquestra tem que tocar da praça, ali no meio dos carros, onde todo
mundo passa, a orquestra toca ali porque as pessoas têm que ver que eles estão
tocando música na praça, então o espaço é absorvido desse modo.
R:Dr.- Você vê, eu também viajo muito que nem você. Eu viajo
muito. Viagem que eu digo é viagem...
P:Cesira- Mental.
R:Dr.- Suposições. É o que eu falei pra você, a garagem
daria um teatro de arena fantástico. Bom, mais agora vocês vão ter que
conversar é com quem comprou aquilo lá.
P:Cesira- Na verdade doutor, eu vou procurar um modo mais
indicado. Se ainda há tempo de fazer algumas coisas pelo espaço. Foi a Marabrás
que comprou.
R:Dr.- Não sei. Eu juro por Deus que não sei. O que tocava
no documento não era Marabrás, era outra coisa. Talvez Marabrás seja um nome
fantasia, mais não era esse nome. O dia do negócio eu fui lá assinei, a Eliana
assinou e pronto. Eu vim do Rio, pronto.
P:Cesira- É, mais quem responde agora por aquele terreno é a
Marsbrás. Então imagina-se que o projeto ali seja de construção de uma grande
loja da Marabrás.
R:Dr.- É o que eu imagino.
P:Cesira- Então eu acho que ainda dá tempo de...
R:Dr- Então porque que tá parado ainda aquilo lá, não
construíram ainda.
P:Cesira- Não consegui esses detalhes, eles não dão, eles
dizem que tem um projeto de construção ali.
R:Dr.- Quando vier ser ninguém sabe...
P:Cesira- Alguém sabe, mais eu não posso saber.
R:Dr.- A orientação é do negócio e pronto. Sei lá, eu não
tenho a menor idéia. Não sei quem são as pessoas, no dia de assinatura no
cartório lá em São Paulo eu fui assinei e imediatamente saí e fui embora.
Talvez a minha atitude de não querer saber esteja ligada até a essa coisa meio
nostalgica que eu ti falei. Tipo. Se eu esquecer não dói, se eu me destacar um
pouquinho não dói e pronto. Não sei, não posso garantir. (02:46:58)
P:Cesira- Agora alguma atitude que eu tome no sentido de
tentar...de uma tentativa de resgate, reaproveitação do espaço a nível, com objetivos culturais, o senhor
teria um posicionamento frente a isso ou não?
R:Dr.- Eu teria que concordar. Sim, mais eu digo...
P:Cesira- Não, necessariamente não. O senhor pode dizer, pra
mim é indiferente, o senhor pode dizer, não, eu não tenho nada a ver com isso.
Eu quero o posicionamento seu com relação...
R:Dr.- O posicionamento meu, em tese é sempre a favor de
melhorar o nível cultural de Jacareí. Eu vivi com isso no ponto de vista
técnico enquanto médico, porque até uma escola de enfermagem nós conseguimos
projetar e começar a desenvolver dentro da Santa Casa porque com nós, os mais
jovens íamos dar aulas teóricas e práticas e o SENAC de Taubaté porque em São
José não tinha. O SENAC de Taubaté iria reconhecer esse curso e dar os
diplomas, isso do nosso lado. Junto da administração da Santa Casa nós pedimos
o seguinte:- Quem fizer esses cursos que nós vamos dar vai ter que ter um plano
de carreira aqui dentro, vai ter um plano de carreira porque quem foi fazer
auxiliar de enfermagem se ela passar pra isso e pra aquilo, nós não íamos fazer
uma escola superior de enfermagem porque não tinha cabimento. Mais até
atendente e auxiliar de enfermagem a gente podia fazer via SENAC com diploma
reconhecido lá. Sabe o que que o então provedor da Santa Casa falou? Nessa
época tava começando a se desenvolver aqui o Hospital Alvorada e o Hospital
Policlin. Sabe o que que esse indivíduo falou? - Eu não quero escola nenhuma
aqui pra gerar mão de obra pro meu concorrente. Foi essa a resposta. Eu peguei
a minha pasta, fechei e até logo, passe bem. Claro que ia gerar mão de obra,
pra todo mundo, pra evitar... Eu saí da Santa Casa por uma das razões foi essa
mesma, porque as meninas lá eram, estágios inter fábricas. Trabalhava numa
fábrica, era despedida e ia pra Santa Casa pra ser auxiliar de enfermagem ou
atendente. Até conseguir emprego em outra fábrica. Eu chamava de estágio inter
