Solar Gomes Leitão
Escadaria interna Solar Gomes Leitão
Osmar de Almeida fala sobre a criação do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba:
“...acho que o importante a falar sobre a história do museu, acho que o fio condutor de toda história do museu é a participação popular. Na verdade tudo começou foi em 1976,...quando havia uma efervescência cultural em Jacareí. Fins de semana, teatro, concerto de jazz uma série de atividades que as pessoas participavam, então sempre depois dos espetáculos,ou até mesmo antes do cinema, é importante lembrar isso...no cine Rosário tinha o chamado cinemão toda sexta feira e era o cinema d e arte em que a gente assistia os filmes que passavam no cine Belas artes em São Paulo; então tínhamos muitas discussões. Nós tínhamos um grupo de pessoas que discutiam a questão da cultura na cidade. Antes do cinema, antes da meia noite, nas sextas feiras ...então havia uma efervescência cultural. E foi nesse clima que a gente começou a discutir uma coisa muito séria. A prefeitura na época havia derrubado o casarão em frente ao Museu, que era a Escola Antonio Afonso e o mesmo destino ameaçava a Escola Carlos Porto,.. Inclusive comentava-se na cidade que aquele prédio era velho e que ia ser derrubado como o outro. Então começamos a discutir a possibilidade de salvar aquele prédio....a canção do Milton Nascimento que falou: nada de novo que não se discuta na mesa de um bar. Lembra daquela canção?...as discussões surgiram em volta da mesa de um bar chamado Xodó, que havia na esquina do Rosário, ali em frente da loja Riachuelo....Então ali começamos a discutir sobre o que fazer com o nosso patrimônio cultural. Daí que surgiu a idéia de se fazer um museu no lugar para salvar o prédio.
Ninguém tinha uma idéia de como seria um museu. Mas aí estive em São Paulo no Museu de Arqueologia da USP, e vendo aquelas exposições de arqueologia, eu pensei se nós poderíamos ter em Jacareí um Museu que contasse a história pensando muito na questão arqueológica da região. ...Quando nós fizemos nossa primeira reunião, que definitivamente o grupo se decidiu a lutar pelo museu. Foi no dia 26 de fevereiro de 1977, às 6 horas da tarde, sábado, na casa da Maria Lucia Sant’Ana.
É importante colocar o contexto histórico da questão também, quem havia assumido a prefeitura em janeiro foi o professor Benedicto Sergio Lencioni, que havia sido nosso professor literalmente. Então, nós o convidamos. Uma das pessoas que fazia parte do grupo era a professora Maria Lúcia Sant’Ana, ela era bastante amiga do professor e o convidou para participar dessa reunião, que nós fizemos informalmente na casa dela....Posso citar algumas pessoas que participaram:...Hebe Esper, Silvia Esteves Mintelovsky, Stanislau da Silva Salles, Odair de D. Pinto, (Ayrton começou a participar em novembro de 1977). Agente não sabia bem como fazer...o Stan sugeriu que nós procurássemos em São Paulo a museóloga Waldisa Russio Camargo Guarnieri que era a maior autoridade da época em assunto de museologia do país. E nesse primeiro dia já se discutia com as duas advogadas que participavam a Maria Honória e Alcebildes Lague, que nós fizéssemos essa fundação.
...A Doutora Waldisa era coordenadora do curso de museologia e Pós-Graduação da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e membro do Comitê Internacional de Museus da Unesco em Paris do ICOM. Conversando com a Waldisa ela me disse: ...Bom, o quê vocês querem é fazer um Museu de Antropologia do Vale do Paraíba. Ela começou a dar diretrizes do que seria esse museu. Ela sugeriu que nós deveríamos criar um SETOR DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO, o SEPEDOC, para que desse origem a esse museu. Isso foi muito importante porque o SEPEDOC foi a origem desse museu. Waldisa estava implantando na época o Museu da Indústria de São Paulo e ela se encantou com a história industrial... de Jacareí e do Vale do Paraíba. No dia 25 de agosto de 77 fizemos uma reunião... e apresentamos o projeto ao Diretor de Cultura na época que era o irmão do prefeito, o Frederico Lencioni,...ele se entusiasmou demais, achou interessante a idéia. E foi nesse mesmo ano de 77 que nós apresentamos a proposta ao prefeito... esse grupo se reunia toda semana no Salão Nobre da Prefeitura para discutir como seria o Museu de Antropologia do Vale do Paraíba... e a Waldisa orientando o projeto,... e é importante salientar isso , o Benedicto Sérgio Lencioni deu todo apoio ao projeto e liberdade para que o grupo discutisse o que deveria fazer. Foi até interessante que ele convidou mais três pessoas: Osiris Médici, Luís José Navarro da Cruz que tem um trabalho de preservação de fotografias...Romeu Cime Junior de Taubaté. Eu convidei o arquiteto José Roberto Naves Silva e o irmão dele o Ayrton Vinícius Naves Silva.
Abaixo, fotos da Professora Museóloga, mentora da criação e escolha do nome do MAVP - Museu de Antropologia do Vale do Paraíba, Profª Waldisa Russio Camargo Guarnieri:
Waldísa Russio Camargo Guarnieri
Waldísa Russio Camargo Guarnieri
Waldísa Russio Camargo Guarnieri
Eu comecei a trabalhar em 78 no SEPEDOC, e o meu trabalho foi essencialmente... Organizar o quê seria a Fundação Cultural, uma interação com os advogados da prefeitura de como seria isso: Fundação Cultural de Direito Privado, Direito Público, ninguém sabia como funcionava isso direito. Nessa mesma época eles estavam fazendo terraplanagem do terreno do Santa Marina, então foram encontrados os sítios arqueológicos, eu recebi as primeiras peças no SEPEDOC. Começou a crescer tanto que a Waldisa sugeriu que alguém fizesse o curso de museologia e o grupo designou a Maria Lúcia Sant’Ana para fazer o curso. Eu continuei no SEPEDOC e a Waldisa orientando. Por exemplo: ela disse: o Museu tem que ter um departamento de arqueologia... Então era um dos objetivos do museu a pesquisa... Que deveria trabalhar com a questão da antropologia cultural. Não seria um museu saudosista. Nós consultávamos na época o professor Ulpiano Bezerra de Menezes, arqueólogo da USP, o professor Rui Gama que escreveu a história da Ciência no Brasil para que a gente pudesse ter mais orientações de como contar a questão antropologia e arqueológica. ... o nosso seria um museu de busca contando a história.é... como disse o historiador Orlando da Silva Bruno: da pior sociedade! Quer dizer, desde o simples homem que vivia no campo até o poderoso, não teria que contar a história só de um tipo de gente... Então essa linha guiava a criação do museu e houve embates. ... Um jornal comentou que o grupo do museu estava querendo implantar um museu... Que nós éramos comunistas,... Da esquerda... Querendo implantar um museu da pior sociedade. E que o prefeito deveria agir. Mas o Lencioni deu total apoio ao projeto.”(ALMEIDA, 2008)
Texto integral e imagens poderão ser apreciados no site:
http://www.patrimonioculturaljacarehy.com.br/
Temas referentes:
http://www.diariodejacarei.com.br/noticia/4171
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