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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Artigo de Osmar de Almeida sobre o MAV - Jornal Diário de Jacareí 19/01/2010

                                                                            Salão Superior Solar Gomes Leitão

MAV - FIM DE UM SONHO?




Quando em 1977 um grupo de cidadãos apresentou ao então prefeito Benedicto Sergio Lencioni a proposta de criação de um Museu em Jacareí, a fez com uma dupla visão – a de salvar um Patrimônio Histórico ameaçado de destruição, a exemplo de outros casarões históricos; e também de criar uma entidade que fosse absolutamente inovadora do ponto de vista museológico, fugindo do padrão tradicional dos museus histórico-pedagógicos vigentes na época.

Apoiado pela museóloga Waldisa Russio Camargo Guarnieri, membro do ICOM – Conselho Internacional de Museus da UNESCO e coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Museologia da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, desenvolveu-se o projeto de criação de um Museu com enfoque regional, colocando Jacareí na vanguarda de outras cidades que só pensavam em museus locais. Nasceu assim o MAV – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba. Orientado por Waldisa, para quem o Museu além de salvaguardar a herança cultural da região deveria ser também um lugar de aprendizagem, o grupo criou o Museu absolutamente inovador - um local onde se agregava o passado, mas que produzia conhecimento com uma perspectiva de futuro. Como premissa básica, definiu-se que o MAV seria “um espelho onde o Homem vale paraibano pudesse ver, refletir e posicionar-se sobre o futuro”. Todo esse embasamento está documentado no Estatuto da Fundação Cultural de Jacareí, criada em 1983 pelo Grupo de Estudos para Implantação do Museu em Jacareí, coordenado por mim com o apoio absoluto do então prefeito Benedicto Sergio Lencioni. Na esteira dessa idéia grandes projetos foram realizados. A criação do Núcleo de Arqueologia; o Núcleo de Pesquisa Histórica, composto por profissionais especializados que apoiados pelo IEV –Instituto de Estudos Valeparaibanos, levaram o MAV a uma projeção nacional de destaque no cenário da museologia, resultado este obtido com o trabalho científico desse grupo independente, que já na década de 80 apresentava alto grau de maturidade em suas propostas para a preservação do Patrimônio Cultural de Jacareí.

Trinta anos depois o que se vê, no entanto é algo totalmente diferente do que propuseram seus fundadores. Inexiste um corpo técnico (o Museu sequer tem um museólogo ou antropólogo e seu quadro de funcionários é escolhido por critérios políticos e ideológicos); inexistem linhas definidas ou alternadas de pesquisas historiográficas que apontem o “Museu” como referência, fonte e centro de historiografia vale paraibana, como previam seus Estatutos (aliás, ele nem possuí atualmente um estatuto... aparece agregado a Fundação Cultural atual como: “equipe do Museu”), assim como inexistem critérios museológicos no que se refere às exposições. O MAV tornou-se uma aberração, um monstrengo cultural, um verdadeiro “saco de gatos” onde tudo vale. Na ausência de um Centro Cultural com propostas definidas e alinhadas artisticamente e cientificamente,utiliza-se o MAV para as mais diversas atividades – de eventos esportivos a bailes de carnaval, com a alegação de que “tudo segue um contexto cultural e popular”. Baseados na idéia “o Museu é do povo” justificam até que existem “orientações de antropólogos” para tal política. Mas que antropólogo será esse que está dando conselhos e ocupando o lugar da ANTROPÓLOGA que fez de acordo com a Lei, o concurso da Prefeitura Municipal, passou e nunca foi chamada para assumir o seu cargo no Museu?

Na ausência dos critérios científicos com os quais o Museu foi criado podemos dizer com todas as letras: o MAV não existe. O que temos é um factóide, um arremedo de Museu, que não poderá continuar a ser chamado de Museu se não se adequar à nova legislação criada pelo Sistema Brasileiro de Museus.

Resta-nos a esperança de que os homens e políticos são passageiros, mas as grandes idéias permanecem. O Museu certamente não morrerá. Assim como a Fênix que renasce das cinzas, ele também sobreviverá e essa catástrofe que se abateu sobre ele na última década. Mas isso dependerá da maneira como nós, cidadãos, agiremos para salvaguardar nosso Patrimônio que foi criado pelo povo de Jacareí e que infelizmente está sendo destruído pela incúria de nossas autoridades.

Osmar de Almeida é professor de idiomas e fundador do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba.

Um comentário:

Cinthia Aizawa disse...

Muito relevante o artigo sobre o descaso com o MAV. Sou estudante de História da Arte pela Universidade Federal de São Paulo e quando fui ao museu à procura de estágio pude perceber o quão negligenciado ele se encontra, principalmente quanto ao setor educativo.
"Trabalho é o que não falta aqui!", disse um dos funcionários. "Quanto a remuneração, é outra história..."