fábrica porque elas achavam que bactéria era do tamanho de barata pra cima,
(02:50:15) se pegava a criança naquele berçário de desidratados pegava uma
enfermeira que limpava o coco de uma criança com uma infecção intestinal, não
lavava as mãos e ai dar mamadeira pra outra__ Entendeu, uma criança com
Hepatite, o administrador da Santa Casa, aqui nós não temos isolamento. Então o
senhor põe onde o senhor quiser essa criança. Eu trouxe aqui pra casa, até
conseguir vaga em São Paulo. É esse nível, não tem que melhorar? Tem que
melhorar. É uma cidade... A Eliana outro dia tava brigando aqui porque os
ônibus da cidade de Jacareí não tem aquela cordinha pra você dar sinal pro motorista
parar no ponto que você quer. Se você tá no fim do ônibus, com o ônibus
cheíssimo, você tem que ir até o começo da direção do ônibus pra dar sinal pra
parar, pode? E aos trancos e barrancos. A quem a gente deve essa herança? Às
migrações internas, não. Pois é, eu tô agora sendo cínico de propósito, eu tô
mostrando pra você que tem outras coisas aqui que é complicado. Se tem Santa
Casa num aspecto técnico como se tem clube que é uma sede social. O que permeia
é um negócio complicado. É claro que o ponto de virada em São José dos Campos foi o C. T. A. . E o C.
T. A. era, o supra sumo da inteligência nacional tava dentro do C. T. A.. Então
trouxe pra São José dos Campos gente que pensa e gente que sabia da existência
das coisas e começou a exigir serviços. Você pegas o Sobral e o Sobral fez
projetos até hoje os caras estão tocando. O projeto urbanístico de São José dos
Campos. Então chamou a atenção, o micro-clima de São José é muito melhor do que
aqui. Então você pega um micro-clima que favorece a construção civil que tem
ferro, que oxida menos do que Jacareí você já vê. Até isso tem importância.
Porque a G. M. foi pra lá, porque as outras foram pra lá. Exatamente por causa
do C. T. A. Chamou a atenção de São José dos Campos. Olha eu sou do tempo que São
José dos Campos, o pessoal passava de trem por causa da colônia de tuberculose,
tinha tratamento por causa do micro-clima, as pessoas fechavam o vidro do trem pra não respirar o mesma da tuberculose. Minha avó Silvia, não namore
ninguém de São José dos Campos porque o namorado pode ter tuberculose ou
família de tuberculoso. E São José agora é o centro da região e com muito
mérito.
P:Cesira- Dr. Paiva eu agradeço muito a sua participação.
R:Dr.- Disponha, foi uma tarde muito gostosa pra mim embora
com reminiscências e ataque de nostalgia, ataque de saudosismo etc. Foi pra mim
muito proveitosa e eu quero deixar bem claro pra você, que você está numa luta
que vai te dar muito trabalho muita preocupação, mais você é uma pessoa muito
corajosa, independente de ter o nível cultural que você tem, (02:55:06) o nível
educacional que você tem. Você é uma pessoa muito corajosa. Eu não vou dizer
que seria quixotesca a sua atitude, não é. E uma atitude corajosa leal .
Quixote é virtual, é sonho, é isso e aquilo. Mais você tá num caminho muito
importante, muito bom e a cidade tem que te agradecer muito. A cidade. Eu
particularmente, claro. Mais a cidade também. Sem dúvida, e no que depender do
que eventualmente eu possa fazer, por favor. Chame.
P:Cesira- Eu lhe agradeço. Foi muito interessante essa
tardde.
R:Dr.- Foi gostosa, pra mim. Porque gosto não tem tamanho o
que é a emoção não tem tamanho, lógica a gente vive por aí mais quando a emoção
toca a coisa flui, foi bem. Então eu gostei, eu não achei boa, o objetivo é gostosa,
é emocional. Bom. Isso é ótimo.
P:Cesira- Boas emoções.
R:Dr.- Sem dúvida. Eu espero que possa ter traduzido alguma
coisa estruturada.
P:Cesira- Eu agradeço muito.
R:Dr.- Disponha .
(02:57:08)
Um comentário:
Minha vó também fez parte desta história, Laura Paiva bonilha, você não a reconhece na sua história, mais ela fez parte.
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